Ganhou repercussão nos últimos dias o “drible” que o técnico da seleção brasileira de futebol, Tite, deu no fascista Jair Bolsonaro durante a cerimônia de entrega das medalhas para os finalistas da Copa América 2019.
Ao término da vitória brasileira sobre a seleção peruana na final da competição, o presidente ilegítimo Jair Bolsonaro, ao lado de dirigentes da CBF, da CONMEBOL etc., entrou no gramado do Maracanã e, após receber uma estrondosa vaia — sinal de sua baixíssima popularidade, mesmo entre os setores mais altos da pequena-burguesia —, enfileirou-se junto com aqueles que entregariam as medalhas para os atletas e membros das comissões técnicas.
Chegada a sua vez de receber a medalha, o técnico Tite, ao invés de um abraço efusivo, de um aperto de mão caloroso ou de palavras de admiração, esforçou-se para fugir da investida do ex-capitão em cumprimentá-lo, o que resultou num contato relâmpago, frio, distante, meio insólito até, entre os dois e acabou deixando o presidente da fraude com aquela habitual cara de tacho que sempre aparece quando se vê diante de uma situação embaraçosa e constrangedora.
A esquiva de Tite em Bolsonaro, como era previsível, deixou a direita fascista em polvorosa, e as manifestações de histeria nas redes sociais contra o treinador começaram imediatamente após o ocorrido e continuaram pelos dias seguintes. Tite se recusou a cumprimentar o “mito” Bolsonaro devidamente — diziam os direitistas —, portanto, está provado que ele é um comunista, um esquerdopata, um vermelho.
Os fascistas ainda relembraram o episódio da visita de Tite ao ex-presidente Lula em 2012, após o Corinthians ganhar a Copa Libertadores, o que seria mais um indício do esquerdismo do treinador gaúcho. E como um “comunista” não pode treinar a seleção brasileira, os bolsonaristas, para concluir, lançaram a hashtag “Fora Tite”.
O episódio evidenciou, mais um vez, que Tite tem, ao menos, algumas contradições com Bolsonaro e sua política. É sabido que uma das questões mais caras à direita fascista brasileira é a defesa do golpe e da ditadura de 1964. Pois bem: Tite já expressou sua opinião a respeito desse tema, e ela não deve ter agradado muito aos bolsonaristas.
Em entrevista ao jornal El País, realizada em maio de 2017, Tite diz o seguinte: “(…) meu filho me fez uma pergunta: ‘Pai, como é que era a ditadura?’. Mostrei pra ele o quanto eu fico chateado de ver pessoas na rua cogitando a possibilidade de que uma ditadura possa solucionar algo. O que teve de gente morta, de incapacidade de dar opiniões, de cerceamento à liberdade de imprensa, de corrupção que não era investigada naquele período… Definitivamente, não é esse o caminho. Ditadura não é solução.” Para a direita fascista, essa opinião já é o bastante para identificar alguém como “comunista”.
Esclareçamos a questão: Tite não é um comunista. Ele não defende a constituição da classe operária num partido político próprio, independente e revolucionário. Não defende a luta da classe operária pela tomada do poder político através da via revolucionária. Não defende a instauração da ditadura do proletariado. Não defende a expropriação da burguesia, e assim por diante.
No entanto, é também verdade que o incômodo de Tite diante de Bolsonaro na entrega das medalhas deixa às claras que o treinador tem contradições e discordâncias com Bolsonaro e seu governo.
O ataque e a perseguição contra tais “comunistas”, contra elementos políticos moderados e tímidos, contra os indivíduos e as forças políticas que defendem algumas poucas reivindicações democráticas, dão a medida da agressividade, do caráter antidemocrático, anti operário e antipopular da política que a direita fascista tenta materializar atualmente no país.
A ofensiva dessa direita, que não passa do representante do imperialismo (em especial, do norte-americano) em solo brasileiro, exige uma resposta à altura da esquerda. Para combater esse estado de coisas, a esquerda deve abandonar os métodos puramente eleitorais, as manobras e truques parlamentares, as ilusões com um Judiciário dominado pela extrema-direita.
A política da direita fascista e golpista exige que a esquerda, para vencer as batalhas que virão, recorra aos métodos da ação de massas, mobilize a classe operária e o povo em geral para derrotar nas ruas o governo Bolsonaro e todos os golpistas.