O portal Aventuras na história publicou um artigo no último dia 5 de julho sobre um sarcófago encontrado na cidade de Palenque, no México em 1994. Trata-se de um túmulo de uma rainha maia que morreu 1.348 anos atrás. Segundo informações, a tumba tinha o corpo de uma mulher sem coração ao lado de uma criança de 11 anos, cuja garganta fora cortada em sacrifício para honrá-la.
O artigo afirma que a rainha era impiedosa. As duas pessoas foram sacrificadas como parte de um ritual. Os maias acreditavam que esses sacrifícios levariam as pessoas importantes para o mundo pós-morte. A criança sacrificada era ainda escrava da monarca.
Essas informações, comuns em vários povos antigos e que são dados históricos muito interessantes, chama a atenção à luz dos atuais debates sobre a concepção da história defendida pela esquerda chamada identitária. Tal concepção, essencialmente moralista, defende que os acontecimentos históricos deveriam ser analisados sobre a base de considerações morais e subjetivas. Portanto, tudo o que se produziu até o presente deveria ser alvo de uma violenta negação.
Tal concepção é a base da política que defende que as estátuas e monumentos deveriam ser derrubados. Alguns defendem inclusive que livros e filmes deveriam ser objeto de alteração ou censura sob pretexto de serem “racistas”.
No caso das estátuas, inclusive, as primeiras derrubadas foram nos Estados Unidos, na esteira das mobilizações contra o racismo. Eram estátuas de notórios escravagistas.
A imitação do que ocorreu nos Estados unidos suscitou o debate aqui no Brasil, mesmo sem ter absolutamente nenhuma mobilização nesse sentido. A esquerda pequeno-burguesa identitária aproveitou para levantar tal política.
Justificou-se que deveriam ser derrubados monumentos aos bandeirantes – demonstração de completa ignorância sobre a história do Brasil; outros defenderam que a estátua de Pedro Álvares Cabral deveria ser derrubada.
Uma das incoerências dessa ideologia está justamente nos seus limites. Até quando deveríamos derrubar antigos monumentos? Vale para os escravagistas do século XIX mas vale também para escravagistas mais antigos? Deveríamos acabar com os monumentos maias que estão no México já que aquela sociedade era baseada num tipo de escravidão?
Se o raciocínio dos identitários deve ser levado a sério, até as últimas consequências, seria preciso destruir tudo. Vamos acabar não apenas com os monumentos dos bandeirantes no Brasil, acabemos com as ruínas de Roma e com as igrejas barrocas de Minas Gerais. Vamos exterminar da face da terra as ruínas dos Maias, Incas e Astecas, as grandes civilizações indígenas nas Américas.
A concepção é mais do que absurda, é reacionária pois pressupõe eliminar, se isso fosse possível, toda a história e toda a produção da humanidade até agora. É reacionária justamente por que é subjetiva, moralista e portanto religiosa. Ignora que a história é produto de lutas intensas.