O coronavírus já fez suas vítimas no Brasil. Grande parte dos casos registrados foi de gente que chegou ao hospital em caso de internação, ou seja, em situação em que quase nada pode ser feito. Esses são os casos que o governo Bolsonaro determinou que se fizesse exame.
Outros tantos estão simplesmente morrendo por aí, sem qualquer assistência médica. São encaminhados para o Instituto Médico Legal, que adota qualquer procedimento administrativo, e, de lá, são encaminhados para o enterro. As previsões chegam ao número de centenas de milhares de mortos, que, invariavelmente, deverá ser em esmagadora maioria entre a população pobre.
Diante desse cenário, pessoas bem intencionadas buscam fazer campanhas solidárias, de alimentos, roupas, e medicamentos para os mais pobres. É uma tentativa de remediar a situação diante do desastre total no meio da classe trabalhadora. Isso é natural.
O que não é natural é a esquerda, as organizações dos trabalhadores, embarcarem nessa mesma campanha. A campanha da caridade diante do problema de saúde e social que povo brasileiro está enfrentando. E o faz para evitar o debate político do momento, para se somar à chamada “unidade nacional”, a “união cívica” no combate à doença. Como diria Rui Costa, do PT/BA, uma unidade que deve relevar as diferenças políticas da direita golpista e da esquerda.
Essa posição é inaceitável para a parte consciente da classe trabalhadora, ou seja, sua organização política, seu sindicato, seu partido. O que está colocado, na verdade, é a luta política mais aberta, pois os responsáveis pela pandemia, pelas mortes do povo, são justamente os golpistas que tomaram de assalto o Poder Executivo, Legislativo e Judiciário.
São os mesmos que derrubaram Dilma Rousseff, como João Doria, que determinaram a prisão de Lula, como quase a totalidade dos governadores dos estados. Os que fraudaram o processo eleitoral de 2018… que, agora, querem se demonstrar preocupados com o futuro da saúde do povo trabalhador.
Natural que o façam, finalmente, a demagogia é a regra para a direita brasileira. Na realidade, estão fazendo as contas de quanto podem economizar com algumas milhares de mortes dos trabalhadores, que direitos podem cortar, que novas leis repressivas podem aprovar.
A esquerda só conseguiu, até o momento, e com dificuldades, tentar emplacar a política de assistência social. Os fundos para arrecadar e distribuir alimentos e vestimentas, talvez, algum tipo de insumos de saúde. Não está colocado, para a direita, a luta contra os golpistas, contra aqueles que torcem para o povo morrer.
O que se coloca é a tentativa de servir de assistente social gratuito do estado golpista, diante da maior pandemia dos últimos tempos. A esquerda foi entregar currículo para os governos golpistas, de assistentes sociais, de voluntários dos alimentos. Não querem lutar contra os direitistas que odeiam o povo. Isso não é uma política de luta, mas, tão somente, de adaptação ao regime da burguesia racista.
A política de luta, neste momento, é ainda mais de mobilização do povo em torno dos seus direitos elementares, como saúde, habitação, alimentação. É organizar o povo para arrancar do Estado, dominado pela direita, os direitos que lhe são necessários, como saneamento básico, algo que a maioria esmagadora das favelas brasileiras não possuem.
E arrancar à força, se necessário. A direita só responde ao povo organizado, à força física do povo em luta, como foi visto na conquista dos mais variados direitos trabalhistas e sociais do povo. Foi necessário muita gente morrer pelo direito de greve, por exemplo. O mesmo vale para os demais direitos democráticos e sociais. A história é de luta, de luta política, organizada. Não de assistência social gratuita. Isso muitos já fazem, e, finalmente, é uma tentativa de apagar o incêndio com uma gota d’água.
O povo precisa e pode se organizar politicamente, em seus conselhos, em torno dos seus direitos fundamentais. Agora essa questão ganha ainda mais importância, pois está em jogo a própria vida da população trabalhadora brasileira.
A luta é contra os detentores do poder, aqueles que economizam, quando é para o povo, e abrem os cofres quando é para salvar banqueiros. São estes que precisam trabalhar, fazer o que o povo ordena, sob pena de serem combatidos pela força. Essa questão fundamental é que deve basear a atuação política das organizações populares neste momento crítico da luta entre os pobres e os ricos.