Marcelo Crivella e João Doria disseram exatamente as mesmas coisas depois que as chuvas caíram sobre o Rio e São Paulo deixando um rastro de devastação e mortes. Não é coincidência. Trata-se de uma política contra os interesses da maioria da população e em particular dos trabalhadores, dos mais pobres e oprimidos.
Quando, em março, as chuvas fizeram 12 mortos na capital e deixaram 800 pontos de alagamento na Grande São Paulo, o governador João Doria (PSDB) afirmou que a quantidade de chuva foi “surpreendente”.
Nessa semana, diante do temporal que deixou pelo menos quatro mortos e vários pontos de alagamento, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), disse textualmente que “as chuvas que caíram são anormais, nenhum de nós esperava um volume desses”.
Ambos conclamaram a população a não sair de casa, como se os trabalhadores tivessem outra opção diante da possibilidade de perder seus empregos.
Pegos “de surpresa” pela água que cai regularmente todos os anos, os exímios administradores da burguesia não conseguem esconder que a culpa pelos estragos e perdas humanas é deles mesmos.
A prefeitura de S. Paulo gastou menos da metade da verba destinada a combater as enchentes no último ano. No Rio, Crivella não gastou nenhum centavo do orçamento destinado ao mesmo fim neste ano. As verbas dedicadas a mitigar os efeitos das chuvas são um dos alvos prediletos na “contenção de gastos” das prefeituras. É um dinheiro que é desviado para outros fins, normalmente os bancos, a dívida pública e as privatizações.
À esta altura em 2018, a prefeitura de S. Paulo havia gasto apenas 32% da verba. Dez anos atrás, Gilberto Kassab (então no DEM, hoje no PSD) havia gasto apenas 7% do orçamento destinado aos piscinões. Ao todo, em seu mandato, apenas 8,3% da verba contra enchentes foram aplicados.
Crivella tem números semelhantes. Em dois anos, gastou apenas 22% da verba de enchentes. Neste ano, zero, como já vimos. A prefeitura do Rio reduziu em 77% as verbas destinadas a obras de controle das águas pluviais nos últimos cinco anos. Caiu de R$294 milhões em 2014 para R$66 milhões em 2018, passando por meros R$14 milhões em 2017.
Não dá para culpar São Pedro por ter enviado água demais. Os culpados pela destruição e sofrimento do povo são os governos serviçais da burguesia e do grande capital, que escravizam a população com impostos e taxas para entregar recursos para os bancos.
Em tempo: recomendo a entrevista da Causa Operária TV com o arquiteto e urbanista Patryck Carvalho, sobre a relação entre as chuvas e o caos gerado pela política da direita, de março deste ano.