A chamada “luta antiracista” tornou-se palco para os mais descarados oportunismos, e as mais escancaradas demagogias. Não que o racismo não seja um problema real da sociedade brasileira, o que de fato é. O racismo está ligado com a luta de classes que se desenvolveu no País e à situação de opressão social e econômica imposta pela classe dominante brasileira aos negros. O racismo nesse sentido não é um problema de raiz “cultural”, ou seja, de origem exclusivamente subjetiva, da consciência coletiva do povo brasileiro, mas uma expressão da realidade material do Brasil, em última medida da própria luta de classes.
No entanto, tomado meramente como um problema cultural, como faz o chamado identitarismo, desconexo completamente da luta real existente na sociedade brasileira, a chamada pauta antiracista transforma-se em um instrumento de propaganda e demagogia para aqueles setores da classe dominante, inimigos mortais dos negros e de toda a classe trabalhadora brasileira, mas que por conta da situação política e por puro oportunismo vêem a necessidade de se fantasiar como aliados dos negros, das mulheres, das chamadas “minorias”.
Perde-se, portanto, o sentido real da luta contra o racismo, que em última instância é a luta da classe trabalhadora brasileira contra a burguesia, a direita e o imperialismo, tornando o “antiracismo” um rótulo genérico, um selo de conveniência para demagogos.
Esta estratégia não é nova, nem se originou no Brasil. A política identitária tem suas raízes no centro do capitalismo mundial, ou seja, nos EUA. Ela tem como um de seus principais propagadores pelo mundo afora o Partido Democrata norte-americano. Por meio do identitarismo, do “antiracismo” de fachada, da luta contra o machismo, a homofobia, também de fachadas, os Democratas norte-americanos conseguem enganar um setor da classe média de esquerda e ocultar a verdadeira política genocida, de pilhagem e morte que levam adiante no mundo todo justamente contra os negros, as mulheres, os homossexuais e todos os trabalhadores dos países pobres e oprimidos.
Isto ficou evidente nas eleições deste ano nos EUA, quando o candidato representante principal da máquina de guerra Democrata norte-americana Joe Biden utilizou-se do identitarismo para se diferenciar do fascista, monstruoso e racista Trump, do Partido Conservador. Biden, que foi responsável pelas centenas de guerras dos EUA pelo mundo afora nos últimos anos, por dezenas de golpes de estado, foi e ainda é pintado como amigo dos negros e das minorias.
No Brasil repete-se o mesmo esquema. Nesta semana, Luciano Huck, apresentador da golpista rede Globo e possível candidato da família Marinho para a presidência em 2022, postou em seu twitter uma declaração recheada de antiracismo. Huck disse estar aprendendo muito sobre o “racismo estrutural” e disse que é necessário um “engajamento urgente não apenas das pessoas, mas das empresas”. Disse ser necessário que os negros ocupem cargos nas diretorias das empresas, e que é favorável à criação de um fundo de investimento privado para “ampliar as oportunidades das crianças negras”.
Huck, assim como a família que ele representa, os Marinhos, são ferrenhos defensores da política neoliberal, uma política de terra arrasada, fome e miséria contra todo o povo brasileiro, principalmente contra os negros. Nunca é demais lembrar que a Rede Globo sempre apoiou efusivamente as maiores atrocidade contra a classe trabalhadora brasileira nos últimos sessenta anos, ditadura militar, o neoliberalismo de FHC, o golpe de estado de 2016, “reforma” trabalhista, “reforma” da previdência, prisão do ex-presidente Lula, a fraude eleitoral de 2018, etc.
Todavia, nada mais conveniente do que diante das enormes loucuras, absurdos e ações criminosas praticadas pelo governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro, utilizar-se do selo genérico do “antiracismo” para tentar enganar um setor da população se passando como um aliado dos explorados. Esta é a estratégia não apenas de Luciano Huck, mas de outros elementos representantes deste bloco político da direita golpista. Para tanto, usam e abusam do identitarismo.
É necessário que as organizações do movimento negro, a esquerda de uma maneira geral, não se deixem enganar por esta farsa. A única forma de travar um luta consequente em defesa do negro é por meio de uma mobilização popular independente da burguesia e de todos os setores da direita golpista. Para isto é fundamental romper também com a chamada política identitária, um distracionismo que serve somente aos inimigos dos negros. É preciso levantar as reivindicações centrais dos negros e de toda a classe trabalhadora brasileira: Fora Bolsonaro e todos os golpistas, Dissolução da PM, entre outras.