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Política da direita

Diretório nacional do PSOL vota pelo fica Bolsonaro

Em reunião ocorrida no último fim de semana (26 e 27), a direção do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) decidiu continuar na política desastrosa de "resistência".

Nos dias 26 e 27, o setor mais combativo da luta contra o golpe estava se organizando para participar da maior manifestação pela liberdade do Lula dos últimos meses – o ato nacional em Curitiba, realizado no dia do aniversário do ex-presidente. Ao mesmo tempo, a direção do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), por outro lado, que não compareceu o ato, se reunia para decidir que o “Fora Bolsonaro” continuaria fora de seu eixo de atuação.

O resultado da reunião foi divulgado em uma resolução com onze pontos, que já foi criticada por este diário na edição de ontem (30). Por sua vez, o objetivo do artigo da edição de hoje (31) é denunciar a atuação da ala mais direitista do Diretório Nacional do PSOL, que procurou impedir que o “Fora Bolsonaro” aparecesse na resolução final da reunião.

O agrupamento Esquerda Marxista, que saiu do PT em 2015 e ingressou no PSOL, publicou, em seu sítio eletrônico, no dia 28 de outubro, um artigo intitulado Diretório Nacional do PSOL fica dividido sobre “Fora Bolsonaro”. No artigo, o agrupamento narra alguns acontecimentos que ajudam a entender porque o PSOL continua imerso em uma política paralisante.

Onda conservadora ou revolução?

Segundo o artigo da Esquerda Marxista, o campo majoritário do PSOL, ligado a Guilherme Boulos e Ivan Valente teria afirmado que há uma “onda conservadora” no mundo, de modo tal que a derrubada do governo Bolsonaro seria inviável:

No início da discussão internacional, vários dirigentes do partido, principalmente ligados ao campo majoritário “Aliança” (que conta com Boulos, alguns parlamentares, como Ivan Valente, e algumas correntes do partido, como Primavera, Fortalecer, Insurgência, Resistência, LSR) tentaram relativizar o que está acontecendo no Chile e outros lugares, combatendo a tese de que o Brasil pode ser afetado por esses processos. Essas correntes de pensamento dentro do PSOL se unem em torno da tese de que há uma “onda conservadora” que varre o Brasil e o mundo. Para eles, vivemos uma época onde as ideias progressistas não têm espaço e é necessário resistir ao conservadorismo defendendo a democracia burguesa, buscando pontos de apoio onde quer que haja um resquício de progressismo, mesmo que isso signifique submeter-se a alianças não somente com PT e PCdoB, mas até mesmo partidos burgueses e figuras notáveis da direita brasileira. Vale tudo “em defesa da democracia”.

Esse tipo de concepção aparece na resolução da reunião do Diretório Nacional do PSOL. No oitavo ponto da resolução, o PSOL afirma que a “saída” para deter o governo Bolsonaro poderia ser “mais ampla”. No sétimo ponto, o PSOL propõe se aliar com setores “bem além da esquerda”. Ou seja, a política proposta pela resolução do Diretório Nacional do PSOL – que seria, segundo o artigo da Esquerda Marxista, defendida pela “Aliança” – é uma política de colaboração com o regime político golpista, e não de ruptura.

Esse tipo de política, que tem como centro formar alianças com partidos e organizações do próprio regime, é uma política criminosa para a esquerda e o conjunto da população. Os partidos tradicionais da burguesia – isto é, o chamado “centrão”, que hoje engloba partidos considerados de “centro-esquerda”, como o PSB e o PDT – são partidos que representam os interesses da classe dominante. Os interesses dos trabalhadores e da burguesia não coincidem em nenhum aspecto: nem a democracia, nem o meio ambiente nem qualquer outra bandeira é capaz de unificar a população e a direita.

Se em algum momento a direita propõe uma aliança com setores da esquerda, isso releva tão somente um interesse em controlar o movimento de massas e impedir um levante contra o regime político, ao mesmo tempo que impede que figuras já completamente falidas pela aplicação da política neoliberal sejam “recicladas”. É o caso, por exemplo, de Marta Suplicy, que, ao apoiar o golpe de 2016, acabou com sua carreira política e agora procura se apresentar como “arrependida”. Aos trabalhadores, não cabe estender a mão para os golpistas “arrependidos”: é preciso seguir, por meio de um movimento independente, com uma mobilização que acabe de vez com a farra dos capitalistas.

O argumento que a Esquerda Marxista utiliza para contrapor a tese defendida pela “Aliança”, no entanto, não é preciso. Segundo o agrupamento, não existe uma “onda conservadora”, mas sim uma revolução em marcha:

Quando a realidade mostra processos como o do Equador, Haiti, Honduras, Sudão, Argélia, Hong Kong, Líbano, Catalunha, Chile e não pode ser explicada pela concepção de mundo que eles criaram, tendem a negar a realidade.

Representando a Esquerda Marxista, como pode ser conferido no vídeo abaixo, fizemos uma intervenção deixando claro que o que está acontecendo no Chile e em outros países são revoluções. Que a revolução no Chile ainda não está com o seu destino selado. Tudo pode acontecer! Não só é possível derrubar Piñera, como é possível que o povo trabalhador chileno assuma o poder em suas mãos.

