A invasão do Congresso dos EUA na última quarta (6) e a disputa em torno da vacina no Brasil, que atingiu 200 mil mortos em dados oficiais, foram utilizados pela imprensa capitalista para desgastar a figura política do presidente golpista Jair Bolsonaro. Por outro lado, a mesma imprensa tece grandes elogios ao governador João Doria (PSDB), exalta suas medidas de suposto combate ao Coronavírus em São Paulo e impulsiona sua demagogia em torno da vacina. É a campanha para 2022 em curso e a burguesia golpista trabalhando seu possível candidato.
O protesto contra a nomeação de Joe Biden (Partido Democrata) como presidente dos EUA, que resultou na invasão do Capitólio – prédio do Congresso dos EUA – pelos apoiadores de Donald Trump (Partido Republicano), escancarou a crise no coração do imperialismo mundial.
A burguesia norte-americana ficou assustada e reagiu com uma campanha histérica na imprensa burguesa mundial. Jornais capitalistas de todo o mundo classificaram o protesto como um “atentado contra a democracia”, uma tentativa de golpe de Estado. Presidentes dos principais países imperialistas, como Alemanha, Inglaterra e França, foram a público repudiar a manifestação e defender a “democracia” norte-americana.
Escolhidos os representantes da “democracia” mundial, como Joe Biden, Angela Merkel, Boris Johnson e Emmanuel Macron, a imprensa burguesa brasileira fez questão de mostrar quem seriam os integrantes deste grande bloco democrático no Brasil.
Na edição desta quinta (7) o Jornal Nacional, da Rede Globo, divulgou as declarações dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia e do Senado, Davi Alcolumbre, ambos do DEM, bem como dos ministros do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, Alexandre Moraes e Roberto Barroso (que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral), onde todos defendem a “democracia” nos EUA, colocando-se a favor de Biden e contra os protestos dos apoiadores de Trump.
O telejornal, então, mostrou a declaração de Bolsonaro em que disse que se isso ocorrer no Brasil em 2022 haverá uma situação ainda pior que a dos EUA, insinuando que Bolsonaro é o Trump brasileiro.
Bem, se para a imprensa pró-imperialista brasileira, Bolsonaro é o equivalente brasileiro de Trump, ou seja, um elemento de extrema direita que se coloca contra as instituições do regime burguês, quem seria então, para ela, o Biden brasileiro? Ou seja, o elemento da direita que seria o representante da “democracia”.
João Doria Jr.
O tucano tem tido um apoio sistemático e entusiasmado por parte da imprensa. Uma rápida consulta as capas da Folha de S.Paulo, do Estadão e d’O Globo, os 3 maiores jornais do País, comprova isso. É um dado de que a burguesia, neste momento, está trabalhando a imagem do governador, que deu ração para as crianças e jogou água em moradores de rua em pleno inverno, para ser o candidato da “democracia” em 2022, leia-se, seu candidato.
A utilização do termo “democracia”, neste sentido, é tão cínica quanto funcional, pois atende ao objetivo da burguesia em angariar o apoio da esquerda, o que já teve sinalização positiva de alguns setores da esquerda, expresso pelo ex-ministro e ex-governador Tarso Genro (PT), que defende Doria contra Bolsonaro.
Esta em curso a tentativa da burguesia em substituir Bolsonaro pela ala que, segundo ela, deveria estar governando o País desde o golpe de 2016. Ou seja, o PSDB, MDB, DEM, os principais partidos burgueses do regime, que lideraram a derrubada de Dilma Rousseff, mas que em seguida tiveram que apoiar Bolsonaro para impedir a volta do PT, caracteriza precisamente a Operação Biden no Brasil.
Por isso fala-se em “fascismo x civilização”, onde Trump/Bolsonaro são o fascismo e Biden/Doria, seriam a civilização. Trata-se da manobra para reciclar o governador “científico” de São Paulo, responsável por quase 50 mil mortes no estado e principal político genocida do País, atrás apenas do próprio Bolsonaro, para que ele apareça como um elemento aceitável e necessário para derrotar Bolsonaro. Tal como a burguesia fez com Biden, que não tinha apoio popular nenhum, mas que acabou aglutinando setores dos trabalhadores, dos negros, dos latinos e da esquerda, assustados pela campanha da burguesia, que usou Trump como espantalho .
A articulação é clara. O problema para a burguesia é que diferente dos EUA, no Brasil a esquerda tem o maior candidato do país, que pode agrupar em torno de si o apoio majoritário da classe trabalhadora e derrotar qualquer candidato da direita. Se a burguesia entrou de cabeça na candidatura de Doria, os trabalhadores precisam colocar em marcha a candidatura de Lula para 2022.