Até o fechamento desta matéria, 23:30 do horário de Brasília, os Estados Unidos permaneciam em suspense, aguardando o resultado de uma corrida eleitoral controversa, no mínimo. Nenhum dos candidatos estava perto de conquistar os 270 votos necessários para declarar-se vencedor do pleito, entre os 538 delegados. O democrata Joe Biden levava uma ligeira vantagem sobre o atual presidente, Donald Trump, por 131 a 98, segundo a The Associated Press.
Mergulhada na mais severa crise econômica desde o crash de 1929, a nação mais desenvolvida do mundo, pilar central do imperialismo, vive uma crise tão aguda que levou alguns analistas a compararem o país a uma república de bananas. Embora pareça um exagero a princípio, o fato é que o descrédito das eleições americanas já vem de longa data, com o caso memorável da eleição de George W. Bush como o mais contundente exemplo.
Contudo, ao contrário de 2000, as eleições de 2018 se desenvolvem com chagas sociais abertas, em um país convulsionado pela crise econômica, a qual transbordou para os antagonismos sociais, manifestados pela histórica questão racial e, por fim, atingiu o regime político a ponto de produzir situações inesperadas, como o apoio de republicanos ao candidato democrata. Tudo junto, acirrando radicalismos e colocando os EUA em uma situação explosiva.
Fogo “amigo”
O governador republicano de Vermont, Phil Scott, declarou rompimento com o seu partido e apoio à candidatura democrata.
“Decidi votar no ex-vice presidente Biden,” declarou Scott. O governador não é o único. George W. Bush, Mitt Romney e Colin Powell são alguns dos republicanos mais graduados que não estão apoiando o candidato de seu partido mas o democrata Biden. O ex-presidente Bush,chegou a declarar:
“Vimos o nacionalismo se distorcer e virar nativismo, e esquecemos o dinamismo que a imigração sempre trouxe aos Estados Unidos. Vemos diminuir a confiança nos valores do livre mercado e nos esquecemos dos conflitos, da instabilidade e da pobreza que o protecionismo traz consigo. Assistimos à volta dos sentimentos isolacionistas, esquecendo que a segurança da América está diretamente ameaçada pelo caos e o desespero engendrados em lugares longínquos”.
Cumpre lembrar que quando deixou o poder, em 2009, Bush era marcado pela desastrosa guerra do Iraque, escândalos de tortura em Guantánamo, a devastação produzida pelo furacão Katrina e a a incapacidade de lidar com a crise econômica, que o levaram a se tornar um dos mais impopulares ex-presidentes que os EUA já tiveram.
Suspeita de fraude
Já o atual presidente afirmou hoje que os americanos deveriam ter o “direito de conhecer” o vencedor no dia da eleição, na sede da campanha do Partido Republicano na Virgínia. “Deveríamos ter o direito de saber quem ganhou em 3 de novembro”. Sua insatisfação se deve a uma manobra suspeita criada em 2016 e usada por muitos americanos nas eleições presidenciais deste ano: o voto pelos correios.
A queixa de Trump se deve à discordância com a decisão da Suprema Corte, que permitiu ao estado da Pensilvânia continuar contando os votos recebidos pelo correio até três dias após a eleição.
A justificativa para a medida foram as complicações logísticas do país diante da situação da pandemia do coronavírus. O estado teve uma grande quantidade de votos enviados pelo correio. Estado-chave para ambas as candidaturas, tanto Trump quanto Biden, fizeram lá suas campanhas nos últimos dias.
“Você não pode atrasar essas coisas por muitos dias e talvez semanas”, disse Trump “ao mesmo tempo em que os cidadãos americanos votam em todo o país”. Cerca de 100 milhões de americanos votaram pelo sistema novo.
Trump garantiu que recorrerá à Suprema Corte do país para invalidar os votos pelo correio.
A propaganda da imprensa
Os principais veículos de comunicação dos EUA fizeram questão de frisar que, até o fim da tarde do dia 3, a Bolsa de Nova York mostrava-se otimista com uma eventual vitória de Biden no dia das eleições. O Dow Jones Industrial Average fechou em alta de 2,06%, a 27.480,03 pontos.
Inegavelmente, o setor mais poderoso da burguesia viu com bons olhos a vantagem aberta pelo democrata e já antecipa “que muito dinheiro será gasto em uma reativação econômica”, conforme disse um corretor, segundo reportagem do UOL (Bolsa de Nova York fecha em forte alta com expectativa por vitória de Biden, 3/11/2020).
Contudo, há que se ter claro que esse tipo de manifestação já foi vista nas eleições de 2016. Apoiando a candidata Hillary Clinton à época, a imprensa americana dava como certa a vitória da democrata, que acabou derrotada.
Bolsonaro
Endossando outra suspeita que paira sobre o processo eleitoral americano, o presidente ilegítimo do Brasil, Jair Bolsonaro, pronunciou-se a respeito das eleições nos EUA:
“É inegável que as eleições norte-americanas despertam interesses globais, em especial, por influir na geopolítica e na projeção de poder mundiais. Até por isso, no campo das informações, há sempre uma forte suspeita da ingerência de outras potências, no resultado final das urnas”.
Já o vice-presidente, general Mourão, procurou diminuir a notória simpatia de Bolsonaro por Trump, adotando um tom centrista:
“O relacionamento do Brasil com os EUA é de Estado para Estado, independentemente do governo que estiver lá. Óbvio que cada governo tem as suas prioridades, suas características, mas no conjunto da obra vamos continuar com as mesmas ligações”.
Contra o Brasil, pesa os posicionamentos já defendidos pelo democrata, que ameaçou o País com retaliações usando a devastação ambiental como desculpa. Diversas ameaças de endurecimento da política externa dos EUA em relação a Cuba, Venezuela e ao amplo conjunto das forças populares da América Latina foram feitas por Biden e Kamala Harris.