Em artigo publicado no sítio do GGN nessa sexta-feira, dia 12, intitulado “Na dura travessia, precisamos sobreviver”, o colunista Ricardo Cappelli procura justificar a necessidade de se fazer uma frente ampla com a direita que nas palavras dele seria “democrática”. Já na conclusão do artigo, o autor afirma que é preciso ter a “capacidade de compreender a centralidade de alianças amplas em torno da questão democrática.”
Para quem chegou ontem na política talvez pudesse existir alguma dúvida sobre quem seriam esses setores das “amplas alianças”. Mas para quem tem acompanhado a política da esquerda pequeno-burguesa logo vai descobrir que os setores “democráticos” evocados por Cappelli são nada mais nada menos do que a direita golpista tradicional. Parece estranho, mas é assim. Pelo menos se levarmos em conta as justificativos do autor e a política como a que apresentou dias atrás Marcelo Freixo do PSOL dizendo que a luta no País não era entre direita e esquerda mas entre “civilização e barbárie”. E na ala da civilização está o PSDB, por exemplo.
Cappelli justifica de maneira mais acaba tal ideia. Para ele, se existe alguma proximidade entre a extrema-direita bolsonarista e a direita tradicional nas questões relativas à economia, haveria um “abismo na questão democrática”. Ou seja, os partidos da direita, com excessão do bolsonarismo, seriam democráticos, ou se quisermos usar o vocabulário freixiano, seriam civilizados.
Para Cappelli, a unidade de toda a direita em torno da reforma da Previdência, portanto, seria apenas uma concordância pontual na economia e não teria nada a ver com o problema democrático. Uma ideia absurda cuja única função é esconder o real conteúdo da própria reforma da Previdência e de todos os ataques econômicos contra o povo. Antes de qualquer coisa é preciso ter claro que a destruição da aposentadoria é um fator essencial para a ditadura que os golpistas querem impor ao País e é preciso ter claro que sem o golpe, cuja participação principal não foi dos bolsonaristas mas do PSDB e seus aliados chamados “democráticos”, não haveria tal destruição da aposentadoria. Ou seja, sem atacar a já tão cambaleante democracia brasileira não haveria tal reforma, pelo menos não do jeito que a direita gostaria.
Cappelli quer justificar a aliança de setores da esquerda com a direita golpista, ele sendo membro do PCdoB que apoiou a eleição de Rodrigo Maia, inventando a tese absurda de que a situação da esquerda é tão ruim que precisamos nos conformar que a única saída para “sobreviver” seria se aliar com a escória golpista do PSDB, do DEM e do PMDB.
Nem precisaria dizer que para Cappelli, o povo na rua não conta. A única política para “sobreviver” é fazer alianças por cargos no Congresso e rezar para quem sabe na próxima eleição se houver esses cargos sejam mantidos.
É duro reconhecer, mas a verdadeira disputa no país hoje é entre a extrema-direita e a centro-direita democrática. O eixo da política brasileira foi deslocado radicalmente. A vitória da reforma da previdência alimenta o programa dos dois. A visão liberal os aproxima, mas não é exatamente a mesma.
E então, Cappelli justifica sua política de frente com os golpistas: “Acusar os deputados do Centrão de “comprados” é o caminho correto para quebrar o isolamento? Execrar deputados de partidos do campo progressista que votaram pela reforma é a saída para reunificar a esquerda? Na atual quadra política, estamos em condições de prescindir de alguém?”
A esquerda pequeno-burguesa prepara sim uma dura travessia, mas é no sentido da direita. A cada passo com essa política, não só essa esquerda pequeno-burguesa se torna cada vez mais direitista como a direita golpista nacional se fortalece na situação política, o que se pode levar ao fracasso e a novas derrotas.