“Documentário” sobre 1964: fraude, mentiras e faz-de-conta

O “documentário” que a extrema-direita lançou no Dia da Mentira, intitulado “1964: o Brasil entre armas e livros” é uma peça de propaganda descarada dos devaneios do ex-astrólogo de jornal, Olavo de Carvalho, e seus abilolados zumbis (pode parecer uma redundância, mas é uma deferência aos zumbis meramente inconscientes), gente que define, por exemplo, o nazismo como sendo uma ideologia de esquerda e que lança dúvidas ao movimento de translação da Terra em torno do Sol.

A parte mais cruel do esforço gástrico (como dever de ofício) de assistir ao filme gratuitamente (essa gente é tão boazinha, só quer nosso cérebro) na Internet é, depois, ser perseguido com anúncios de novos cursos de Olavo de Carvalho por todo lado que se clique. “Não perca, novas turmas estão sendo formadas” ou “contribua com a nossa causa, torne-se um membro”.

Na página da produtora Brasil Paralelo (portanto, declaradamente fora da realidade) é explicado que são os membros que financiam tudo. Além desse “documentário” (completamente avesso à documentação histórica), os meninos do Sul produziram antes quatro séries: “O Teatro das Tesouras” (em 7 episódios, recontando uma visão paralela de 1989 a 2014, de Collor a Dilma), “O Dia Depois da Eleição” (em 5 episódios, cada qual com subtítulos próprios como “O Que Sobrou do Brasil após cada eleição?”), “Brasil, A Última Cruzada” (em 6 episódios que trazem versões pitorescas desde o enfrentamento de cristãos e mouros na Europa até a “era Vargas”) e “Congresso Brasil Paralelo” (em 6 capítulos que tentam confundir as “raízes dos problemas brasileiros”).

O “documentário” e todos os capítulos das quatro séries podem ser assistidos gratuitamente na Internet (brasilparalelo.com.br) e depois você será bombardeado por propagandas dos cursos de Olavo de Carvalho e outros palestrantes de equivalente calibre, como Luiz Felipe Pondé ou Joyce Hasselmann. As palestras e cursos proferidas por mentes tão “elevadas” não são grátis. Eles pegam seu dinheiro. Mas quem se tornar membro passa a ter acesso a um conteúdo exclusivo que os não-membros só ousam imaginar revelações mirabolantes e sacrifícios humanos (dos membros pagantes).

Estes, os membros pagantes, podem demonstrar sua devoção ao guru e sustentar o ataque ao Brasil Original optando pelo plano “basic” (12 x R$39,99) ou “master” (12 x R$57,29), e são levados a crer que são muito importantes e estão realmente, finalmente, financiando a propagação das verdades há tempos sonegadas pela ameaçadora conspiração marxista internacional e local.

Além disso, há outras formas de você perder dinheiro e encher o cofrinho da extrema-direita. Você pode comprar livros ou fazer cursos, como o ministrado pelo advogado Ricardo Gomes, que ensina “A Origem do Estado” (incluindo uma tal “desconstrução das origens e formação do Estado Francês”) por módicos R$ 549,00 (12xR$53,49), com acesso a todos os módulos, “corra para garantir sua vaga”, ou a grande vedete da casa: R$ 588,00 ao ano (12xR$57,29) para ter direito a todos os cursos desse tal Brasil Diferente do Normal, aulas semanais AO VIVO (ameaçadoramente), ter acesso a todo o conteúdo da biblioteca de vídeos, ao grupo de Whatsapp (socorro!), à comunidade exclusiva de membros (fazer um tricô com a Joyce ou um papo-cabeça com o Frota, por exemplo, não tem preço) e desconto em eventos presenciais.

Não é demais?

Por uma ninharia você salta ao mesmo nível do chanceler Ernesto Araújo, do ex-ministro sem Educação Vélez Rodriguez e pode até passar a ver Jesus no pé de goiaba. Você vai repetir, até para os alemães e judeus, que os nazistas eram socialistas e que em 1964 aconteceu uma coisa muito boa (com alguns probleminhas apenas) para evitar que o Brasil se transformasse numa ditadura comunista.

No caso do “documentário” de 1º de abril, nos créditos finais, aparecem “agradecimentos especiais” a sete pessoas que, provavelmente, (des) nortearam os trabalhos: além do Olavo de Carvalho, que manda e desmanda nos Bolsonaros (pai e filhos), Lucas Berlanza, Mauro Abrantes (ou “Abranches”?) Kraenski, Rafael Nogueira, Renor Oliver Filho, Thomas Giulliano e Vládimir Petrilák. Berlanza é assessor de imprensa, colunista do Instituto Liberal e autor do “Guia Bibliográfico da Nova Direita”. Kraenski e Petrilák são co-autores do livro “1964: o elo perdido – o Brasil nos arquivos do serviço secreto comunista”. Nogueira é professor de tudo (Geografia, Ética e Cidadania, Empreendedorismo, Sociologia, Inglês, Redação, História, Filosofia, Humanidades, Redação etc) de um tal Instituto Conservador, que está preparando um livro e futuro filme sobre “os pais fundadores dos Estados Unidos”. Renor é um jovem advogado olavete de carteirinha e o grande Giulliano escreveu o livro “Desconstruindo Paulo Freire” e tem dado entrevistas defendendo “a escola sem partido”.

É preciso elogiar, tecnicamente, não só o “documentário” como todas as produções do Brasil Sem Pé Nem Cabeça, incluindo o sítio na internet e a agressiva e maciça campanha publicitária. São profissionais nível hollywoodiano. Quem sabe realmente sejam. Será, mesmo, que toda essa operação casada (junto com lançamentos de livros e remuneração de palestrantes) é financiada pelo passa-chapéu entre brasileiros anônimos e crentes nesse admirável mundo novo?

Óbvio que não. O Instituto Liberal, por exemplo, é um think tank exportado pelos Estados Unidos e ligado diretamente a esse país, logicamente com muito dinheiro. O mesmo vale para outras entidades que estão, assim como o Instituto Liberal, por detrás dessa peça de propaganda enganosa. Em um determinado momento do “documentário”, Olavo de Carvalho garante que os EUA não estiveram envolvidos no golpe de 1964, o que é facilmente desmentido por documentos oficiais do governo dos EUA reproduzidos em um documentário de verdade como é O Dia que Durou 21 Anos.

Mas, por que Carvalho arrisca a sua já patética reputação (que nunca chegou a ultrapassar a superfície da terra) defendendo o indefensável “argumento” de que os EUA nunca promoveram o golpe em 1964? Um ramo no qual a Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA sempre investiu é a produção e difusão de filmes que atacam o comunismo, o socialismo, os governos nacionalistas e defendem a “democracia” e a “liberdade” expressadas pelos EUA. Levando em conta os entrevistados nacionais e estrangeiros – os quais estão envolvidos diretamente com o imperialismo – não se deve descartar a promoção de mais essa propaganda enganosa chamada “1964: entre armas e livros”, mesmo que indiretamente (como é de costume, para dificultar o seu rastreamento) por parte dos próprios órgãos do governo norte-americano.

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