Há cinco anos, em 14 de agosto de 2013, o Exército do regime militar egípcio abriu fogo contra 85 mil pessoas na praça Rabaa al-Adawiya no Cairo, matando cerca de 800 manifestantes. O massacre ocorreu um mês após um golpe que depôs à força o presidente democraticamente eleito Mohamed Morsi, ensejando a ocupação permanente da praça por uma multidão em apoio ao seu grupo, a Irmandade Muçulmana.
Com a chamada Primavera Árabe em 2010, milhões de pessoas foram às ruas no Norte da África e Oriente Médio para depor os governos nacionalistas da região. Esses movimentos, organizados por meio das redes sociais, foram a primeira articulação em nível internacional do tipo de golpe de Estado que o imperialismo urdia para aplicar posteriormente na América Latina. No caso egípcio, o militar Hosni Mubarak seria levado à renúncia ao cargo, sendo sucedido após um processo eleitoral por Mohamed Morsi.
O imperialismo voltaria à carga, com as Forças Armadas egípcias derrubando o presidente e impondo pelas armas um regime militar em julho de 2013, encabeçado pelo general Abdel Fattah Al-Sisi.
Ante novas mobilizações de massa, os militares e o grande capital reagiriam como de hábito: perseguindo, torturando, matando, o povo, suas organizações e lideranças. O massacre da praça Rabaa foi o caso mais extremo e representativo de reação do golpismo global a mobilizações populares que não tenham sido urdidas por think-thanks de direita e impulsionadas por robôs em redes sociais.
Desde então, centenas de manifestantes presos na praça foram condenados sistematicamente em julgamentos em massa – em julho, um tribunal condenou 75 deles à morte. Também Morsi foi condenado a mais de 20 anos de prisão em diversos casos, e a Irmandade Muçulmana foi proscrita. Por outro lado, as supostas investigações conduzidas pelos militares, evidentemente não apontaram culpado algum pelo cruel massacre.
O episódio e seus desdobramentos mostram que, ao contrário do que crêem alguns setores de esquerda, o golpe militar é um recurso sempre à mão do imperialismo. Toda articulação nesse sentido deve ser denunciada – sobretudo nos países da América Latina que vêm sofrendo golpes de Estado nos últimos anos, como o Brasil. As condições, em nosso caso, já foram dadas desde que o governo Temer perdeu força significativamente e se transformou em um “cadáver insepulto”, há mais de um ano e quando a direita golpista se mostra incapaz de conquistar algum apoio popular nas eleições fraudulentas que busca realizar, sem a participação do ex-presidente Lula.