Acima de tudo, Roger Waters é conhecido internacionalmente por ser um músico e cantor inglês e um dos fundadores da famosa banda de rock progressivo Pink Floyd, onde atuava como baterista, vocalista e compositor, enfim, como a liderança do grupo. Além disso, por conta de suas posições políticas, se transformou numa espécie de referência da esquerda pequeno-burguesa internacional. No entanto, não é este o tema da matéria. Trataremos aqui dos ataques desferidos por Djamila Ribeiro, conhecida intelectual da esquerda pequeno-burguesa identitária brasileira em seu Instagram a Waters, que criticou Milton Nascimento por sujeitar-se a fazer uma apresentação no genocida Estado de Israel.
Sendo esquerdista, Djamila não poderia deixar de apresentar, primeiramente, o quanto condena o Estado de Israel, que promove um massacre sistemático do povo palestino. Em seguida, ela entra em seu argumento principal: não faria sentido Roger Waters puxar a orelha de Milton Nascimento por furar o boicote artístico internacional à Israel, afinal, se Milton não pode fazer um show em Israel, Waters não poderia fazer um show no Brasil. Precisamos destacar, no entanto, que a crítica de Djamila não tem pé nem cabeça. Primeiro por que já existe uma campanha internacional de boicote contra o Estado de Israel de conjunto, portanto Waters tem todo o direito de cobrar de Milton que ele também entre no boicote. O mesmo não ocorre contra o estado golpista brasileiro. Podemos discutir se a política de boicote artístico à Israel tem ou não um papel decisivo na luta contra este país imperialista , mas o fato é que a campanha existe.
Se esta lógica sectária fosse levada ao extremo, Waters, um cantor que logicamente possui interesses financeiros de proporções consideráveis não poderia tocar em absolutamente nenhum país do mundo, a começar pela totalidade dos países capitalistas, incluindo a própria Inglaterra e os Estados Unidos, o que faria que ele tivesse que buscar a aposentadoria. E mais, temos que levar em consideração também que Roger Waters, quando esteve no Brasil, criticou duramente a política direitista de Bolsonaro. Já Milton Nascimento não fará nenhuma crítica à Israel em sua apresentação. Pelo contrário, neste último caso o que nós vemos é uma campanha de cooptação israelense de artistas e políticos internacionais, numa tentativa de aliviar a barra deste Estado criminoso.
Como alguns poucos exemplos de lobby israelense no caso brasileiro, temos aí o notório caso de Jean Wyllys, que se destacou como defensor de Israel na esquerda brasileira e o show que Caetano Veloso e Gilberto Gil realizaram no país, que também foi criticado por Waters na época. No entanto, um caso que chama muito mais atenção é que o governo israelense também apoia Bolsonaro, como já se sabe deste a famosa palestra no clube israelense.
Finalmente, destacamos também o aspecto final do que disse Djamila nesta postarem. Além de acusar Waters de ser um ‘ídolo perfeito de uma esquerda burguesa metida a revolucionária’, o problema fundamental é que ele estaria ignorando a execução sistemática de negros no Brasil. Ou seja, estamos diante mais uma vez da política identitária, pelo fato de não ser negro, Roger Waters não se importaria com o massacre dos negros no Brasil e por isso ele não boicota o Brasil.
Trata-se de um argumento muito fajuto. Waters de fato é milionário e britânico, e mesmo que fosse uma espécie de “ídolo perfeito de uma esquerda burguesa”, nas palavras de Djamila, não é isto que está em questão. Independente de Roger Waters ser quem ele é, isto não invalida nada de suas posições políticas e principalmente, da realidade que ele denuncia. O fato, que Djamila afirmava ter tanta preocupação logo no início de sua postagem, é que o Estado de Israel pratica uma política genocida e criminosa não só contra os palestinos mas também contra todo o povo árabe no Oriente Médio, e que a classe artística minimamente democrática em todo o mundo já boicota Israel. Em suma, Waters tem toda a razão no “puxão de orelha” dado em Milton Nascimento, por furar esse bloqueio e a crítica formulada por Djamila é essencialmente confusa e identitária.