Há 80 anos, o povo soviético vencia a maior e mais sangrenta batalha da história. Foram mais de cinco meses de resistência popular contra o rolo compressor do exército nazista da Alemanha. A inédita velocidade dos avanços das tropas nazistas gerou assombro em nível mundial, pois em pouco tempo a Alemanha dominava a Europa quase que integralmente. O saldo de mortos, feridos, capturados ou desaparecidos foi de algo em torno de dois milhões de pessoas.
O ponto de inflexão da invasão da União Soviética marcou também a reviravolta no andamento da Segunda Guerra Mundial, com a Alemanha tendo que retroceder sucessivamente. Vale lembrar que os avanços militares dos norte-americanos e ingleses só vieram a acontecer bem depois do final da Batalha de Stalingrado. A derrota nazista nessa batalha mostrou para o mundo que era possível derrotar a máquina de guerra dos alemães, até então a vitória nazista despontava como o cenário mais provável.
O impacto dessa vitória foi tamanho que alguém tão medíocre como Stálin teve sua imagem reabilitada, ao ponto da revista norte-americana Time colocá-lo pela segunda vez na sua capa. Ao contrário da capa de 1939, que denunciava o pacto de não agressão assinado com Hitler, o título de “Homem do Ano” em 1943 foi dado ao burocrata num sentido positivo. Inclusive exagerando muito os méritos de Stálin. O fato é que os soviéticos derrotaram o nazismo apesar da falta de capacidade do seu ditador. Defendendo as próprias vidas, assim como os guerrilheiros espalhados pela Europa ocupada, os soviéticos foram desmontando o poder militar alemão, até a tomada de Berlin em 1945.
Na época dos acontecimentos, Carlos Drummond de Andrade registrou no poema Carta a Stalingrado esse sentimento que a vitória soviética espalhou mundo afora. Diante da desilusão que tomava conta da população, o povo soviético trouxe um novo alento. Destacamos alguns trechos desse belo poema:
“A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero”.
“Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
Saber que vigias, Stalingrado,
sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes
dá um enorme alento à alma desesperada
e ao coração que duvida”.“
“Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto resplandecente!
As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio”.“
“Uma criatura que não quer morrer e combate,
contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate,
e vence”.
“Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres,
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem”.
