A diretoria do Botafogo, tradicional clube de futebol carioca, anunciou nessa semana que os prazos para concluir seu projeto de transformação em clube-empresa. A empreitada, que separa o futebol das demais áreas do clube, empacou temporariamente devido ao aprofundamento da crise econômica. Em comunicado, a diretoria do clube citou até “incertezas quanto às eleições nos Estados Unidos” como um fator de deterioração das condições do mercado.
O avanço do capital nos clubes brasileiros começou sorrateiramente, em clubes de menor expressão, e agora avança cada vez mais em direção aos grandes. Agora, até o Botafogo, berço de craques históricos do futebol brasileiro como Nilton Santos, Garrincha e Jairzinho, entrou na mira dos abutres capitalistas do esporte.
Um dos mais tradicionais clubes brasileiros, o Botafogo já contou ícones do esporte como Didi (chamado pela imprensa europeia de “Mr. Football” – Sr. Futebol), o “canhotinha de ouro” Gerson, o capitão do tri na Copa de 70 Carlos Alberto Torres e Amarildo, entre muitos outros grandes jogadores. Clubes desse porte têm gerações de torcedores, uma longa história de identificação.
Vale lembrar que na atual fase do capitalismo, o imperialismo, quem dá as cartas no topo do sistema econômico são os capitalistas dos grandes monopólios internacionais. Verdadeiros parasitas econômicos, o que contrasta com a imagem ainda propagandeada do dinamismo capitalista, uma antiga característica desse sistema econômico, que morreu junto com o século XIX.
Nesse contexto, esse capital especulativo e parasitário entra em diferentes mercados buscando se apoderar apenas do “filé”, ou seja, investimentos que apresentem retorno econômico grande, rápido e garantido. Por isso não criam clubes, nem escolhem investir nos pequenos. Esse caminho, além de mais demorado, envolve diversas etapas como o envolvimento dos clubes com setores populares, trabalho de base e até a criação de uma identidade, por exemplo.
A publicação do comunicado explicando os motivos do adiamento do projeto de entrega do Botafogo aos capitalistas deixa claro que esse objetivo segue vivo e não vai parar na “Estrela Solitária”.
É preciso repudiar todas as iniciativas de apoderamento dos clubes brasileiros, em especial pelo capital estrangeiro. Temos exemplos recentes que valem como sinais de alerta, como a desfiguração do escudo e das cores tradicionais do Bragantino, que foi adaptado ao “padrão Red Bull”. Outro exemplo é a experiência recente do Figueirense, outro tradicional clube brasileiro, que mostrou claramente o quanto esse tipo de aventura pode ser custoso para os clubes e suas torcidas.