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A farsa da vacina para todos

Doria, o “cientista” e “civilizado”, não controla COVID-19 em SP

O anúncio da vacina por João Doria aparece no momento em que se constata que a pandemia de coronavírus está completamente descontrolada no estado de São Paulo

O anúncio da Anvisa, no domingo (17), da aprovação do uso emergencial, em caráter experimental, da vacina CoronaVac, desenvolvida pela companhia biofarmacêutica chinesa Sinovac, com distribuição pelo Instituto Butantã, foi o tema da entrevista coletiva concedida pelo governador de São Paulo, João Doria, que saiu consagrado como o “herói científico” em oposição ao negacionista, o presidente golpista Jair Bolsonaro. Setores da esquerda saíram em comemoração, como foi o caso do deputado do PCdoB, Orlando Silva, que declarou: “agora é iniciar imediatamente a vacinação da população. Viva a Ciência! Abaixo o negacionismo”.

Orlando Silva fez coro com a direita, com elementos como Baleia Rossi e Rodrigo Maia e a imprensa tradicional.

Mas o que estamos presenciando é uma disputa entre dois setores opostos da burguesia. Uma delas é representada por Bolsonaro, o “negacionista”, representante da extrema direita e fascista. A outra por João Doria, apresentado como o governador “científico”, “civilizado”, “democrático” e até, segundo alguns, “antifascista”.

É uma manipulação feita pelos meios de comunicação que pretende apresentar Doria como “herói do povo” e um candidato sólido da direita tradicional para as eleições de 2020, o chamado “mal menor”, diante do espantalho Bolsonaro, o grande mal. É um reflexo da luta da chamada Frente Ampla, que reúne a direita tradicional do PSDB com setores entreguistas da esquerda.

No fundo é tudo uma falsificação grotesca, já que essencialmente Doria e Bolsonaro tiveram a mesma falta de política para lidar com o problema da pandemia. Nenhum deles tomou nenhuma ação no sentido de auxiliar a população, já que não providenciaram testes em massa, nem distribuíram materiais de prevenção como máscaras e álcool gel, não aumentaram os leitos nos hospitais, não contrataram mais médicos e outros profissionais da saúde, não tiveram nenhuma política concreta neste sentido.

No caso dos governadores “científicos” como Doria ou Wilson Witzel, sua única proposta foi o distanciamento social e o trabalho no “home office”, uma medida que só podia ser adotada por uma mínima parcela da população. A grande maioria das pessoas nunca deixou de trabalhar e de se contaminar nos lotados meios de transporte.

Números da pandemia

O anúncio de Doria foi feito num momento em que a pandemia do coronavírus apenas na cidade de São Paulo já atingiu o número de 528 mil casos confirmados (com 778 mil suspeitos) e 16.552 mortes, isso pelos números oficiais. Em todo o estado são mais de 1,6 milhões de casos e quase 50 mil mortes, ou seja, quase 25% do total de mortes no país, fazendo com que São Paulo seja o estado mais afetado em todo o Brasil.

Estes números oficiais são apenas altamente manipulados pelos governos, sendo que o exemplo mais evidente é a não inclusão das mortes por SRAG, Síndrome Respiratória Aguda Grave, uma doença que matou em 2020 centenas de vezes mais que no ano anterior. Além disso, em várias ocasiões o governo de São Paulo simplesmente deixou de informar os números de casos e mortes, com o efeito de diminuir os números totais no país.

Portanto a consagração de Doria veio num momento crítico, com a situação mais grave do coronavírus até agora. A vacina aparece como a salvação da pátria, mas Doria escondeu o outro lado da notícia, de que serão poucos a serem vacinados neste momento.

Paralisação da produção da CoronaVac

A euforia do governador Doria foi mais um ato de enganação da população. A produção da vacina depende da sua matéria prima, o IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo), o princípio ativo da CoronaVac. Só que os estoques do Instituto Butantan estão praticamente no fim e só devem durar até o fim do mês. A expectativa inicial do governo era de que o Butantan estivesse produzindo um milhão de doses por dia, funcionando sem parar, 24 horas ao dia, mas agora a produção está quase parando. Esta matéria prima, no momento, se encontra parada na China, aguardando a liberação do governo local. A última entrega destes insumos chegou ao país na virada do ano. No momento, o estoque é de 4,8 milhões de doses e mais 1,5 milhão a serem rotulados.

