Empresas financeiras e bancos continuam divulgando suas expectativas de como será a economia nos próximos meses e anos. São projeções baseadas em dados muito incertos e até mesmo em cenários pouco reais, mas de qualquer forma, o tal “mercado”, de que se tanto ouve falar nos noticiários, está projetando quedas substanciais para o PIB brasileiro, seguindo muito de perto o que está acontecendo no mundo inteiro. Dessas empresas, a que divulgou uma projeção menos pessimista foi a empresa de consultoria financeira Fitch Ratings, que prevê uma queda de 2% no PIB em 2020, já a “JGP Gestão de Recursos espera que a economia brasileira recue 6% no ano” (Valor, 10/4/2020).
O PIB não é necessariamente um indicador que retrata o comportamento da economia. Se o país perde sua maior empresa aeronáutica, por exemplo, a movimentação financeira de compra da empresa e até mesmo as demissões de milhares de trabalhadores, aparecem como crescimento do PIB naquele período. Depois, é claro, o país deixará de produzir e de empregar, aí aqueles recursos somem do cálculo do PIB. No Brasil, que está perdendo várias empresas, que estão sendo adquiridas por capital externo, o PIB aparece maior do que é de fato e retratando uma força econômica que deixa de ter.
De qualquer maneira, a paralisia ou redução de produção que a crise do novo coronavírus está provocando, acelera a tendência que havia antes dela. Ao contrário do que esses economistas burgueses apontam, este não seria um ano glorioso para a recuperação econômica. O país está cada vez mais se transformando em uma economia primária exportadora, concentrada em produtos do agrícolas e na área mineral e petrolífera. Dois setores altamente exploradores do meio ambiente e que produzem muito no curto prazo e geram grande bolsões de miséria no longo prazo, como demonstra a história de todos os países semelhantes.
Recuperação econômica
O noticiário capitalista procura concentrar a atenção na difusão de ideias relacionadas à recuperação da economia. As opiniões são variadas, mas em geral os economistas burgueses dizem que ele virá, mas não sabem quando. Não sabem mesmo. Porém a maioria expressa um desejo de que ela volte a crescer logo. O Itaú BBA afirma que já em 2020 a economia iniciará sua recuperação, mas a maioria dos bancos e financeiras consultadas semanalmente pelo Banco Central, para compor o Relatório Focus, indicam que a recuperação mesmo se dará somente em 2023 (FDR, 7/4/2020).
Do ponto de vista sanitário, não há consenso sobre quanto tempo a crise do novo coronavírus durará, nem como isso acontecerá, se haverá ou não a possibilidade de um novo surto, se as pessoas contaminadas e curadas não voltarão a ser contaminadas, assim por diante. Segundo temos visto no noticiário, os médicos só concordam que ninguém sabe o que vai acontecer. Até mesmo uma vacina pode ser descoberta e os cenários mais otimistas serão construídos.
Mas isso vale mais para países desenvolvidos e de economia forte. Para o Brasil o cenário não é nada animador para a grande maioria da população. O que tínhamos antes, nos últimos anos, era uma realidade de forte ataque aos direitos, aos empregos e à renda dos trabalhadores. Os salários estavam em queda, assim como os postos de trabalho. O mercado de trabalho estava cada vez mais fechado e os empregos oferecidos cada vez mais precários. Isto é, os serviços de alta exploração da mão de obra, com salários muito baixos e sem qualquer direito social. Como são os entregadores e os motoristas das empresas internacionais de aplicativos que apareceram nos últimos anos.
O mercado de trabalho, após a pandemia, seguirá essa trajetória, a não ser que uma revolta popular mude toda a situação política, mas isso é difícil de se prever, ainda mais observando o comportamento das direções políticas e sindicais brasileiras. Com a fragilização atual do mercado de trabalho, é impossível pensar em recuperação econômica como algo positivo para os trabalhadores brasileiros no próximo período. O PIB e o Mercado de Capitais podem até demonstrar crescimento, mas refletirão o crescimento do lucro por meio da super exploração dos trabalhadores, da fome e da miséria. O crescimento da já alta concentração de renda no Brasil.
Os países que apostam em uma recuperação por via do fortalecimento de seu mercado interno, fazem-no porque estão construindo políticas sociais de transferência de renda que irão assegurar alguma capacidade de consumo da população em um cenário pós-crise.
Países dependentes e atrasados
Em economias com empresas concentradas na produção para o mercado externo ou altamente dependentes das exportações, como acontece principalmente na América Latina e África, a retomada da economia demorará muito mais, pois estará dependente do que acontecerá nos países compradores.
Há, no caso brasileiro, outros elementos negativos. O agronegócio já está colocando em suas planilhas a perda de mercado para os EUA. Como o que acontecerá provavelmente com a soja. A China já anunciou que irá comprar mais dos EUA e menos do Brasil. Isso não é só produto da desastrosa política externa bolsonarista, mas principalmente por conta da agressiva política comercial norte-americana. No Brasil, até mesmo o agronegócio vai diminuir.
Como não se trata somente de uma crise sanitária, mas fundamentalmente uma crise do capitalismo que atinge seus alicerces, o processo de recuperação dependerá da capacidade do capital em atingir a classe trabalhadora, na capacidade de concentrar mais ainda os mercados e produzir inovações que produzam maior valorização do capital. Não é fácil prever como isso vai ocorrer, nem seus efeitos sobre o mercado de trabalho mundial, sobre os salários e sobre o enorme exército de reserva de desempregados que será ampliado com a miséria e a fome.
Cada vez são mais claras e expostas as fragilidades do capitalismo e sua incapacidade em produzir soluções que beneficiem a população. O sistema capitalista exige mais lucros, mais exploração do trabalho. A crise é expressão disso, mas em seu desenrolar, várias situações concretas aparecem, dando à realidade novos desafios. O enfraquecimento dos Estados Unidos no campo econômico, por exemplo, pode levar a políticas que mexerão muito com o Brasil. Se o imperialismo norte-americano decidir levar a cabo a ameaça de uma guerra contra a Venezuela e caso isso ocorra em um cenário de participação da China, Rússia e Irã, aí tudo o que se fala sobre a economia brasileira será ultrapassado. Mas se a intervenção norte-americana na Venezuela se der como a invasão do Panamá para sequestro do presidente Noriega, sem reação internacional, os trabalhadores brasileiros podem ter certeza de que o tacão da burguesia contra seus direitos será ainda mais pesado.