O vice-líder do governo Bolsonaro no Senado Federal, senador Chico Rodrigues (DEM-RR), protagonizou um escândalo com características anedóticas na última quinta-feira (15), ao ser apanhado com dinheiro vivo entre as nádegas. O caso lembra outra situação muito explorada pelos detratores do PT e da esquerda, envolvendo José Adalberto Vieira da Silva, assessor do então deputado estadual José Guimarães, do PT cearense, pego com dinheiro na cueca, evento que foi amplamente explorado pelos mesmos moralistas que hoje compõe o núcleo ideológico do bolsonarismo.
Similar nos fatos, o tratamento dado pela imprensa e a direita é o que diferencia os eventos. Isso por que o caso envolvendo o dinheiro na cueca do assessor de um parlamentar petista em meio ao processo do chamado “Mensalão”, serviu para jogar gasolina na mobilização golpista desencadeada pela direita para derrubar o então presidente Lula e tirar o PT do governo federal.
Se até hoje o partido e a esquerda sofrem os estigmas produzidos pela campanha iniciada à época, não é preciso muita imaginação para perceber que se o senador Chico Rodrigues pertencesse a um partido de esquerda, todo o campo estaria ameaçado de proscrição a esta altura, dado a magnitude da crise geral do regime político.
Contudo, vindo de um político direitista, a questão é usada como fofoca para manter a fritura do governo ilegítimo de Bolsonaro, que continua sendo tratado pela burguesia sobre a base de uma política de “manter na linha”, isto é, mantê-lo domesticado para que atenda os interesses dos grandes capitalistas, sem vacilações demonstradas pelo governo, frutos de uma base social que por um lado, evidencia contradições enquanto, por outro, garante a Bolsonaro uma margem de independência para manobrar diante da crise.
Nesse sentido, a lembrança da discrepância entre a forma como o regime político de conjunto trata casos de corrupção similares sobre aspectos objetivos funciona também como um lembrete do absoluto vazio da campanha moral, que não tem outra função além de confundir a esquerda e permitir um reagrupamento das forças burguesas.
A corrupção, há que se ter claro, está no DNA do capitalismo, especialmente na etapa imperialista, sendo portanto uma consequência e não uma causa das mazelas enfrentadas pela classe trabalhadora. Obviamente, ninguém pode compactuar com falcatruas envolvendo recursos públicos mas é preciso clareza de que este fenômeno da política burguesa é parte intrínseca da luta de classes, não estando de forma alguma acima desta.