Pouco mais de uma semana após o golpe de 2016, ocorrido em 17 de abril do referido ano, o dólar voltou a disparar, refletindo a expressiva deterioração da economia global de conjunto e a brasileira especialmente, que sob a condução da política neoliberal, vê a moeda nacional se desvalorizando em mais de 30% desde a derrubada ilegítima da ex-presidenta petista Dilma Rousseff.
Não é demais lembrar, na histórica sessão em que este verdadeiro circo de horrores chamado Câmara dos Deputados mostrou um pouco da completa insanidade do sistema político brasileiro, os deputados menos escatológicos (isto é, aqueles que não estavam fundamentando seu voto favorável à derrubada da presidenta no filho que ia nascer ou em alguma loucura do gênero) diziam ser favoráveis ao golpe para que a economia voltasse a crescer. Claro que era uma demagogia, e pior, o resultado ficou muito longe da realidade mas seguindo a máxima de que a verdade é sempre concreta, vamos verificar o quanto a situação brasileira se deteriorou nos últimos 4 anos.
A primeira coisa a se destacar é a hoje inexistente “barreira psicológica” do dólar. Retomada pelo Valor, e apenas em função da alta explosiva da moeda norte americana ao ultrapassar o marco histórico de R$5,00 em março deste ano, em 2016, refletindo o espírito da publicidade de guerra vigente na imprensa burguesa na ocasião da mobilização golpista, “barreira psicológica” era um vocábulo quase onipresente, tal qual o famigerado (e igualmente estúpido) “pedalada fiscal”. Hoje, o termo assume um caráter quase cômico ao lembrarmos que o valor apocalíptico se referia a menos de R$4,00. Com a desvalorização do real superando a cotação de R$5,40 no pregão da bolsa de valores de São Paulo, um dos indicadores mais elementares para se medir a saúde da economia de um país atrasado mostra o retumbante fracasso do projeto econômico que se impôs à população com pela força da burguesia. Mas tem mais.
A inflação, tida como um dos vilões que ameaçavam a vida da população explodiu desde então, sempre em níveis muito superiores à taxa de crescimento do PIB, que por sua vez, teve sua própria expansão igualmente inferior a taxa básica de juros, comprovando a tese de que só os banqueiros tem motivos para comemorar de maneira tão efusiva quanto o Itaú, que viu em 2019 “uma situação tão boa como nunca vi”.
Por exemplo, para que a economia ganhasse o bastante para compensar apenas as perdas da inflação (medida pelo IPCA em 6,29% no em 2016), o PIB teria de terminar o ano do golpe com R$6,6 trilhões de reais, porém, o resultado de R$6,3 trilhões deixou o PIB 5,91% abaixo do necessário. A mesma operação, sendo realizada para os anos de 2017, 2018 e 2019 revelam que a defasagem entre o que a economia “cresceu” e o que a inflação correu implica em perdas para a classe trabalhadora superiores a R$1,1 trilhão.
No mesmo período e no sentido exatamente oposto, a taxa básica de juros fechou todos os anos superior não apenas ao crescimento do PIB mas também da inflação, fechando 2016 com 13,75% ao ano, 7% em 2017, 6,5% em 2018 e 5% em 2019.
As limitações da política de conciliação de classes, dramaticamente expostas pela sequência de eventos posteriores ao golpe em 2016 (incluindo a prisão arbitrária do ex-presidente Lula dois anos depois) provam a inviabilidade prática de uma política econômica que não passe pela expropriação da burguesia e dos negócios imperialistas em solo nacional. Numa manifestação prática do enunciado de Marx no Manifesto Comunista, o que a burguesia cedeu, num momento em que se sentiu ameaçada, rapidamente foi tomado. Só a independência política da classe trabalhadora pode impor um regime onde a ameaça burguesa seja definitivamente superada.