Em coluna para o Brasil 247 do último dia 29 de outubro, o articulista Ricardo Cappelli, que é membro do PCdoB, coloca em questão se há uma “onda vermelha” no Continente americano. Ele contesta a ideia de que a chegada ao Brasil da crise que tomou conta dos países vizinhos seria “iminente”.
Cappelli afirma que “qualquer tentativa de conexão Chile-Brasil, ou mesmo Brasil-Argentina, não passa de contorcionismo ilusionista.” Para justificar tal ideia, o articulista explica que é a extrema-direita, no Brasil e no mundo, quem consegue capitalizar melhor um sentimento que ele chama de “anti-sistema”. Segundo ele, Bolsonaro “segura firme em suas mãos a bandeira do ‘anti'”.
Portanto, “para o povo, pouco importa o modelo, desde que funcione”. “A questão do momento é que a bandeira do ‘novo’, dos que trabalham para tirar o país do caos lutando contra o sistema corrompido, continua nas mãos do presidente”. A esquerda teria então que retirar das mãos da extrema-direita bolsonarista essa “bandeira”.
O grande problema é que Cappelli não explica como seria isso. É preciso levar em conta que a popularidade de Bolsonaro é cada vez menor. Ou seja, no caso brasileiro, existe uma polarização política muito profunda que impede que a extrema-direita consiga se apropriar dessa imagem de anti-sistema. A luta política travada contra o golpe, desde o seu início, agora pela liberdade de Lula e a luta contra o governo Bolsonaro é o único caminho possível para derrotar a direita.
Com certeza a derrota da direita não virá, como defendem setores da esquerda pequeno-burguesa, entre eles o PCdoB de Cappelli, por meio de uma frente ampla parlamentar, eleitoreira e no final das contas oportunista com setores que representam o que há de mais podre na política nacional, que apoiaram o golpe que derrubou Dilma, a criminosa operação lava jato e as condenações fraudulentas e a prisão do ex-presidente Lula.
Para que a esquerda se torne a representante do sentimento “anti-sistema” é preciso uma política revolucionária, que mostra o caminho por fora das instituições podres. Para desmascarar Bolsonaro como um demagogo que se aproveita dessa política “anti-sistema”, não é possível se colocar dentro do sistema.
Nesse sentido, diferente do que diz Cappelli, o Chile, o Equador e a Argentina são sim um prenúncio do quer pode acontecer no Brasil. O que há nesses países é a revolta generalizada contra o regime político podre, contra a catástrofe social produzida por ele. O povo nesses países mostrou o caminho, ainda que de maneira limitada, de que é preciso partir para o enfrentamento.
É preciso apenas fazer a ressalva sobre a Argentina. A revolta popular foi canalizada na eleição, o que acabou produzindo a derrota de Maurício Macri. Porém, é errado imaginar que o problema no país esteja resolvido. Muito longe disso, a tendência de explosão das massas continua latente.
O Brasil já é um Chile, o que falta é uma política correta que coloque como ponto central a luta pelo poder político, ou seja, pela derrubada de Bolsonaro, pela liberdade de Lula, eleições gerais, em suma, a derrota do regime golpista. A “onda vermelha”, para ser uma realidade, depende de uma ação correta.