Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Crise é do capitalismo

Economista do Insper admite necessidade de planificação da economia

Programas contra a crise são falsos se não questionam o sistema

Depois do golpe de 2016, aqueles que tomaram o poder iniciaram rapidamente um programa de desmonte do Estado. Foram iniciadas privatizações, as concessões e a implementação de programas de transferência de renda para empresários e, principalmente, banqueiros e rentistas.

Para isso foi criado o limite dos tetos dos gastos sociais, para sobrar dinheiro para o pagamento das dívidas. Mesmo antes da eleição fraudulenta do atual governo, o projeto de quebra dos direitos dos trabalhadores e da redução dos salários já estava em ação. Esse era o sentido da reforma trabalhista. O que o governo atual está fazendo nada mais é do que a continuidade daquele projeto. De um jeito miliciano de ser, mas o mesmo caminho está sendo trilhado. Com os mesmos beneficiários. E os mesmos prejudicados, os trabalhadores, os desempregados, a juventude e, especialmente, as mulheres.

O que não deu tempo de ser feito no governo Temer foi a Reforma da Previdência. Já no primeiro ano de governo a Reforma da Previdência foi aprovada. À custa de muita propina e alguns ministérios para os partidos provenientes do governo Temer.

Em todos esses momentos, no golpe, no governo Temer e, agora, no governo Bolsonaro, as reformas eram anunciadas como essenciais para que o país saísse da crise, se desenvolvesse e gerasse emprego. Tudo o que a população queria ouvir e acreditar. Mas tudo falso, como eram e continuam as notícias e a propaganda do governo, que são chamadas de Fake News por todo mundo. O neoliberalismo econômico dizia pregar a liberdade total de mercado, para que o desenvolvimento viesse para todo mundo, o pelo menos para quem empreendesse. Nunca contou que para que essa liberdade dos capitalistas viesse, as polícias (e os militares) tinham que estar a postos para baixar o porrete nos trabalhadores. Os gastos sociais deveriam ser contidos para que sobrasse dinheiro para passar para os capitalistas. E se privatizasse tudo e todos para que o lucro passasse a ser o único objetivo da sociedade. Não contava abertamente, mas eles sabiam que era assim mesmo. Por isso, a mobilização da imprensa e das igrejas para criar uma falsa ideia de liberdade e desenvolvimento era essencial.

Antes mesmo de aparecer a pandemia do coronavírus, esse projeto já estava fazendo água. A reforma trabalhista não gerou empregos, provocou mais desemprego e mais empobrecimento dos trabalhadores. O empreendedorismo passou a ser sinônimo de uma bicicleta de um sujeito superexplorado levando comida para a classe média. O engenheiro desempregado virou motorista do Uber e perdeu o plano de saúde. A reforma da previdência tirou a aposentadoria de milhões de pessoas e, mesmo assim, o INSS não conseguia aprovar os processos pendentes, as filas aumentaram e muitos ainda aguardam.

E o PIB, o produto interno bruto, o somatório de todas as riquezas geradas no ano? Antes do vírus veio o Pibinho. Já se via que o país não iria passar muito de 1% neste ano. O coronavírus pegou o país já em crise, em uma profunda crise.

Aqueles que apostaram no projeto neoliberal, que promoveram o golpe e estão se beneficiando do arrocho sobre os trabalhadores e os pobres, agora querem um novo governo, pois olham, com medo o que pode acontecer, com a economia e com a política.

Não há como o país se desenvolver com um projeto neoliberal e um mundo com restrições comerciais e econômicas. A equipe neoliberal, da qual o Guedes fazia parte e de onde ele tirou todas as receitas atuais, conseguiu um pouco de sucesso no Chile das décadas de 1970 e 1980 porque a ditadura sanguinária de Pinochet estava conseguindo algum lucro com a exportação das matérias primas, especialmente o cobre. Mas o resultado dessa política se vê hoje, em aposentados que não conseguem sobreviver, em uma sociedade empobrecida e esmagada pelos capitalistas e uma economia que não se desenvolve. A população chilena sai às ruas, há meses, contra tudo o que estão querendo aplicar no Brasil.

Com exportações em declínio, produção industrial regredindo a níveis de 1950, perspectiva concreta de queda nos preços dos produtos agrícolas e de minérios. As aparências de crescimento caem por terra. E não era necessário o coronavírus para isso. A crise já esta aí.

