Márcio França, para quem não conhece e nunca ouviu falar, é o atual governador que recai sobre São Paulo. Alckmin renunciou para tentar assumir o cargo de golpista em chefe hoje nas mãos de Michel Temer. Deixou, como um último presente seu para São Paulo, seu vice Márcio França. Ninguém tinha ouvido falar do tsunami até ele engolir pedaços da costa por aí. Ninguém tinha ouvido falar de Márcio França até ele acontecer recentemente ao Estado.
Este 1° de maio foi marcado por uma grande tragédia em São Paulo. Um prédio de 24 andares desabou durante um incêndio no começo da madrugada no Largo do Paiçandu. Enquanto eu escrevia esta coluna, o número de desaparecidos estava em 34. Um homem caiu junto com o prédio enquanto estava prestes a ser resgatado. Tudo foi filmado pela imprensa capitalista, que produziu assim imagens infernais do prédio desabando consumido em chamas.
Temer apareceu no local durante a manhã. A imprensa burguesa informou que ele foi “hostilizado”. A verdade é que ele nunca esteve tão perto da morte. O golpista teve que fugir da fúria popular. Ao abrigo da fúria popular, Márcio França também apareceu. O governador é protegido pelo desconhecimento. É praticamente um anônimo.
Beneficiado por essa forma de ocultamento, Márcio França não perdeu a chance de brilhar diante dos microfones de seus amigos da imprensa burguesa. O herdeiro de Alckmin afirmou que morar em ocupações é “procurar encrenca”. E ainda, que é preciso “convencer as pessoas a não morarem desse jeito”.
É uma tese brilhante. Para evitar que as pessoas não morem em condições precárias, basta convencê-las a morar de forma apropiada. Como ninguém se atreveu a pensar com essa ousadia antes? Humildemente faço apenas um reparo ao raciocínio. Se o problema consiste em convencer, a solução pode ser mais geral e abrangente. Por que simplesmente não convencê-las a não morrer, por exemplo? Se ousares, ousa, Márcio França! Convencê-las-emos todas.
No entanto, aqui esbarramos em uma dificuldade. O problema da habitação existe. Pessoas não têm onde morar enquanto imóveis permanecem vazios. Márcio França não quer que esses imóveis sejam ocupados. E aproveita uma tragédia para fazer uma defesa cínica de sua política. As pessoas não devem morar “desse jeito”, mas então de que jeito deveriam morar? O governador anônimo não diz.
O problema é que o programa da direita para os pobres é o olho da rua. Obviamente não passa pelo combate à especulação imobiliária nem pela desapropriação de imóveis sem função social.
Em nome da propriedade de uma classe parasitária e ociosa atacam os direitos de milhões de trabalhadores à moradia. E agora, supremo cinismo, usam um problema que eles mesmos criaram para atacar os que se organiza para lutar por esse direito. Nisso consiste a campanha em curso contra os movimentos de luta por moradia.