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Sintomático

Desconfiança do imperialismo com contradições bolsonaristas crescem

Contradições do regime bolsonarista se acentuam de maneira cada vez mais dramática e preocupam imperialismo

Preocupada com a condução errática da política bolsonarista para a crise impulsionada pelo coronavírus, o imperialismo recorreu novamente ao famoso expediente do “especialista” para fazer propaganda de seus interesses políticos, ocultos por uma maquiagem de neutralidade técnica.

O escalado para isso n’O Globo é um velho conhecido dos brasileiros. Neoliberal de renome, Armínio Fraga volta e meia é tirado do merecido limbo para dar ares de seriedade a alguma picaretagem, recompensa pelos serviços prestados aos tubarões do capitalismo durante sua presidência do Banco Central a partir de 1999, quando, entre diversos ataques à economia nacional, subiu a taxa básica de juros a incríveis 45% ao ano. Não chega a ser espantoso a deferência dedicada pela burguesia a um de seus mais dedicados capatazes, a loucura mesmo é a esquerda não contextualizar o significado político deste artifício.

Na entrevista, Armínio Fraga defende, claro, o programa adotado pelo imperialismo para combater os efeitos da crise impulsionada pelo coronavírus, com um importante detalhe: enquanto nos países centrais do imperialismo os governos tomam medidas minimamente efetivas para iludir a população quanto a uma suposta preocupação deles com o povo, Fraga responde, sobre esta parte do programa, com abstrações do tipo “ajudar a população pobre”. Como? Os primeiros passos seriam “levar até as pessoas alimentos” (ração do Doria entraria nessa categoria?) e “zerar a fila do Bolsa Família e depois ampliar o programa” (em quantos reais?).

O segundo aspecto do programa seria o “crédito para as empresas”. A extensão dessa parte é emblemática de qual interesse está sendo priorizado nessa crise, tanto no lado bolsonarista quanto no lado da direita “palatável”, “democrática” ou qual eufemismo o cretinismo parlamentar esquerdista queira usar.

Evocando que “ainda bem, banco não gosta de emprestar dinheiro para perder”, Fraga defende linhas de crédito a fundo perdido bancadas pelo Estado para financiar empresas. Seu argumento segue afirmando que “salvar empregos e negócios” seria necessário por ser “uma questão também humanitária”, para enfim concluir que é preciso “dar um jeito de aguentar e ganhar tempo, o governo terá de ser solidário, as pessoas também.”

Quem lembrar da chamada República Velha comprando café e queimando durante a crise de 1929 precisa entender que a repetição da história não é mera coincidência. Os discursos propagados pela direita sobre rigorosa austeridade fiscal e economia livre da intervenção estatal são meros truísmos feitos para espalhar confusão. Nunca foram ditos para serem levados a sério. E hoje, no contexto de uma crise capitalista que se desenha para ser a pior já enfrentada pelo sistema, menos ainda.

Cumpre destacar que nesse ponto, o bolsonarismo está perfeitamente alinhado com os interesses imperialistas. Mas na medida em que precisa prestar contas a uma camada pequeno burguesa e mesmo a setores menores da burguesia nacional, afloram-se as contradições de um governo posto no poder para atender o imperialismo em primeiro lugar, mas sustentado politicamente sob uma base desesperada com a ideia de paralisação total pelo prazo de 12 a 18 meses (e com os impactos inevitáveis dessa medida aos negócios menos robustos), o que se traduz na dificuldade extrema de Bolsonaro em adotar o programa imperialista.

Nesse sentido, as vanguardas do movimento operário e dos movimentos populares precisam ter a clareza de que os setores em choque no campo da direita não tem interesse algum em comum com a classe trabalhadora. Isto é facilmente verificado quando observamos que um dos líderes no país, da adoção do programa imperialista, é o governador de São Paulo, João Doria, cuja demagogia sobre uma aparente preocupação com o bem estar da população pode ser facilmente desmascarada quando observamos o tratamento que dá ao sistema de transporte público da capital paulista.

