Sentindo o aumento da pressão causada pela crise econômica, a burguesia, que há poucos meses ameaçava com impeachment o presidente ilegítimo, Jair Bolsonaro, recuou em sua determinação a não ceder recursos públicos para mitigar a crise capitalista no País. Um dos principais porta-vozes desta classe, o jornal golpista Estadão, publicou o editorial do último dia 14 tratando do tema (“O extraordinário e o ordinário”), controverso entre a direita a não muito tempo trás, e hoje, “uma questão humanitária”.
Colocando ainda mais pressão sobre o tema, o Estadão dedicou ainda uma matéria sobre o tema, em posição de destaque na página principal de seu sítio (“Sem auxílio federal, prefeitos prorrogam ou criam benefícios municipais”, 14/2/2021). A nota cobra o governo federal e faz propaganda de iniciativas realizadas por gestores do Estado burguês em nível estadual e municipal, “do PSOL ao PSL”, no sentido de prover “renda básica para dar suporte à população mais carente”.
A propaganda de um dos mais importantes jornais burgueses do País pode dar a ilusão de que o auxílio emergencial, proposta defendida pela esquerda parlamentar, voltará a ser pago e beneficiará as massas brasileiras, cada vez mais empobrecidas. Contudo, é nos detalhes que se encontra o golpe.
Esmola diminuída
Se antes, o valor de R$ podia ser considerado uma esmola, a atual proposta do governo, articulada pelo Executivo e o Congresso Nacional, prevê o pagamento de 4 parcelas no valor de R$250,00. Trata-se de um escárnio. Mesmo na capital com alimentação mais barata no País, Aracaju, o valor médio da cesta básica era de R$453,16. Isto significa que o valor proposto -e que não vem sendo devidamente questionado, diga-se de passagem- compra pouco mais de meia cesta básica, na capital onde se encontra o menor valor para a comida das famílias trabalhadoras.
Na cidade de São Paulo, onde a cesta básica teve o preço médio calculado pelo Dieese de R$631,46 no mês de dezembro, a assistência oferecida pelo governo golpista representa menos de 40% do valor necessário para aquisição de apenas uma cesta. Dado o tamanho médio da família trabalhadora brasileira, com dois adultos e duas crianças (consumindo meia cesta básica cada), apenas para cobrir as necessidades alimentares, o valor deveria ser R$1.895,00. E isto apenas para que as famílias não passem fome.
Considerando que a população ainda precisa arcar com os custos de moradia, de seus próprios insumos de higiene -como álcool-gel e máscaras que o Estado cobra sem fornecer à população-, de deslocamento urbano e de outros itens essenciais como água, energia e telecomunicações, mesmo o adjetivo de “esmola” não dá a dimensão do nada representado pelos mil reais divididos em quatro parcelas, como proposto pelo regime político.
Mobilizar por um auxílio verdadeiro
Em seus fundamentos, o neoliberalismo prevê o uso de mecanismos de transferência de renda dedicados a aplacar a desgraça generalizada causada por sua política, que tende a inutilizar forças de produção em escala industrial. Esses mecanismos de caráter assistencial, longe de serem revolucionários -como pretende difundir a esquerda pequeno-burguesa-, são um sintoma da desagregação do sistema produtivo. Contudo, diante da gigantesca crise do capitalismo, estes mecanismos vêm mostrando-se ineficientes no sentido de acalmar as massas.
Exemplos disso explodem por todos os lados, nos EUA, na Europa, em toda a América Latina e, naturalmente, no Brasil, que viu no Amapá exemplos concretos de como a população brasileira encontra-se à beira de uma grande convulsão, ainda que os representantes da pequena burguesia teimem em negar a realidade ao observá-la de suas confortáveis residências.
Aos trabalhadores e setores mais esmagados pela crise, cumpre o papel de mobilizar a população para que o auxílio assistencial tenha valores condizentes com a realidade do País, jogando para a burguesia o custo da crise produzida pelos capitalistas e permitindo à população enfrentar seus algozes mortais e conquistar seus interesses pela sua própria força.