O problema do coronavírus é que os trabalhadores já estavam muito fragilizados, os sistemas de saúde já estavam sendo sucateados e os governos estaduais e municipais já haviam perdido a capacidade de agir, pois estavam já dominados por uma lógica de diminuição do setor público. A crise será um genocídio dos pobres e dos trabalhadores, e o extermínio de grupos indígenas, como anunciou Tereza Campello, ministra do desenvolvimento social e do combate à fome nos governos de Dilma Rousseff, no jornal português Diário de Notícias em 19/3/20.

A crítica que o economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo tem feito ao governo é de que é mentirosa e enganadora a ideia de que a crise é passageira. Para ele, mesmo o chefe maior desse grupo, o presidente norte-americano Donald Trump mudou de posição. Bolsonaro e Guedes, não. Para o ex-professor da Unicamp, “a situação é de tal ordem que, na verdade, tanto a França quanto a Espanha estão pensando em estatizar algumas empresas que podem ficar muito vulneráveis, numa situação de aprofundamento da crise”(Reconta Aí, 19/3/20).

Mas não são só os economistas chamados keynesianos (que apostas na presença do Estado na economia como forma de redução da instabilidade capitalista) que dizem que a crise não vai se resolver pelo plano Guedes-Bolsonaro. Até mesmo aqueles economistas de mercado que atacam os direitos dos trabalhadores e apostas no achatamento de salários estão vendo os limites do governo Bolsonaro. Como o professor do Insper Sérgio Firpo, que diz que “agora é economia de guerra. Precisa ser feito alguma planificação, para que o sistema de preços não entre em colapso” (O Estado de S.Paulo, 20/03/20).

O que estamos vendo agora é o reaparecimento de economistas, gestores e administradores do sistema colocando em dúvida suas certezas ultraliberais e privatizantes.

O que os capitalistas parecem que estão procurando é uma forma de estabilizar a crise. Concordam em tirar o Bolsonaro, e até mesmo o Guedes, mas querem a manutenção do programa de guerra contra os trabalhadores. Querem os salários rebaixados, o desemprego em alta, querem retirar mais direitos dos trabalhadores, até mesmo dos servidores públicos.

A crise do coronavírus parece estar apressando as coisas no lado da economia e retardando no lado da política. A economia sofreu um tranco, com a queda da demanda popular e com a queda vertiginosa dos investimentos. Os pequenos e médios negócios estão paralisados na maioria das cidades. O desemprego vai dar um salto e o mercado informal não vai conseguir absorver nem parte desse contingente. Passada a crise principal, nos próximos três meses, a economia vai continuar sem rumo, ao que tudo indica. A política, por sua vez, vai mudar. Ou pelo menos vai poder mudar. As pessoas que estão presas em casa ou temendo acima de tudo o vírus que as pode matar quando saem de casa e enfrentam ônibus lotados e os ambientes de trabalho, vão poder se manifestar e se juntar novamente. Resta saber se até lá haverá direções sindicais e políticas que queiram enfrentar a crise com mobilizações de massa ou se ainda continuarão temerosas de um golpe que já foi dado.

É claro que um dia essa crise pode passar e novos cenários podem ser construídos pelos empresários capitalistas e pelos banqueiros. Mas isso será à custa de muitas mais vidas que aquelas que a ex-ministra Tereza Campello já contabiliza como perdidas no genocídio que se avizinha. Para salvar vidas e para resgatar os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras, gerar empregos de qualidade e promover a dignidade dos povos marginalizados no campo e nas florestas, é preciso muito mais. É necessário um programa de luta contra a exploração capitalista, contra o domínio dos banqueiros. O capitalismo não tem solução, ele é a própria crise. É ele quem está gerando o aquecimento global. O desequilíbrio do meio ambiente que provoca essas epidemias e as guerras que estão matando centenas de milhares de pessoas no mundo, são fruto do sistema capitalista. Dizer que nada é possível fazer sem o capitalismo é a maior mentira que conseguiu conquistar a mente das pessoas, especialmente de grande parte das esquerdas. Vencer essa barreira é essencial para salvar a humanidade. Uma outra sociedade, sem exploração, sem pobreza, sem discriminação, é possível e necessária.

 

 

 

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.