Não há elementos suficientes para dizer que existe uma revolução no Chile. O que precisa ser dito é que a política neoliberal, que vem sendo implantada há décadas pelos capitalistas em todo o mundo, está sendo rejeitada por todos os povos – o que leva, por um lado, a revoltas e levantes e, de outro, o aumento da repressão, os golpes de Estado e um incentivo, por parte da burguesia, ao crescimento da extrema-direita.

“Fora Bolsonaro”, motivo de disputa na reunião do Diretório Nacional do PSOL

Segundo o relato da Esquerda Marxista, a reunião do Diretório Nacional do PSOL teria ficado praticamente dividida entre a questão do “Fora Bolsonaro” – a palavra de ordem só teria sido rejeitada como oficial por causa de uma manobra do campo majoritário e pela capitulação de outros setores:

Quando a discussão terminou, fizemos uma sondagem e contamos que se fosse a voto naquele momento, dos 60 membros presentes do DN, havia 30 que votariam contra o “Fora Bolsonaro”, 29 que votariam a favor e 1 que não havia se definido (Nildo Ouriques, da “Revolução Brasileira”). Com o Diretório Nacional literalmente dividido, a votação só ocorreria no final do dia. Muitas conversações tomaram lugar e aparentemente, alguns membros do “Fortalecer” foram persuadidos pelos membros da “Aliança”. Um deles decidiu mudar de posição e outros 3 decidiram se abster na votação.

Na hora da votação, a proposta de resolução apresentada pela “Aliança” que se negava a levantar a palavra de ordem “Fora Bolsonaro”, obteve 31 votos. A proposta que colocava o “Fora Bolsonaro” como consigna a ser agitada pelo PSOL, defendida e apoiada pela Esquerda Marxista, obteve 21 votos (MES, TLS, Comuna, 1º de Maio e 3 votos do “Fortalecer”, encabeçados pela Berna Menezes). As correntes CST, LS e LC, apoiadas pelo Plínio de Arruda Sampaio Jr. e pelo Renato Cinco, só teriam votado na proposta “Fora Bolsonaro” se esta tivesse chance de ganhar. Quando viram que a Aliança havia garantido uma maioria de 31 membros, recuaram e apresentaram uma outra proposta à esquerda da proposta de texto da “Aliança”, mas que não propunha a consigna “Fora Bolsonaro”. Esta proposta obteve 4 votos. Ainda houve 3 abstenções de membros ligados ao “Fortalecer” e o representante da “Revolução Brasileira”, Nildo Ouriques, se ausentou do plenário no momento da votação, não se posicionando.

Independentemente do que realmente aconteceu na reunião, a resolução mostra que o “Fora Bolsonaro” foi, sim, motivo de discussão entre os dirigentes do PSOL. Em seu nono ponto, a resolução estabelece que: “A consigna ‘Fora Bolsonaro’ deve ser parte das conclusões a que o movimento de massas deve chegar com nosso apoio, mas jamais como uma imposição de um partido que se entende a própria vanguarda”. Em outras palavras, o PSOL decidiu que não poderia se colocar contra a palavra de ordem “Fora Bolsonaro”, mas que não faria uma agitação em torno dessa palavra de ordem.

O motivo de essa discussão ter aparecido na reunião é bastante óbvio: o “Fora Bolsonaro” já tomou conta das ruas e não pode mais ser ignorado. Recentemente, na GloboNews, um rapaz que estava na praia durante uma reportagem sobre o vazamento de óleo no Nordeste, surpreendeu a repórter que ia lhe entrevistar ao falar, em rede nacional, “Fora Bolsonaro”. No Rock in Rio, que é frequentado por camadas mais privilegiadas da sociedade, milhares de pessoas expressaram sua revolta contra o presidente ilegítimo, refletindo que a crise do governo é muito grande. Até mesmo Alexandre Frota, que é um elemento da extrema-direita e foi um dos principais cabos eleitorais de Bolsonaro nas eleições de 2018, está fazendo campanha pelo “Fora Bolsonaro”. Por fim, o recente Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores deliberou uma campanha pelo fim do governo Bolsonaro.

Qual o preço do “Fica Bolsonaro”?

Diante de toda a onda de revoltas que acontece, simultaneamente, no Chile, no Haiti, na Catalunha e em vários países do mundo, bem como de tantas demonstrações de insatisfação com o governo Bolsonaro e de tendência à mobilização, permanecer em uma política de “resistência” – isto é, uma política que não exija a derrubada do governo – é um erro intolerável. Não se trata mais, nesse momento, de um erro de avaliação da capacidade do movimento de luta contra o golpe ter sucesso, mais sim uma opção por uma política de adaptação ao bolsonarismo.

A política de adaptação, por sua vez, tem como base uma concepção burguesa da política – uma concepção segundo a qual seria necessário manter, a todo custo, as instituições burguesas, como o Congresso, o Poder Executivo, os picaretas do STF etc., mesmo que isso cause um massacre do povo brasileiro. Ao que parece, para os dirigentes do PSOL, antes manter seus cargos no regime político burguês do que permitir que os trabalhadores resolvam por conta própria os seus problemas.

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