Em artigo intitulado “Estamos Perto de uma Ditadura?”, publicado no diário Esquerda Online, a coluna do Direita Volver coloca a tese de que “hoje um golpe para a implantação de uma ditadura não é o mais provável”. Apesar de todos os indícios colocados pelo próprio artigo, como a invasão de reuniões de militantes opositores a Bolsonaro, a agressão de militantes LGBT do PSOL e a perseguição política a jornalistas, como Glenn Greenwald, a tendência Resistência do PSOL acredita que, nos dias atuais, não é possível uma ditadura no país.
Isso porque, segundo eles, Bolsonaro estaria preocupado com a opinião pública. Com medo de perder aqueles que estão “em cima do muro” e por conta da crise política de seu governo, que tem gerado uma série de mobilizações políticas da oposição.
Porém, isto não condiz com a realidade. O governo já tem uma base, pequena, de sustentação e é com base nisso que tem adotado uma série de medidas ditatoriais – para agradá-la e criar o terreno justamente da ditadura. É verdade que o governo se encontra em uma profunda crise política e que um golpe neste exato momento poderia ocasionar muitos problemas para o regime golpista. Entretanto, trata-se de uma questão de correlação de forças. Bolsonaro, com suas medidas ditatoriais, está com um claro objetivo de enfraquecer a esquerda e reagrupar em torno dele os setores mais direitistas para, justamente, estabelecer uma ditadura no país.
O fato que a situação política esteja insustentável é justamente o que faz com que a ditadura seja uma carta na manga da burguesia. Caso contrário, não faria sentido um regime de força; bastaria utilizar os métodos tradicionais de manutenção do sistema capitalista: o parlamentarismo, eleições, etc.
A verdade é que se a esquerda não sair às ruas, os bolsonaristas talvez consigam dar uma volta por cima e realizar seu objetivo: impor uma ditadura fascista para atacar o movimento operário e popular.
Justamente por isso, acreditar que “hoje um golpe para a implantação de uma ditadura não é o mais provável” é totalmente falso. Para direita, está colocado da seguinte maneira: ou estabelecemos uma ditadura e esmagamos o inimigo, ou a polarização política vai continuar crescendo e o repúdio popular, transferido para mobilizações, também – o que colocaria o governo em situação ainda mais delicada, levando à possível saída de Bolsonaro.
É nesse sentido que esse tipo de ideia pode ser totalmente desmobilizadora, seria como afirmar em 2015 que o impeachment de Dilma Rousseff não era o mais provável pois causaria uma intensa crise política. De fato, a crise foi causada, mas o golpe se mantém. Da mesma forma, a implantação de uma ditadura pode ser uma manobra arriscada para a burguesia, mas se verem que há condições para isso, não hesitarão em efetuar esta medida.
É desmobilizador pois não adverte os trabalhadores e o conjunto da população para o perigo, muito menos aponta a seriedade da luta contra o governo, que precisa ser efetiva e real para impedir que estabeleçam uma ditadura fascista no país.
Por isso, é preciso sair às ruas de forma a combater a ditadura que pode se estabelecer, sabendo que isso pode ocorrer a qualquer momento. Desta forma então, apenas mobilizações constantes, nos bairros e locais centrais, são uma garantia de que o governo não implementará uma ditadura no país.