Nem a extrema direita e nem a direita “palatável” querem nada de bom para os trabalhadores e a população pobre do Brasil. Ambos tem interesses próprios a serem defendidos e nenhum inclui as massas, ao menos não de uma maneira positiva. A saída que interessa à classe trabalhadora é a mobilização através dos comitês de luta e dos conselhos populares de saúde nos bairros, onde a crise inevitavelmente produzirá uma catástrofe sem precedentes caso os governos, em todos os níveis, não sejam postos abaixo pelo povo.

A entrevista de Armínio Fraga e seu puxão de orelha ao bolsonarismo são evidências de uma crise política muito maior do que os monopólios de comunicação deixam transparecer. A esquerda pequeno burguesa, tão desesperada quanto sua contrapartida direitista, tenderá a louvar as declarações do ex-presidente do Banco Central e descarregar seu português doutoral para fazer mil e um malabarismos loucos, de modo a explicar que o homem da Selic a 45% (igualmente responsável pela explosão da miséria e da fome ao final do período FHC) é um tipo de direitista diferente, democrático e todo aquele arsenal conhecido.

Sobre o programa do “especialista”, ainda que Armínio Fraga fale mais como o Oráculo de Delfos e menos como um cientista social (algo proposital), é preciso ter em mente que o imperialismo, percebendo o estágio crítico do momento, quer um mecanismo capaz de impedir uma convulsão social diante da gigantesca crise em que a economia capitalista mergulha. O primeiro problema é o valor: Bolsonaro, que é um cavalo mas não é bobo, propôs aumentar a esmola da chamada renda básica em R$100,00 mas o aprovado por Rodrigo Maia (e comemorado pela esquerda) foi R$500,00. Sendo Maia um homem do Centro, portanto mais estreitamente ligado ao imperialismo, podemos deduzir que a ajuda aos pobres advogada por Fraga são esses 500 reais, no máximo os 600, que não encontraram resistência por parte da direita.

O segundo problema é o prazo. Sob a ameaça daquela que pode ser a mais severa crise da história do capitalismo, podemos supor que os muitos trilhões de dólares anunciados pelos EUA e pela Europa para resgate de suas economias sairão dos países atrasados, um movimento que no Brasil, já é perceptível desde o golpe de 2016 e que se traduz economicamente na sequência de recordes na fuga de dólares do país e a pressão externa sobre o Real, que tem levado o regime a fazer sucessivas intervenções. E não esqueçamos que, com mais de 350 bilhões de dólares em reserva, o governo “aceitou” um empréstimo feito pelos Estados Unidos ao Brasil de US$60 bi.

O quadro amplo deixa claro que na prática, o programa imperialista propagandeado por Armínio Fraga é, na melhor das hipóteses, exatamente igual ao que Bolsonaro vem aplicando. O regime de guerra econômica não apenas se manterá como apresenta uma forte tendência a se aprofundar, com consequências dramáticas ao conjunto da população brasileira. A divergência fundamental fica por conta da forma, o que não é trivial se observarmos que diversos estados e municípios, governados pelas forças de centro, se anteciparam a Bolsonaro e já impuseram uma ditadura.

Não podemos nos enganar quanto a isso também. A lição mais importante a ser tirada da aparição pública de Fraga para divulgar o programa imperialista é que estes confiam cada dia menos na capacidade de Bolsonaro em lidar com a crise sem provocar uma convulsão social imensa no Brasil.

É claro que o dinheiro público precisa ser usado em favor do povo, assim como, obviamente, as pessoas precisarão de condições de moradia melhores, infraestrutura médica melhor (que precisa ser construída), medidas de isolamento para evitar a explosão do contágio, que precisam ser levadas a cabo, e também testes constantes para controle da pandemia. Assim como todo um esforço que só uma economia de guerra é capaz de fazer para salvar o conjunto da população do destino trágico verificado na Europa e nos EUA. Mas, achar que isso será feito pela bondade de algum direitista tipo Mourão ou Doria é no mínimo esquizofrênico. Sem mobilização popular, só o genocídio nos aguarda.

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