João Cândido Felisberto, marinheiro negro, nascido em 24 de junho de 1880, no Rio de Janeiro, que ainda sofria, como o restante do país, com o regime de escravidão que assassinou e torturou milhares de negros.
O regime foi abolido formalmente em 1888, após centenas de levantes de escravos, mas suas práticas se perduraram por décadas a fio. Como na Marinha Brasileira, onde havia o castigo de chibatadas para marinheiros que descumprissem alguma regra. Obviamente essas chibatadas sempre eram destinadas ao negro, como toda punição do regime, desde então.
Revoltado com essa prática da Marinha, em 1910, João Cândido e seus comandados lideraram um dos episódios mais espetaculares da luta do negro brasileiro, que foi a Revolta da Chibata. Um levante que colocou a República Velha de joelhos. Com os navios da Marinha controlados pelos marinheiros negros rebelados, foi disparado, inclusive, um tiro de canhão contra a sede do governo da época, no Rio de Janeiro.
Esse disparo foi um aviso, ou os castigos corporais acabavam, ou eles destruiriam a sede do governo à balas de canhões. Foi uma demonstração de como se deve reivindicar os direitos mais elementares diante de um regime racista.
A Revolta é controlada pelo regime após uma série de manobras parlamentares, o que revela, também, que pelo parlamento não existe possibilidade de avanço na luta do negro no Brasil.
João Cândido e outros tantos marinheiros revoltosos são colocados na cadeia, para morrerem, sendo alimentados com cal. Dezenas morrem, mas João Cândido sobrevive aos maus tratos do sistema penal, o mesmo sistema dos dias de hoje.
Contudo, expulso da Marinha, o “mestre-sala dos mares”, como é conhecido nas rodas de samba e na cultura popular, passa por diversas privações, sendo internado em hospitais e tendo falecido em 06 de dezembro de 1969 na mais completa miséria.
João Cândido, sua vida e luta, mostrou como se deve fazer a luta por direitos elementares, direito de não ser torturado pelo regime racista. É uma lição que deve ser estudada para enfrentar casos como o massacre de Paraisópolis, ocorrido em São Paulo, onde policiais militares executaram nove jovens pobres e negros.
O líder da Revolta da Chibata e outros líderes negros brasileiros, como Zumbi dos Palmares, mostrou que é preciso organizar o negro em torno dos seus direitos, e lutar pelo direito de autodefesa diante dos ataques do regime.