Em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (9), o governador de São Paulo, João Dória Jr. (PSDB), comemorou uma suposta “recuperação econômica” do estado.
A base para essas declarações públicas foi um relatório da Fundação Seade que dá conta de um crescimento do PIB paulista de 4,5%, 5,5% e 2,1% para os meses de maio, junho e julho, respectivamente.
O governador atribui tal resultado a si mesmo, e declarou à imprensa que o governo de São Paulo está colocando em prática um plano de investimentos que gerará muito crescimento, empregos e renda até o ano de 2022.
“Temos trabalhado em dois eixos. O primeiro é o plano de investimentos para recuperação econômica, denominado retomada 2021/2022, com busca de investimentos internos e externos. E o segundo eixo é a reforma e modernização administrativa que enviamos à Assembleia Legislativa com propostas para o enxugamento da máquina pública do Estado” – declarou o governador à imprensa.
Cabe aqui a pergunta natural: Estaria a economia paulista em um ciclo virtuoso de prosperidade econômica, com a redução do desemprego e o aumento da renda dos trabalhadores, como nos quer fazer crer o governador? Estaria o estado de São Paulo sendo equipado com uma nova infraestrutura que dinamize a produtividade da economia?
Contrariando a análise de conjuntura econômica da própria Seade, que detalha uma catástrofe econômica no primeiro trimestre do ano (antes, portanto, do início da pandemia no Brasil), o governo tenta ludibriar a população, fazendo crer que a situação econômica é muito melhor do que de fato é.
A maior parte dos indicadores econômicos brasileiros, tanto nacionais quanto estaduais, não são projetados para revelar a situação social de forma clara, mas sim para assessorar a política econômica burguesa.
Desta forma, não existe um índice claro, por exemplo, do real desemprego no país. Os critérios do que são “desempregados” são estabelecidos de forma a ocultar o máximo possível a real dimensão desse flagelo. Para o IBGE, que produz a estatística nacional, um vendedor de balas ou pano alvejado nos semáforos das grandes cidades não é um desempregado, assim como uma dona de casa ou um estudante que não trabalha. Um desempregado que não procura emprego, para o IBGE, também não é um desempregado.
Da mesma forma, o índice preferido para a economia é o PIB (produto interno bruto), que é uma somatória que indica a quantidade de riqueza produzida no país ou no estado. Esse índice, no entanto, não diz nada sobre como essa riqueza é apropriada. A pobreza pode crescer exponencialmente no país e ao mesmo tempo o PIB pode ter um crescimento espetacular. E, de fato, ainda que a quantidade de riquezas produzidas no país não aumente de forma relevante, a pobreza cresce exponencialmente no Brasil.
Dito isso sobre as estatísticas, vamos à realidade. Os governos do atual regime político brasileiro, em conjunto, obedecem a um programa da burguesia na área econômica: destruição dos direitos trabalhistas (isto é, do emprego), destruição dos serviços públicos e privatização ou simples destruição das empresas estatais, com vistas a transferir esses recursos ao controle dos capitalistas. O governo de João Dória Jr. em São Paulo, nesse sentido, tem sido um verdadeiro campeão da burguesia.
Várias empresas estatais, como a Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano), Codasp (Companhia de Desenvolvimento Agrícola de São Paulo) e CPOS (Companhia Paulista de Obras e Serviços) foram extintas por João Doria.
No que tange às condições de vida da população, basta dizer que o governo estadual simplesmente está deixando a população ao relento, sem qualquer programa de auxílio, em meio à pior epidemia dos últimos 100 anos. O estado de São Paulo tem hoje mais de 870.000 infectados por Covid-19 e mais de 32.000 mortos, compartilhando com o estado de Nova York, nos EUA, a condição de campeão mundial de mortes e infectados, um descalabro total.
Em razão da pandemia, milhões de empregos foram perdidos, e milhões de pessoas passam fome hoje no Brasil. No estado, todas as obras de metrôs, ferrovias, estradas, que poderiam gerar muitos empregos, estão paradas por determinação do governador, indicando que “investimento”, para João Dória, é especulação no mercado financeiro.
O governador fala de “reforma e modernização administrativa”, que é um eufemismo para o ataque contra as condições de trabalho dos servidores públicos. Os concursos públicos também estão suspensos desde o início de seu governo, deixando milhares de profissionais como os professores estaduais à deriva, em contratos absolutamente precários, sem receber salário na pandemia.
Para as crianças do estado de São Paulo, muitas dependentes da merenda escolar para ter uma alimentação diária, o governador propôs um “auxílio” de 55 reais mensais, valor proporcional ao apreço do governador pela vida do povo paulista. Não poderia ser diferente, uma vez que, quando prefeito, João Dória Jr. propôs alimentar as crianças com ração, como se fossem cães.
Até mesmo um dos problemas mais básicos de economia, o problema do abastecimento alimentar, não tem da parte do governo de João Dória nenhuma política. Enquanto o saco de arroz tem uma inflação totalmente descabida, o governador, que poderia mobilizar o Ceagesp para garantir a alimentação da população, nada faz.
Por tudo isso e muito, muito mais, a “comemoração” do governador sobre os índices econômicos é, na verdade, a comemoração do avanço da exploração capitalista, do aumento dos lucros da burguesia em meio a uma gravíssima crise social, que é explorada para aumentar a acumulação capitalista. Este é o verdadeiro significado do termo “economia” para ele.
Já as condições de vida da população em geral estão sob ataque ininterrupto. Por isso, é necessário, através da organização popular, contrapor esse governo de extrema-direita, que está disposto a esmagar a população para garantir os lucros de um capitalismo em crise degenerativa. Pelos interesses dos trabalhadores, mobilizar pelo Fora Doria, um golpista de primeira ordem.