O jornalista Milton Alves, em matéria publicada no Blog de Esmael no dia 20 de julho, apresentou os supostos “desafios” que a esquerda deveria enfrentar nas eleições municipais de 2020: a unidade política da esquerda, nacionalizar a campanha, agenda antineoliberal e reatar com a classe trabalhadora e a população mais pobre. Na discussão, o que mais chamou a atenção foi a ideia de que contra a “dispersão” eleitoral da esquerda seria necessário repensar a política de “alianças”, de modo a não dividir a esquerda.
Milton Alves apresenta essa ideia no seguinte trecho:
“A busca da unidade possível: Em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte o cenário, até o momento, é preocupante, com a dispersão da esquerda em várias candidaturas. Em SP, a candidatura de Guilherme Boulos, pelo PSOL, apresenta maior musculatura política, segundo as ultimas pesquisas. Jilmar Tatto (PT) segue estagnado em torno de minguados 2% e 3%. O PCdoB lançou o deputado federal Orlando Silva. Ou seja, um quadro de dispersão da esquerda, o que pode facilitar a recondução do tucano Bruno Covas ao governo paulistano, um aliado estratégico do governador João Doria. É necessária a redefinição da tática eleitoral do PT em São Paulo. Ou o PT apresenta Fernando Haddad, nome com maior potencial do partido, ou opera uma aliança já no 1º turno com Boulos. No Rio de Janeiro, com a desistência de Marcelo Freixo, o quadro aponta para a fragmentação da esquerda com Benedita da Silva pelo PT, uma candidatura do PSOL e a centro-esquerda (PDT e PSB) apresentando a delegada Marta Rocha, bem situada nas pesquisas”.
A preocupação do jornalista em unificar esforços para combater a extrema-direita é válida. Milton Alves, inclusive, acerta quando, em outro momento, defende que a esquerda utilize as eleições como plataforma da campanha pelo Fora Bolsonaro. No entanto, o raciocínio utilizado pelo jornalista no que diz respeito à escolha das candidaturas não corresponde à realidade.
Em primeiro lugar, o PT é o maior partido de esquerda do Brasil — e um dos maiores do mundo. O partido já ganhou três eleições para a prefeitura de São Paulo, tendo obtido mais de 3,3 milhões de votos em 2012. Enquanto isso, o candidato apresentado como o nome sobre o qual a esquerda deveria forjar uma aliança em São Paulo, Guilherme Boulos, é uma figura desconhecida que irá concorrer por um partido que não goza de popularidade alguma (PSOL). Nas eleições presidenciais de 2018, em que o PSOL recebeu votos de todo o País, Boulos obteve pouco mais que 600 mil votos.
Dizer que o PT lançar candidaturas próprias é uma política de divisão da esquerda é um equívoco. Em primeiro lugar, nos lugares em que o PT está sendo convidado a abrir mão de sua candidatura — Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Sul —, a esquerda não tem outro candidato realmente forte para substituir o partido. Em segundo lugar, a política de “alianças” deve ser vista com bastante cautela, pois, como fica claro no caso do Rio de Janeiro, diz respeito a uma aliança com partidos integrados ao regime político, como o PDT e o PSB. Partidos que contribuíram com o golpe de 2016 e que, entre outras atrocidades, entregaram a base de alcântara para os Estados Unidos.
A política de alianças com a direita e de desistência de candidaturas em nome de figuras impopulares deve ser substituída pela política de mobilização dos trabalhadores. É preciso intensificar a mobilização e colocar, ja, o governo Bolsonaro abaixo.