A ação criminosa, fascista, promovida pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema (NOVO) contra um acampamento do Movimento Sem-Terra localizado no sul do estado, teve a colaboração direta do judiciário estadual, mais especificamente do juíz Walter Zwicker Esbaille Junior, quem concedeu a liminar favorável à ação da PM, além de ter como objetivo final beneficiar diretamente o latifúndio, ligado à produção de café.
Usina falida, trabalhadores abandonados
A área onde se situa o quilombo Campo Grande fora, até o final da década de 1990, parte da usina Ariadnópolis. Construída no início do século XX, a usina teve seu maior pico produtivo nos anos de 1970, após o Programa Pró Alcool, estabelecido pela ditadura militar.
Os incentivos financeiros à usina, no entanto, não eram convertidos em melhoria das condições de trabalho dos trabalhadores. Sempre houveram denúncias de superexploração do trabalho, com jornadas de 12 horas por dia, o emprego de mão de obra infantil, além do não pagamento dos direitos aos trabalhadores, como férias, 13° salário, etc.
A usina veio à falência em 1996, deixando os trabalhadores à mingua. Estes não chegaram a ser indenizados na época pelos donos da empresa Por conta da situação de pobreza a que estavam submetidos, pelos altos custos cobrados pelos advogados, os trabalhadores acabaram desistindo de entrar na justiça contra seus patrões.
Sem dinheiro e em uma situação de abandono, a saída não poderia ter sido outra senão a ocupação da terra.
Trabalhadores ocupam a área e passam a produzir de forma diversificada
Desde então, cerca de 450 famílias, 2 mil pessoas, passaram a ocupar e a produzir na área. A organização dos trabalhadores possibilitou superar a monocultura imposta pelos latifundiários, ampliando a produção para diversos tipos de produtos e alimentos, como: como milho, feijão, cereais, hortaliças, frutas, fitoterápicos, leite e derivados.
Os trabalhadores iniciaram também a produção de café, o chamado café Guaí, comercializado em vários municípios de Minas Gerais, inclusive internacionalmente.
No local foi também erguida uma escola. A escola Eduardo Gualeano (destruída pela PM), a qual tinha por função formar os jovens acampados, além de fornecer educação para os mais velhos, o chamado EJA.
O desenvolvimento do acampamento também ajudou a fomentar a economia do município de Campo do Meio, o qual havia sofrido um esvaziamento após a falência da usina de Ariadnópolis.
Empresários do agronegócio recebem apoio da justiça
Desde o início da ocupação, os trabalhadores sem-terra foram alvos de ameaças e chantagens por parte dos fazendeiros da região. A situação começou a se deteriorar em 2015 quando o empresário Jovanne de Souza Moreira, em acordo com o “barão do café” João Faria da Silva, buscaram reativar a usina falida. Ambos passaram a pressionar a justiça à favor da reintegração de posse da área.
Os empresários ligados ao latifúndio e ao agronegócio tiveram a ajuda direta do juíz Walter Zwicker Esbaille Junior, da Vara Agrária de Minas Gerais. Em novembro de 2018, o juíz esteve presente pessoalmente no acampamento, junto da polícia e da tropa de choque. O objetivo seria realizar uma “inspeção” da área. Ainda naquele ano, em novembro, durante a audiência de conciliação, o juíz agiu com total truculência contra os sem-terras, não permitindo a entrada dos agricultores na sala de audiência, utilizando da tropa de choque.
A audiência determinou o despejo das famílias, permitindo inclusive o uso da força policial. Tudo para beneficiar os empresários do agronegócio, os quais querem impor novamente a monocultura no local. De acordo com os agricultores, em fazendas com o mesmo porte da área ocupada, chegam a empregar 50 trabalhadores no máximo.
“Juíz da morte”: inimigo dos sem-terras
O juíz Walter Zwicker Esbaille Júnior também é responsável pelo processo de Felisburgo. Localizado no Vale do Jequitinhonha, o acampamento Terra Prometida também possui um histórico de violência e luta pela terra.
As terras que inicialmente pertenciam ao estado foram griladas e, posteriormente, foram ocupadas pelo MST no ano 2000. Em 2004 um massacre ocorreu no local. Os grileiros Adriano Chafik e Calixto Luedy, organizaram um grupo de pistoleiros e invadiram o acampamento. O ataque resultou na morte de cinco sem-terras e no ferimento de outras 13 pessoas.
Desde então cerca de 200 pessoas continuam morando na área, resistindo contra os assédios dos latifundiários, que volta e meia vão até o local ameaçar os moradores.
Após a ação criminosa contra o Quilombo Campo Grande, os sem-terras do acampamento Terra Prometida temem a mesma ação por parte do estado, uma vez que o processo encontra nas mãos do mesmo juíz fascista e a qualquer momento uma decisão favorável à reintegração do posse pode gerar um novo massacre. A ligação do juíz Walter Zwicker Esbaille Júnior com os ruralistas, rendeu-lhe o apelido por parte dos sem-terras de “advogado da morte”.
É preciso destacar também o apoio incondicional à política de massacre contra os sem-terras concedido pelo governador do estado Romeu Zema. Uma das suas principais propagandas de campanha fora justamente o incentivo à violência contra o MST.
Organizar os comitês de auto-defesa
Diante desta situação é necessário organizar de maneira imediata a auto-defesa dos sem-terra contra a violência por parte dos jagunços, a mando dos fazendeiros, e da polícia.
O exemplo do Quilombo Campo Grande, onde a polícia chegou inclusive a destruir a escola que havia no local, demonstrou que a única saída é responder na mesma moeda às provocações.
É necessário impulsionar a formação dos comitês de auto-defesa em todos os acampamentos, além de mobilizar os trabalhadores para ocupar os latifúndios como uma reação à violência dos fazendeiros.