Enquanto isso, a situação nos hospitais no estado é dramática. Vários deles estão com todas suas vagas para os casos de coronavírus ocupadas. Além disso, muitos dos hospitais de campanha, instalados pelo governo Doria no início da pandemia, já foram desativados. Na capital já foram todos fechados, sendo que o último a ser fechado foi o Hospital de Campanha do Ibirapuera, desativado no dia 30 de setembro. E a falta de planejamento foi tamanha que os respiradores, comprados da China ao custo de 242 milhões de reais, só chegaram após o fim desses hospitais de campanha. Durante todo esse tempo estas unidades funcionaram de modo precário, com atendimento insuficiente.

Descontrole da pandemia

Outro fato que mostra que a pandemia do coronavírus está descontrolada no estado de São Paulo é que a taxa de contágio (Rt) ficou em 1,34, conforme números da SP-Covid-19 Info Tracker, uma plataforma desenvolvida por cientistas da USP e da Unesp.

Segundo esta plataforma, o índice de 1 significa que uma pessoa contamina uma outra pessoa. Para que a transmissão do novo coronavírus seja contida a taxa Rt precisa ficar abaixo de 1. Segundo o coordenador do Info Tracker e professor da Unesp, Wallace Casaca, “se no estado de São Paulo essa taxa se mantiver pelas próximas semanas, os hospitais vão lotar ainda mais. Se ficar acima disso por um mês, será preciso o lockdown”.

O índice chegou a 2,52 na sub-região da Grande São Paulo Norte, que engloba Caieiras, Cajamar, Francisco Morato, Franco da Rocha e Mairiporã.

Doria ataca a população durante a pandemia

Vale a pena relembrar alguns momentos do governador “científico” João Doria no ano passado para saber como ele lidou com o problema do coronavírus.

No final de setembro do ano passado Doria decretou a suspensão das refeições gratuitas servidas pelo restaurante Bom Prato aos moradores em situação de rua, algo que foi implantado no início da pandemia. O governador alegou que o custo, algo em torno de 420 milhões de reais, era muito alto.

Ao mesmo tempo realizou um grande número de despejos como foi o caso de uma ocupação em Diadema onde moravam mais de 40 famílias. Esse caso aconteceu em agosto, em um terreno de 200 metros quadrados pertencente ao governo do estado. Doria utilizou a força repressiva da Polícia Militar. Dois meses antes havia sido feita a reintegração de posse em um terreno em Guaianazes, na Zona Leste da capital. Foram 900 famílias que estavam ocupando um terreno no bairro Roseira 2, duramente reprimidas pela PM, que usou retroescavadeiras para retirar as casas de madeira.

É um crime gigantesco, um genocídio completo fazer despejos em plena pandemia. Mas não foi só isso. O governo de Doria aproveitou o período para continuar com sua política de privatização e fez licitações de vários parques públicos para a iniciativa privada. Fez também vários ataques à Cracolândia, com a polícia atirando em pessoas inocentes.

A política neoliberal de Doria não poupou nem mesmo os idosos. Em dezembro ele acabou com a gratuidade para os idosos entre 60 e 65 anos nos transportes públicos, um direito adquirido pela população em 2013. Em janeiro deste ano foi a vez dos deficientes físicos, com a aprovação da PL 529/2020, que acabou com a isenção do pagamento do IPVA.

Por tudo isto João Doria não passa de outro fascista, igual ou até mesmo mais perigoso de Jair Bolsonaro. Não é possível ter nenhuma crença em uma figura destas. Sua política é apenas esta, aplicar o neoliberalismo, sempre penalizando a população, sem nenhuma consideração com sua condição de miséria, fome e insegurança. Por isso o fato de Doria apresentar uma vacina não significa nenhuma vitória, é apenas demagogia, feita para esconder o fato de que não fez nada durante um ano inteiro.

Doria não é o mal menor, é o contrário, é o verdadeiro mal maior.

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