Está previsto para o dia 14 de maio a estréia do filme “40 dias: o milagre da vida” nos cinemas brasileiros. Trata-se de um filme da direita cristã, que conta a história real de uma ex-funcionária de uma clínica de abortos dos Estados Unidos, Abby Johnson, que em 2009 deixou a diretoria da clínica Paternidade Planejada para ser ativista contra o aborto. O nome do filme é uma referência ao movimento 40 Dias pela vida, que segundo dados já “salvou” mais de 11 mil fetos do aborto.
Em mais uma oportunidade de mostrar seu falso moralismo, a direita cristã usa da cultura e do entretenimento de fiéis para condenar e julgar aquilo que deveria ser um direito garantido pelo Estado para as mulheres, que é o direito de escolher entre continuar ou não uma gravidez, independente das circunstâncias em que o feto foi gerado.
Estima-se que no Brasil mais de 500 mil mulheres entre 18 e 40 anos realizaram abortos no ano de 2015, um verdadeiro problema de saúde pública, se levarmos em conta que várias mulheres tem complicações severas e até mesmo acabam morrendo em procedimentos sem supervisão de profissionais de saúde capacitados. No Brasil, o aborto é legalizado apenas em três situações: quando houve caso de estupro, quando a mãe corre risco de vida ou quando o feto é anencéfalo.
Apesar de números tão altos, a influência da direita cristã em relação ao aborto fica evidente se considerarmos que em 2018 41% dos brasileiros eram contra o aborto em qualquer tipo de situação, até mesmo quando a vida das mulheres corre perigo com a gravidez, ou seja, pessoas se dizem pró vida, mas são apenas pró nascimento, já que a vida da mulher não importa nestes casos. Ainda mais absurdo, 46% consideravam que a mulher estuprada deveria receber ajuda financeira para continuar a gravidez e ter a criança. Traumas psicológicos, físicos, e também a vontade da mulher são totalmente ignorados.
O aborto deve ser um direito e uma escolha da mulher garantida pelo Estado, sem julgamento de casos ou de moral, principalmente sem a influência de alas conservadoras da sociedade para suas decisões.
O caso uruguaio
Em 2012, o nosso país vizinho Uruguai aprovou a lei de descriminalização do aborto, em que o mesmo é garantido em todas as circunstâncias para as mulheres. A política de redução de riscos e o aborto legalizado levaram o país sul americano a ter a menor taxa de mortalidade de gestantes na América Latina em 2015, segundo a OMS. Entre 2013 e 2016 não foram registrados casos de mortalidade de mulheres ao realizar o aborto no país, seguindo as recomendações da legislação uruguaia. Enquanto isso, no Brasil, é registrado quatro mortes de mulheres por dia em decorrência de complicações na realização do aborto, cerca de 1500 por ano. O aborto no caso uruguaio não é apenas um procedimento isolado, a mulher recebe previamente apoio de uma equipe que inclui um ginecologista, um psicólogo e um assistente social. Se após o acompanhamento a mulher decidir pelo aborto, o mesmo é realizado com segurança e com procedimentos corretos.
A questão do aborto é uma questão do direito de escolha
As mulheres trabalhadoras não podem ficar presas às amarras conservadoras da direita cristã e devem ter o direito garantido pelo Estado de escolher se desejam ou não a maternidade não importa as circunstâncias. As mulheres estão sendo simplesmente silenciadas e persuadidas a fazerem escolhas tão importantes como é a maternidade, contra as suas reais vontades, pelo falso moralismo da direita conservadora. Não são levadas em conta as suas condições psicológicas, financeiras e físicas.
Muitas mulheres correm risco de vida e acabam morrendo e tendo complicações em procedimentos clandestinos porque seu direito de escolher sobre seu corpo e sua vida estão sendo negados. A luta da mulher pelo direito ao aborto é uma luta contra o conservadorismo que assombra a política brasileira, representado pela maior figura política do país, o presidente Bolsonaro. Essa luta não é apenas política, é uma luta pela liberdade sobre a sua vida e de todas as trabalhadoras.