No sítio Brasil 247, tivemos contato com uma coluna sobre os gritos que têm se espalhado no País: “ei, Bolsonaro, VTNC!”. Assinada por Pedro Simonard, com o título de “Ei, Kerensky…!”, critica o uso dessa palavra de ordem pela população nas ruas, festivais e principalmente em atos políticos.
O autor procura se desvencilhar da crítica moralista, que setores da esquerda pequeno-burguesa reproduziram, principalmente depois que o então presidente da CUT, Vagner Freitas, chamou os delegados do Congresso da entidade a cantarem tal palavra de ordem. “A crítica moralista à palavra de ordem da moda é infrutífera porque não é realizada sobre uma base social e filosófica coerente”, afirma.
O que o autor parece não compreender é que o moralismo das críticas aos palavrões serve apenas como uma fachada para uma posição política desses setores da esquerda. Para não ter que atacar Bolsonaro, para esconder a vontade do povo de derrubar o governo expressa nesse xingamento, esses setores da esquerda atacam o povo, exigindo “boas maneiras”. O nosso autor não condena o palavrão, mas sem o aparente moralismo, acabando caindo nessa vala comum.
O autor quer exigir do povo uma suposta politização: “Gritar “ei, Bolsonaro, vtnc!” desopila o fígado e acalma a alma, mas tem um efeito político que não vai além da demonstração da insatisfação contra o governo entreguista, na figura do chefe do Executivo.” Ou seja, o povo deveria se adequar à mente dos iluminados da esquerda e cantar palavras de ordem que tivessem estritamente um conteúdo político, se não for assim, não serve.
Com essa apreciação, o artigo acaba também fazendo coro com aqueles que afirmam que não existe uma situação política propícia para derrubar o governo Bolsonaro, afinal, toda a manifestação espontânea contra ele não passa de um extravasamento.
Mas a questão essencial é justamente essa. Quando numerosos setores das massas, de diferentes classes sociais, estão expressando à sua maneira o repúdio ao governo esse é justamente o elemento principal. Cabe às organizações de esquerda, as direções do movimento darem vazão a esse tendência, não procurar molda-la de acordo com preconceitos. Se o povo manda o presidente golpista para aquele lugar, é preciso se somar ao povo e ao mesmo tempo dar uma orientação política consciente à essa tendência espontânea.
O autor do texto critica particularmente o uso da palavra de ordem nos atos e atividades política: “Problema é ela ser repetida em um espaço politizado como o congresso nacional da maior e mais importante central sindical do Brasil ou durante manifestações e protestos políticos.” O ex-presidente da CUT estaria errado em dar vazão ao que o povo está cantando.
Se manda Bolsonaro ir tomar naquele lugar é insuficiente, é preciso ampliar a palavra de ordem, politizar, mas isso não significa que deveríamos ignorar ou repreender o povo, pelo contrário. É cantando junto com o povo que iremos colocar também as demais palavras de ordem, não se colocando contra ele.
Enquanto vários setores se dedicaram a criticar Vagner Freitas, o que foi feito contra Bolsonaro? Absolutamente nada. Apenas se dedicaram a atacar o ex-presidente da CUT. Entre o chamado de Freitas e a paralisia completa da esquerda não teremos dúvida de que lado ficaremos.
O artigo termina afirmando que a Revolução Russa poderia não ter acontecido se a palavra de ordem fosse mandar Kerensky ir tomar naquele lugar. Difícil acreditar que as massas russas que saíram às ruas para derrubar o governo tenham feito isso usando um linguajar puro, a questão central não é essa. A questão é que lá havia um partido capaz de dar vazão à insatisfação do povo e canaliza-la para a tomada do poder e não ficar contra ele.