Supostamente, em setembro deste ano, o ex-presidente Lula se reuniu com Ciro Gomes (PDT) na sede do Instituto Lula, em S. Paulo. O encontro foi noticiado pelo jornal golpista O Globo nesta última semana. A afirmação de que essa reunião aconteceu partiu do presidente do Partido Democrático Trabalhista (PDT), Carlos Lupi.
Ao conteúdo da notícia, aparentemente, é uma notícia esboçada de uma reunião em que não se há certeza de que realmente aconteceu. Trata-se, na verdade, de uma tentativa, um tanto forçada, de aproximação das figuras do ex-presidente petista com o golpista Ciro Gomes. O resultado é que diversos meios de comunicação da burguesia já forçaram a mão e, inclusive, chegaram a insinuar que Lula começou a defender a política da frente ampla. No entanto, a burguesia já informou que a política da frente ampla é uma aliança entre diversos setores, mas “sem o PT na cabeça” e com a Rede Globo e demais golpistas.
É importante ressaltar que Ciro Gomes é um homem da direita travestido de esquedista, com o verniz do PDT, que também seria um partido de esquerda. O PDT, que sempre foi um partido burguês, mas com uma política mais nacionalista, foi praticamente tomado de assalto por Ciro Gomes. Atualmente é um partido dominado por figuras da direita nacional, como seu presidente Carlos Lupi e diversas figuras da central patronal Força Sindical.
Ciro Gomes não esconde, no entanto, que é um antigo membro do PSDB e seu aliado até hoje. Sua estreita ligação com Tasso Jereissati (PSDB), um dos grandes caciques do partido, demonstra com clareza esse fato.
A família Gomes, é preciso esclarecer, não é uma força popular, mas uma oligarquia do Estado do Ceará. Na realidade, até os dias de hoje em geral, os governos da região nordeste do país não são totalmente dissociados das oligarquias regionais. Existem governos que se relacionam com esse setor social e existem também os governos representantes diretos desta.
A família Gomes, neste sentido, é a representante da oligarquia que domina o estado. O PSDB substituiu a velha oligarquia da ditadura no início dos anos de 1980, quando Tasso Jereissati (PSDB) derrotou o antigo grupo que governava o estado nas eleições e possibilitou governassem o Estado. Desde então dominam o poder e, assim, se tornou uma oligarquia de longa data. São a representação política do latifúndio e dos capitalistas do nordeste.
No caso em questão, essa suposta aproximação de Lula com Ciro vem para confundir a situação. No entanto, se Ciro Gomes se aproximar do PT, de Lula, é para fazer aquilo que já fez: atacar o PT, Lula e a esquerda.
O grande problema é que Lula já rejeitou a frente ampla.
Contudo, o caso também aparenta esconder interesses eleitorais imediatos com o vazamento desta notícia. Procuram confundir o panorama político e realizam uma intensa pressão para que o PT retire diversas candidaturas em favor de outros candidatos.
É o caso do Rio de Janeiro, por exemplo. Querem que a candidata do PT Benedita da Silva renuncie em favor da candidata do PDT, Martha Rocha, que é uma delegada. Ocorre que a petista se encontra em segundo lugar nas pesquisas de intenções de votos, na frente da candidata pedetista.
Na capital do Ceará ocorre o mesmo. Pressionam para que a candidata do PT, Luizianne Lins, desista da eleição e apoie o candidato do PDT, José Sarto.
A eleição em Fortaleza, na realidade, demonstra qual o sentido da manobra da frente ampla. Uma política coordenada pelos setores tradicionais da direita, como PSDB, MDB, DEM, para colocar a esquerda a reboque de um candidato de direita em 2022. Para isso, é necessário isolar e inviabilizar a candidatura de Lula.
Existe uma polarização entre a candidata do PT, que já foi prefeita da cidade, e o candidato bolsonarista Capitão Wagner, do PROS. Em terceiro lugar, se encontra o candidato do PDT de Ciro Gomes, José Sarto, que concorre numa coligação com PSDB, DEM, PSD, PSB, PP, PTB, PL, Cidadania e Rede. Ou seja, um candidato que é, segundo a propaganda burguesa, de um partido de esquerda numa coligação com diversos partidos que deram o golpe de Estado em 2016 e derrubaram o governo de Dilma Rousseff.
Nesta situação, o candidato dos Gomes demonstra qual política querem levar a frente a nível nacional com a frente ampla. Constituir um candidato que coloque a esquerda a reboque da direita e que seja uma alternativa à polarização política.
Camilo Santana, embora seja formalmente do Partido dos Trabalhadores, apoia o candidato do PDT. Não é novidade, no entanto, que o governador seja um político que mantém estreitos laços com a família Gomes.
Neste sentido, a presença de Lula inviabiliza tal manobra. Ele mesmo já se colocou contra tal manobra. “Se quiserem fazer frente ampla para que os ricos paguem impostos, estou disposto. Mas fazer arranjo por cima sem dizer o que vai acontecer com o povo pobre… Desculpa, já tenho idade demais para isso. Só faço frente ampla se for para devolver os direitos do povo trabalhador”, afirmou o ex-presidente em recente entrevista.
Isto é, a polêmica do vazamento da notícia pode ter mais sentido em um interesse imediato do que para as eleições de 2022.