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Morte ao Rei!

04/02/1910: morre Passannante, anarquista que quase matou o rei

"Com o chapéu do cozinheiro, Faremos uma Bandeira!", gritou o jovem poeta Giovanni Pascoli enquanto era preso

Giovanni Passannante, nascido em Salvia di Lucania em 9 de fevereiro de 1849, faleceu em 4 de fevereiro de 1910 Montelupo Fiorentino, uma comuna italiana da região da Toscana. Dentre as muitas coisas que ele foi, ficou famosos por ser um cozinheiro e anarquista que protagonizou o atentado malogrado contra a vida do rei Humberto I da Itália

Filho de Pasquale Passannante e Maria Fiore, foi o mais novo entre os dez filhos do casal, que viu quatro deles falecidos em idade precoce. Como grande parte das famílias camponesas da época, a pobreza de sua família o leva a ajudar seus pais em pequenos trabalhos, e mesmo frente ao forte desejo de frequentar a escola. Não podendo estudar nos primeiros anos de sua juventude, trabalhou como estivador em Potenza, como guarda de um depósito de grãos e foi ajudante de cozinha em uma taberna. 

Tempos depois, um capitão do exército, nascido em sua cidade natal, mas morador da região de Salerno, percebeu seu grande interesse nos estudos e ajudou-o. Servindo o capitão, que financiou seus estudos até sua conclusão, Passannante alternava suas leituras da Bíblia, com os jornais escritos por Giuseppe Mazzini.

Giovanni cresceu lendo os folhetins, panfletos e jornais que os republicanos produziam e espalharam pelo território onde vivia, entrando, assim, para o círculo mazziniano republicano. Em 1870 foi preso em Salerno por policiais enquanto colava manifestos e cartazes subversivos pelos muros da cidade. Sendo condenado a dois meses de prisão, tempo em que se tornou mais aguerrido em suas convicções revolucionárias e revoltado contra as condições atuais da monarquia, foi libertado e retornou para a casa de sua família na Sálvia. 

Pouco tempo depois, retornou a Potenza, agora para trabalhar como cozinheiro em um bar e restaurante. Em 1872 mudou-se para Salerno onde continuou a trabalhar como cozinheiro. 

Seu trabalho militante fez a sociedade manzinniana crescer rapidamente de 80 membros para mais de 200. Passannante passou a associar seus velhos ideais republicanos com a filosofia anarquista, e, finalmente, se mudou para Nápoles.

Desenvolvendo um sentimento extremamente repulsivo contra os monarquistas, o anarquista organizou no dia 17 de novembro de 1878, um ataque contra o rei Humberto I da Itália, da casa de Savoia.

O rei estava em visita por Nápoles e quando o cortejo real atingiu a altura do Largo della Carriera Grande, Passannante se aproximou da carruagem do monarca que atravessava o espaço entre a multidão. Fingindo de forma teatral que faria uma súplica ao monarca, saltou subitamente no degrau do veículo, retirando uma faca de cozinha de um pano vermelho e tentando atingir Humberto I, acabou errando pois o rei desviou na mesma hora. Levando a lâmina para o lado com o braço, o alvo do ataque teve apenas um corte superficial no braço, enquanto, o primeiro-ministro, Benedetto Cairoli, rapidamente agarrou Passannanete, sendo atingido profundamente na perna.

O anarquista levou um corte de sabre na cabeça do capitão da guarda real e foi imediatamente preso. Embora tivesse planejado sozinho o assassinato do rei, ele foi espancado e torturado para que entregasse outros supostos conspiradores – que, conforme ficou provado, não existiam.

Sobre os detalhes da tentativa assassinato, sabe-se que foi realizado com uma faca de aproximadamente oito centímetros, “boa apenas para fatiar maçãs” como disse, em interrogatório, o dono da loja onde o anarquista havia conseguido a arma em troca de um velho casaco. No lenço vermelho onde havia escondido a faca, Passannante havia escrito:

Morte al Rei, viva la Repubblica Universale, viva Orsini

Após a notícia do ataque se espalhar por todo o território, explodiram sentimentos de indignação opostos, de um lado, acarretando inúmeras marchas de protesto contra, mas também de grupos que faziam oposição ao rei e ao governo, realizando uma série de novas ações.

No dia seguinte, em 18 de novembro, anarquistas lançaram uma bomba contra uma marcha em favor do rei em Florença. Este segundo ataque causou a morte de três pessoas e feriu mais de dez. E na noite deste mesmo dia, em Pisa, o quartel de Pesaro foi incendiado por grupos libertários, somando-se aos outros muitos atos cometidos por toda a Itália em defesa do anarquista.

Reprodução da tentativa de assassinato

Foi relatado em uma reunião de apoiadores de inclinação socialista, na cidade de Bolonha, que o jovem poeta Giovanni Pascoli realizou uma leitura pública de seus versos Ode à Passannante. Enquanto lia e emocionava os presentes, também dentro deles haviam agentes da coroa que logo após sua declamação lhe deram voz de prisão. Ao receber a ordem Pascoli rasgou o papel onde escreveu os versos, e, de sua ode não restou nada além das duas últimas linhas, mantidas oralmente:

Com o chapéu do cozinheiro,

Faremos uma Bandeira!

A situação de revolta continuou na Itália, e, no dia 11 de dezembro de 1878 uma ordem do dia favorável ao governo foi votada e rejeitada por grande maioria da Câmara. Frente a esta derrota política, o primeiro-ministro Cairoli pediu demissão no dia seguinte. Apesar disso, a casa de Savóia permaneceria ainda por muitos anos no poder.

O juri construído pela corte, julgou o anarquista e o condenou à morte pela tentativa de assassinato. Contudo, o código penal previa a execução apenas nos casos em que o regicídio (assassinato contra o rei) se efetivava. Um decreto real de 29 de março de 1879, troca a execução pela prisão perpétua, que seria efetivada em Portoferraio, na ilha de Elba.

Desenho publicado em jornal da época reconstituindo o processo de Passannante

Passannante foi trancafiado em uma cela sem latrina, abaixo do nível do mar, vivendo em isolamento e acorrentado.

Passannante permanece enterrado vivo, na mais completa escuridão, em uma cela fétida situada abaixo do nível da água, sob a ação congregada da humidade e da escuridão, seu corpo perdeu todos os pelos, branco como cal e o carcereiro encarregado… de supervisioná-lo tem ordem categórica de nunca responder aos seus apelos, por mais que pareçam indispensáveis e angustiantes. Sr. Bertani… poderia dar mais notícias sobre este homem, esquelético, reduzido a ossos e pele, corroído, descolorido como a lama, forçado a ficar imóvel em uma alcova imunda, gritando com as mãos presas ao teto, sempre levantadas por uma corrente pesada que já não pode mais suportar por causa da extrema fraqueza de seus rins. O coitado chora e implora por ajuda sempre e tantas vezes que os marinheiros da ilha sempre o ouvem, ficam horrorizados.

— Salvatore Merlino, “A Itália como ela é”, 1891 in “Ao Café”, de Errico Malatesta, 1922

Expressando a podridão da Monarquia na Itália e em todos os lugares, as condições de detenção de Passannante foram objeto de denúncia de Augustin Bertani e da jornalista Anna Mozzoni Maria. E após dez anos de detenção, Giovanni Passannante, em 1889, foi libertado e submetido a uma perícia psiquiátrica, pelos professores Biffi e Tamburini, sendo declarado mentalmente insano e enviado ao manicômio judiciário de Montelupo Fiorentino por recomendação dos médicos, onde faleceu em 4 de fevereiro de 1910.

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