Assim como foi demostrado na campanha “contra a corrupção” na Operação Lava Jato, a esquerda pequeno burguesa tem uma idolatria pelas instituições “democráticas”, com especial relevo pelo judiciário. Agora, após a prisão dos bolsonaristas, os egressos do PSTU (Resistência-PSOL) exaltam a “solidez” das instituições, defendendo a tese que o judiciário golpista é o grande defensor da democracia, e principal obstáculo aos planos golpistas de Bolsonaro.
No artigo “Punir as milícias bolsonaristas e os ataques de Bolsonaro à democracia”, assinado por André Freire, publicado no site esquerdaonline, é relatado o cerco realizado pelo STF contra Bolsonaro.
Incialmente são apresentadas as ameaças de golpe de Estado proferidas por Bolsonaro, a manifestação em frente o STF em Brasília pelo grupo dos “300 pelo Brasil” e a participação do agora ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub em ato em Brasília.
Em seguida, André Freire relata a “epopeia” do STF em defesa da “ democracia”:
“Na segunda-feira, dia 15, o STF reagiu. Por decisão do ministro Alexandre de Moraes, no âmbito da investigação do STF contra os atos antidemocráticos e golpistas, aberta a pedido da própria Procuradoria Geral da República (PGR), a extremista neofascista Sara Geromini (“Winter”), chefe do grupo “300”, foi presa em Brasília, junto com outros cinco integrantes desta organização criminosa. Na terça-feira, 16, também como parte da mesma investigação que tramita no STF, Moraes autorizou novas diligências contra 21 políticos, blogueiros e empresários, todos apoiadores do atual presidente e possíveis financiadores de ações golpistas e antidemocráticas. Logo em seguida, foi definido também a quebra de sigilos bancário de 10 deputados bolsonaristas.”
Essas prisões e diligências do STF, autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes foram comemorados por boa parte da esquerda, que apoiaram o uso da Lei da Segurança Nacional para enquadrar os manifestantes e apoiadores bolsonaristas. Para o colunista do partido defensor da “liberdade”, as decisões do STF não são “ decisões abusivas” e até demoram muito em acontecer.
“Estes novos capítulos da crise política e institucional vem confirmar a impossibilidade da existência de uma normalidade democrática enquanto se mantiver este governo autoritário e neofascista. Longe de tomar decisões abusivas, o STF até hesitou demais e demorou em tomar atitudes mais concretas contra a escalada autoritária desferida pelo governo Bolsonaro.” ( site esquerdaonline)
Segundo André Freire como o governo é “autoritário e neofascista”, não se pode ter “normalidade democrática”, e, portanto, não importa se o STF e o judiciário agem de forma autoritária para deter a “escalada autoritária desferida pelo governo Bolsonaro”. Assim, “atitudes concretas” com estabelecimento de censura, prisão arbitrária e proibição de manifestações são bem vindas, desde que usadas contra os neofascistas. Nesse terreno jurídico, “não pode haver vacilações, todas as investigações em curso devem prosseguir, de forma cada vez mais ágil, profunda e transparentes, doa a quem doer”, afirma Freire.
Sob o ponto de vista da esquerda pequeno burguesa, o judiciário que teve o papel fundamental no golpe de Estado em 2016, e na escandalosa fraude na eleição de Bolsonaro, quando vetou ilegalmente candidatura do o ex-presidente Lula, e que constantemente permite a retirada de direitos dos trabalhadores pode ser não somente o árbitro na situação política, mas o porrete “ democrático” contra o bolsonarismo.
O que essa posição não se dá conta é que a disputa entre STF e o governo Bolsonaro é parte da luta política entre os golpistas. A atuação dos ministros do judiciário não é a “defesa da democracia”, mas uma tentativa de enquadrar o governo Bolsonaro. O cerceamento da liberdade de expressão, a proibição de manifestação e prisões sem o devido processo legal usadas contra a raia miúda da extrema direita, invariavelmente se voltara contra a esquerda mais adiante.
Inegavelmente, a confusão política reina nas hostes da esquerda. Os egressos do PSTU, convertidos em PSOL, não somente não conseguem perceber os contornos da luta política, como defendem de maneira ainda mais virulenta o fechamento do regime política pelas “instituições democráticas”, tendo como pretexto o “ combate ao bolsonarismo”.
“Não devemos cair nesta mais nova esparrela de Bolsonaro e seus apoiadores golpistas. Não devem existir direitos democráticos garantidos para aqueles que defendem o fim de toda e qualquer liberdade democrática e do próprio regime político atual. Suas ações ferem os preceitos constitucionais brasileiros, portanto, devem ser punidos de forma exemplar.”
Em outras palavras, os senhores juízes e seus tribunais não devem cair em uma “esparrela de Bolsonaro” de exigir “ direitos democráticos”, uma vez que os bolsonaristas defendem o fim da liberdade democrática. A questão não é simplesmente os direitos democráticos dos bolsonaristas, mas a retirada dos direitos democráticos em si mesmo. Um exemplo disso é o suposto combate das fakes News, em nome do combate das “mentiras” da extrema direita, se impõe uma censura geral.
Por outro lado, o ponto fundamental da posição de André Freire é o fato que na prática coloca nas mãos do judiciário golpista a primazia para definir quando e como aplicar os “preceitos constitucionais”. Aparentemente as posições defendidas pelo autor são “radicais” e “ combativas” mas na prática indicam uma completa prostração política diante do bolsonarismo. Além do mais colocar nas instituições do regime político controlado pela direita golpista para “conter” a extrema direita é ficar em posição de espectador á reboque da direita.