É muito importante que, nesse momento de dificuldades e renúncias por parte de todos, que empregados e empregadores ajam com sensatez na busca de uma solução em consenso quanto aos problemas que surgirão dos reflexos da pandemia que afeta o planeta.
É de causar espanto, mas a frase acima, que pede que patrões e trabalhadores se unam para combater o coronavírus, não veio da Folha de S. Paulo, do jornal O Globo ou de qualquer outro órgão da imprensa burguesa. Veio, na verdade, do portal Vermelho, vinculado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), em artigo publicado no dia 17 de março. O apelo à sensatez de empregados e empregadores é apenas um dos muitos exemplos que comprovam a total falta de programa por parte da esquerda nacional para intervir na gravíssima situação em que o Brasil — e o mundo — se encontra.
A cada dia que se passa, os dados sobre o avanço do coronavírus são mais assombrosos. Na noite do último sábado (21), quando fechava esta edição, o Ministério da Saúde brasileiro já havia registrado 1.128 casos de coronavírus registrados e 18 mortes em decorrência da doença. A Itália, por sua vez, que é o país onde o vírus causou mais mortes até o momento, havia registrado, apenas nas 24 horas anteriores, quase 800 óbitos a mais, totalizando 4.825 vítimas fatais do novo coronavírus.
O desenvolvimento do vírus no Brasil, até agora, tem apresentado um padrão semelhante ao da Itália. Considerando que é um país muito mais pobre e com problemas muito mais graves em seu sucateado sistema de saúde pública, tudo indica que o Brasil conhecerá uma destruição ainda maior do que a provocada pelo vírus no território italiano. Mesmo assim, não será esse o único drama que os brasileiros terão pela frente.
Se o coronavírus não for energicamente combatido no Brasil — e nada indica que será combatido —, milhões de pessoas virão a óbito. Os cálculos mais conservadores indicam 478 mil corpos como saldo da passagem da pandemia pelo território brasileiro. No entanto, projeções mais pessimistas apontam que até 2 milhões de brasileiros poderão morrer devido à doença.
O resultado, em si, já seria uma carnificina sem precedentes na história do Brasil. Uma carnificina, diga-se de passagem, que não seria causada por um “acidente”, mas sim pela política criminosa da direita golpista, que prefere ver o povo morrendo a ver os capitalistas colocando a mão no bolso. Enquanto a vida de um único brasileiro estiver dependendo da assistência médica pública, é um verdadeiro crime que as prioridades do Estado sejam as de salvar os banqueiros da bancarrota.
No entanto, ao lado dos possíveis milhões de corpos que tombarão diante do total colapso do sistema público de saúde, haverá dezenas de milhões de brasileiros duramente sequelados pelas consequências econômicas da pandemia e da própria crise capitalista. Sob o governo Bolsonaro, 14 milhões de desempregados já constavam nas estatísticas oficiais. Com a estagnação da economia causada pelo coronavírus, esse número deverá chegar próximo dos 20 milhões. Se, junto a isso, for levado em consideração os desalentados e os subempregados, o Brasil poderá ter, em um curtíssimo espaço de tempo, um exército de reserva de 40 milhões de pessoas!
Os poucos que se manterão nos seus empregos, no entanto, sofrerão cada vez mais ataques, minando suas condições de vida. Mesmo diante de toda a crise gerada pelo avanço do coronavírus, o governo Bolsonaro propôs privatizar a Eletrobras e reduzir pela metade o salário dos trabalhadores. Esse cenário sinistro, que deverá se constituir em poucos meses, levará o país a uma situação de total colapso social.
A única maneira de impedir que isso aconteça é forçando os patrões a pagarem pela crise que eles mesmos causaram e pela pandemia que sua política devastadora do neoliberalismo ajudou a disseminar. É preciso, portanto, mobilizar os trabalhadores e explorados para lutar pela derrubada imediata do governo Boslonaro e pela dissolução de todo o regime político golpista.
Nesse sentido, é preciso se opor às orientações que vêm sendo dadas pelas direções da esquerda nacional. Para evitar um desastre, o caminho não pode ser o da conciliação entre patrões e empregados, como estão defendendo os companheiros do PCdoB, mas o da luta implacável contra toda a burguesia de conjunto — burguesia essa que, nesse momento, se apoia no governo Bolsonaro para tentar manter seus privilégios.
Para enfrentar a ofensiva da burguesia, que está disposta a esmagar os trabalhadores para tentar manter de pé seu império, é preciso um programa de lutas que tenha como centro a mobilização da classe operária para tomar, pela força, o controle do Estado. Fora Bolsonaro e todos os golpistas! Formar conselhos populares nos bairros!