A polícia de Buenos Aires está em greve. Os policiais reclamam de salários atrasados. Entretanto, isto não passa de cortina de fumaça para criar uma crise na Argentina e justificar um golpe militar.
A Argentina passa por uma situação financeira e política crítica. O país tem uma dívida impagável, fruto da política neoliberal imposta pelo imperialismo. O governo Fernandez, recentemente, chegou a decretar a moratória da sua dívida externa, mas logo conseguiu acordo com os credores internacionais.
Os policiais argentinos estão, como esperado dos órgãos de repressão do estado burguês, bastante “fascistizado”. Assim como no Brasil, a estrutura policial da Argentina é a mesma desde a época da ditadura militar. Esta natureza direitista e de repressão à população trabalhadora aprofundou-se no governo Macri, tal como ocorre com a polícia brasileira sob governo Bolsonaro.
Na última quarta-feira (9), os policiais grevistas cercaram a sede do governo argentino (Quinta dos Olivos), portando símbolos nacionais, assim como os bolsonaristas brasileiros o fazem. Um coquetel molotov foi lançado contra a sede governamental.
Os ex-presidente argentino, Eduardo Duhalde, da ala direitista do partido peronista, em entrevista recente a TV Clarín, cravou que, ano que vem, não haverão eleições na Argentina devido a mais um golpe militar. Baseado na experiência histórica argentina e no contexto latinoamericano, Duhalde joga um balde de água bem gelada sobre a esquerda pequeno-burguesa argentina que, assim como a brasileira, tem uma verdadeira fissura por eleições.
O governo Fernandez se encontra em sério risco. O presidente foi a público rechaçar a greve dos policiais, mas o fez de modo bastante moderado, apenas se limitando a dizer que não tolerará reclamações contrainstitucionais. Tentou fazer “média” com o aparato repressivo ao dizer que é “sensível” às reinvindicações dos policiais.
Alberto Fernandez mostrou-se disposto a criar um fundo fiscal de ajuda à província de Buenos Aires que, desde a década de 80, encontra-se em um verdadeiro caos financeiro, resultado da explosão populacional da região nos últimos 40 anos.
Recentemente, o governo argentino propôs uma reforma no judiciário, criando 60 tribunais federais no interior do país, novas câmaras de apelação e reforma na Suprema Corte. Isto é um verdadeiro tiro no pé. O judiciário argentino é tão golpista quanto o brasileiro e servirá de suporte a qualquer tentativa de derrubada ou sequestro político do governo peronista. Diferente do que a imprensa burguesa brasileira apresenta, esta reforma significa a capitulação do presidente Fernandez perante a burguesia.
Em resumo, a Argentina tem, assim como a maioria dos países latinoamericanos, sua frágil democracia burguesa em risco. Se Alberto Fernandez e o partido peronista não estiverem atentos, poderão ter o mesmo fim de Evo Morales, Rafael Correa e seus respectivos partidos.