Desde a subida de Bolsonaro ao poder, a realização de uma frente ampla contra o perigo fascista e sua ditadura é tema muito debatido no interior dos partidos da esquerda pequeno-burguesa e nas direções pequeno-burguesas das organizações operárias, camponesas e populares. A intensificação da crise política, decorrente da pandemia de coronavírus e do completo fracasso econômico do governo, que o levou a acelerar no caminho rumo a ditadura, fez o debate efervescente torna-se ação prática.
A palavra da vez é união; estendesse a mão ao antigo inimigo; apagasse antigas rusgas e velhas disputas; erigisse novas estratégias de luta tiradas passado e nele buscam os exemplos de união (Diretas já), apresentando-os, não como fracasso que foram, mas como o que há de mais moderno. Assim a esquerda estendeu a mão aos piores carrascos do povo brasileiro, que não devem nada a Bolsonaro, uma vez que estes aparentemente se colocaram contra aspectos da política bolsonarista ou por terem interesse contrastantes.
Witzel, Doria, FHC, e muitos outros, profundamente odiados pelos trabalhadores brasileiros, foram vistos como representantes de importantes setores com que se deve dialogar. Ampla união para isolar o fascismo! eis o que bradam os construtores dessa política contra os críticos.
A pequena-burguesia de esquerda, amedrontados e desesperados pela grave crise e inebriados pelo chamado à união, que para eles representa a própria salvação, ordeira e sem grandes comoções, levam o chamado ao paroxismo. Querem incluir na frente ampla uma organização fascista como a polícia militar e as polícias em geral.
“Os democratas precisam construir uma ponte, inclusive com a polícia”, exclama o jornalista Fernando Barros Silva em suas redes sociais. Segundo ele em seu post: “… o pior a fazer agora é empurrar a polícia para o colo dos inimigos da democracia. Sabemos que essa é a tendência e é isso o que querem os bolsonarismo. A violência e o caos jogam a favor da extrema-direita”. Naturalmente, que essa posição não é exclusiva, mas paira nas cabeças de um setor da esquerda.
Há aqui duas posições equivocadas, primeiro de que possa haver uma ponte que una os trabalhadores; esquerda democrática em geral e policiais, os impositores da ordem contra o fascismo, segundo, o conhecido argumento de que a reação do oprimido é causadora de uma maior opressão. Essa posição tem haver não com uma suposta estratégia de luta contra o fascismo, mas a profunda ilusão na frente ampla.
A polícia no Brasil é uma organização de antidemocrática, fascista no método de ação e na ideologia que foi incorporada ao regime democrático-liberal como elemento fundamentalmente de contenção dos direitos democráticos e de repressão das massas laboriosas. Um mecanismo de autodefesa da burguesia de conjunto. Rigidamente hierarquizada e controlada ideologicamente, imune a qualquer participação popular e treinados para a repressão violenta no dia dia dos Estados, a polícia que é um dos alicerces da regime burgues parlamentar, é também do regime dos antidemocrático. A policia não uma possível, aliado, mas um dos principais inimigos das massas.
A polícia é aliada sim dos opressores e notadamente do bolsonarismo, e caso esse venha a reunir as condições para estabelecer uma ditadura no país, reunindo o apoio de toda a burguesia, as polícias, em especial a militar, cumprirão um papel ainda mais horrendo do que cumprem hoje, como carrascos do povo.
A luta democrática contra o fascismo e a extrema-direita deve por certo levantar, como parte do programa, a palavra de ordem de dissolução da PM que é uma tropa auxiliar e permanente do fascismo. Parte fundamental do poder de Bolsonaro e do bolsonarismo vem do apoio que tem nas casernas, quartéis, delegacia etc., sem isso estaria reduzido a pó. A luta contra o fascismo, portanto, passa necessariamente pela luta pela dissolução da PM e demais forças de repressão totalmente antidemocráticas e pela constituição de forças verdadeiramente democráticas e representativas do povo. É uma fantasia, com consequências terríveis, a ideia de que as forças de repressão do Estado atuaram contra a extrema-direita em defesa dos direitos democráticos, quando são em realidade a parte central da extrema-direita.
A segunda ideia, de que a reação das massas leva a derrota e a maior repressão, expressa apenas que a pequena-burguesia, que pensa desta maneira, não está disposta a ir até às últimas consequências na luta pelo direitos democráticos, mas somente até onde o establishment permite, não possuem vontade e nem força o suficiente para esmagar o fascismo e a burguesia. Expressa, nesse sentido, os limites da política pequeno-burguesa, condenada a seguir ou a burguesia ou a classe operária e as massas revolucionárias. Para a classe operária todas as suas conquistas são fruto da luta até às últimas consequências, a ideia de que não se pode passar o rubicão ficou no passado de sua história.
Essas ideias tal como surgem agora tem como fundamento a ilusão Na frente ampla, na salvação por cima. A esquerda crê estar realizando a grande tarefa de luta contra o fascismo unificando-se com setores da burguesia dita democrática, municiando ela do apoio que lhe permita por cima salvar a nação do bolsonarismo, temem que a entrada das massas por fora da frente ampla e contra também os seus novos aliados desfaça a frente salvadora, por isso pedem calma, paciência e pacifismo.
A frente ampla é uma política fracassada de antemão, pode, quando muito, propiciar uma saída reacionária, retratando a luta das ruas e levando-a ao parlamento, trocando o presidente por uma figura qualquer da direita e preservando a política econômica de Guedes, o mais provável, no entanto, é que atue para se reciclar junto a população e assim desmobilizar os trabalhadores, desmoralizar suas organizações e na hora H, se ela chegar, passar de mala e cuia para o fascismo, como fizeram aliás na eleição de 2018.