No dia 15 de junho, o conselheiro do Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE-PE) determinou que o Estado não comprasse mais qualquer equipamento médico por meio do Consórcio do Nordeste. Um dia depois, dois deputados da direita alagoana solicitaram à Assembleia Legislativa de seu estado que abrisse uma investigação sobre o consórcio, pedindo, inclusive, que o governador da Bahia, Rui Costa (PT), fosse interrogado. Esses dois episódios são apenas parte de uma série de acontecimentos do último período relacionados ao Consórcio do Nordeste.
As supostas fraudes na compra de equipamentos médicos foram o pretexto utilizado pela Polícia Federal para realizar um mandado de busca e apreensão na casa do governador fluminense Wilson Witzel (PSC), adversário do presidente ilegítimo Jair Bolsonaro. Também foi o pretexto para várias outras operações, como a que atingiu o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). Como se vê, mais uma vez a “luta contra a corrupção” vem sendo utilizada como motivo para as perseguições políticas.
Uma investigação sobre o Consórcio do Nordeste é um prato cheio para que a direita arme uma ofensiva poderosíssima contra a esquerda. Afinal de contas, todos os governadores da esquerda nacional (PT e PCdoB) fazem parte do Consórcio, contando com cinco integrantes em sua bancada. Os demais integrantes do grupo — um governador do Cidadania, um governador do PSB, um governador do MDB e um governador do PSD —, embora não sejam de esquerda, também não fazem parte do bloco bolsonarista, nem tampouco do bloco mais poderoso da burguesia brasileira.
Nesse sentido, embora a ofensiva contra o consórcio esteja apenas no início, é preciso observar com atenção todos os indícios que apontam para uma perigosa operação da direita. Há muito tempo, inclusive, o Consórcio saiu da discussão puramente policialesca para uma discussão abertamente política. Além da declaração do conselheiro do TCE e do pedido de investigação na Assembleia Legislativa de Alagoas, podemos acrescentar que os deputados pernambucanos estão tentando formar uma comissão para investigar o consórcio e que a direita potiguar, que já entrou com um processo de impeachment contra a governadora Fátima Bezerra (PT), está utilizando as notícias sobre o consórcio para tentar desgastar o governo.
Duas coisas chamam particularmente a atenção. A primeira é que a compra dos equipamentos médicos por parte do Consórcio não foi efetivada. De fato, os estados liberaram uma quantia total de mais de R$45 milhões, mas a empresa contratada não forneceu os equipamentos, nem devolveu o dinheiro imediatamente. Logo, se tem algo que deveria ser investigado é a empresa que não forneceu os equipamentos, e não os governadores que foram vítimas do processo.
Em segundo lugar, que, como o governador Rui Costa é o presidente e principal articulador do consórcio, ele está sendo o principal alvo das investigações. Cabe lembrar que apesar de adotar uma política bastante direitista para um governo de frente popular, Rui Costa chefia um dos maiores estados do País, e não deixa de gerar um prejuízo político econômico para a burguesia.
Vale destacar, que o PSOL no Estado está adotando uma posição muito parecida com a da direita, pedindo que o governador seja investigado. Devemos lembrar que o PSOL adotou uma posição semelhante durante o golpe contra Dilma Rousseff e está sofrendo hoje as consequências da perseguição a toda a esquerda de conjunto.