O agravamento da crise capitalista, que levou a situações explosivas em diversos países da América Latina, mostram mobilizações revolucionárias em determinado estágio de desenvolvimento. Isso significa que essa situação não são particularidades da Bolívia, do Chile ou do Equador, mas sim o resultado de uma política de estrangulamento do conjunto dos países pelo imperialismo e os grandes grupos capitalistas a ele associados, que desencadearam uma ofensiva sem limites contra as condições de vidas das massas da América Latina.
Desse ponto de vista, qual a diferença entre o Brasil e os países que estão ou estiveram convulsionados? Nenhuma, salvo por um problema de grau. O Brasil é um país com uma economia de muito maior dimensão, maior complexidade, o que implica, por um lado, que tem mais gordura para ser queimada. E por outro, são maiores também os interesses imperialistas e do grande capital no sentido de evitar situações revolucionárias no Brasil. A Bolívia ou o Chile em “chamas” já têm um enorme potencial propagador. Caso o Brasil ingresse em uma situação semelhante à boliviana, por exemplo, não apenas a América Latina, mas todo o mundo, será impactado pela situação brasileira como um rastilho de pólvora.
O imperialismo e os golpistas brasileiros têm tanta consciência disso que nos últimos dias o governo Bolsonaro deu declarações no sentido de paralisar ou diminuir consideravelmente o ritmo das “reformas”, com medo de que possam desencadear mobilizações populares, como as que afetam o funcionalismo público.
Em um momento em que a crise capitalista chega a um ponto de saturação e, portanto, de crise e desmoronamento dos regimes políticos produto dos golpes de estado nos países latino americanos, a maior parte da esquerda ao invés de ocupar o espaço, ir à ofensiva, faz corpo mole, tergiversa e no final das contas transforma-se na tábua de sustentação da direita e do golpe.
No Brasil, essa posição é clara. Primeiro com a recusa de se colocar a favor da palavra de ordem mais popular do País, que é o “Fora Bolsonaro”. Depois com toda a cantilena de que o “povo não quer lutar”, “não se mobiliza”, quando na verdade não há interesse em mobilizar o povo para nada, salvo para as eleições de 2020 e 2022, tratadas como a redenção popular da “luta contra o golpe”, em uma aliança, diga-se de passagem em torno da “frente ampla”, composta, inclusive, com notórios golpistas.
Essa é a política de impasse no Brasil. As condições objetivas colocam o País em situação tão grave como o Chile ou a Bolívia. Achar que um acordo com o centrão, com a direita, a mãe da extrema-direita, será capaz de deter o golpe no País, fazer a roda girar ao contrário, é uma ilusão profundamente nociva para as amplas massas do Pais. Com essa política, a esquerda pavimenta o caminho para que o golpe se rearticule e tenha condições de impor uma derrota histórica às massas.
Duas situações bem recentes dão a medida do que pode ser o resultado de um acordo com a direita. No Equador, a esquerda recuou nas mobilizações em torno de um acordo que reviu parcialmente as medidas econômicas decretadas pelo golpista Lenin Moreno, em um momento em que as massas nas ruas exigiam a destituição do presidente. Com o arrefecimento das lutas, como decorrência do acordo, o governo instalou um estado de terror contra os movimentos que estiveram à frente da luta do povo equatoriano e contra o próprio povo.
Na Bolívia, ocorreu um fenômeno semelhante, que só não evoluiu para uma carnificina generalizada, apesar das dezenas de mortos, centenas de mutilados e feridos, por conta da intensidade da reação da luta popular, mas a política da esquerda, de Evo Morales, foi de recuar sistematicamente diante da direita, culminando com a sua própria renúncia.
Não há tempo a perder. A crise já instalada na Bolívia, Chile, Haiti, tende a se propagar pelo continente. Colômbia, Peru, Uruguai e Brasil estão a caminho do olho do furacão. Quanto mais decidida e preparada estiverem as massas, mas condição de enfrentamento com o imperialismo e a direita. Os setores da esquerda que apontam a luta sem trégua contra a burguesia como única maneira de derrotar o golpe, a burguesia e o imperialismo devem preparar e organizar a mobilização. As massas irão às ruas, é fundamental para a esquerda que luta contra o golpe se antecipar aos fatos.