O jornal Hora do Povo é o órgão do antigo grupo chamado MR8, que até 2009 era uma corrente interna do PMDB. Um grupo de tradição burocrática, ligado a antigos grupos stalinistas. Em 2009, criaram o PPL (Partido Pátria Livre). Em 2018, fundiram-se ao PCdoB para que ambos escapassem das imposições da cláusula de barreiras. Em resumo, embora tenha seu próprio jornal, o grupo é um setor significativo do PCdoB.
Esse grupo, dando mostras de sua política direitista, criticou a CUT e demais organizações que recuaram do convite feito ao governador de São Paulo, o tucano João Doria, para participar do “ato” virtual de 1º de Maio. Em matéria do último dia 30 de abril, está dito que “o veto da CUT à participação do governador de São Paulo, João Doria, no ato do próximo Primeiro de Maio, somente pode ser visto como uma ajuda a Bolsonaro, para que continue seu ataque criminoso”.
A grande “luta contra Bolsonaro” para o grupo do PCdoB é a aliança com João Doria, aquele mesmo que se elegeu com base no slogan “Bolsodoria”, defendendo todos os absurdos fascistas que defende Jair Bolsonaro. Doria, cuja política é privatizar tudo o que pertence ao povo de São Paulo. Nem caberia aqui a ficha política com as sujeiras de Doria e de seu partido.
A grande pergunta é: como a aliança com Doria seria uma saída para combater Bolsonaro? Claramente a ideia é absurda. Tal política vem de uma ala extremada da frente ampla, que defende a aliança com a direita. Aqueles que defendem que a esquerda e as organizações do povo não podem ter uma política independente. Seria preciso ficar totalmente a reboque da direita para derrotar Bolsonaro.
O grupo de Hora do Povo já havia declarado voto em Bruno Covas no segundo turno das eleições municipais em São Paulo. Esse grupo, que hoje se encontra no PCdoB, tem ligações tradicionais com a burguesia e a direita, tendo feito parte, durante décadas, do PMDB.
A posição da Hora do Povo mostra que os convites feitos a elementos como FHC e outros para participar do 1º de Maio partiu principalmente de setores patronais das ditas “centrais” sindicais, o que mostra o erro da CUT não apenas em aceitar a participação da direita no ato virtual, mas da própria aliança com essas “centrais” patronais como a Força Sindical.
O veto a Doria partiu de setores da CUT que entenderam que a participação do governador, que nesse momento, entre outras coisas, ataca os professores estaduais obrigando-os a darem aulas presenciais em meio à pandemia, seria exageradamente desmoralizante para as próprias burocracias sindicais.
O veto, em si, não está errado, mas é preciso dizer que não há nenhuma diferença entre Doria, FHC e outros que participaram ou foram convidados a participar do ato. Trata-se, de qualquer forma, de uma política que prostitui a data mais importante da luta de todos os trabalhadores e oprimidos no mundo todo. Doria ataca os professores hoje, FHC atacou os trabalhadores e toda a economia nacional em seus oito anos de governo. Figuras como essas deveriam não apenas estar muito longe de um ato de 1º de Maio como serem repudiadas em qualquer manifestação da esquerda.
Para Hora do Povo, a decisão da CUT foi “antidemocrática”: “No caso do veto ao governador João Doria, temos a submissão da maioria a uma minoria – ou seja, à CUT, de onde veio o veto. É, portanto, um veto vergonhoso, além de antidemocrático”, diz o artigo.
Se há algo de antidemocrático nessa história toda é justamente os convites feitos aos inimigos dos trabalhadores. A CUT, ao se aliar com as “centrais” patronais e grupos direitistas como Hora do Povo, abre a brecha para uma política que vai totalmente contra os interesses dos trabalhadores, ou seja, uma política, essa sim, autoritária. Ou alguém acredita que FHC, Doria e cia seriam bem recebidos pelos trabalhadores em um ato de verdade? Ou alguém acredita que tais convites a elementos patronais seriam aprovados por trabalhadores de base?
É um cinismo de Hora do Povo. Não se trata aqui de discutir o que é democrático ou antidemocrático, mas do conteúdo político do ato de 1º de Maio com a direita golpista. Mais ainda, trata-se de saber se as organizações operárias terão uma política independente ou se serão colocadas completamente a reboque dos piores inimigos dos trabalhadores.
