A censura a Donald Trump nas redes sociais por suposto incentivo à invasão do Capitólio no último dia 6 abriu um polêmico debate a respeito da liberdade de expressão e da pretensa “luta contra o fascismo”.
Os grandes monopólios empresariais e a imprensa capitalista defenderem tamanha arbitrariedade, vá lá. Estamos acostumados. Entretanto, chama a atenção a postura histérica da esquerda pequeno-burguesa, acompanhando como um cãozinho na coleira o seu amado dono, a burguesia.
Apoia-se a supressão de um dos direitos mais elementares da vida humana sob a desculpa de que Donald Trump e a extrema-direita merecem, uma vez que são grandes males a serem extirpados da face da Terra. Advoga-se, assim, que os donos do regime, os maiores explorados da humanidade, isto é, os grandes monopólios capitalistas (o imperialismo em seu estado puro), tenham o poder de calar e esmagar os indivíduos.
Alguns setores, mais exaltados e apaixonados, acusaram o PCO de defender Trump e os fascistas.
Não se trata disso. Para a esquerda pequeno-burguesa, embebida de um moralismo cego, alucinada como se estivesse em uma arquibancada durante um Fla-Flu no domingo, isso soa incoerente.
É que ela não está acostumada a agir por princípio, mas sim por conveniência. Quando convém, denuncia as mentiras da Rede Globo contra o PT, por exemplo. Mas quando a mesma Rede Globo, ou a Folha, ou a Veja, enaltecem Guilherme Boulos, aplaudem.
Quando um esquerdista disputa um cargo com um direitista qualquer, é preciso votar no esquerdista se não será o apocalipse. No dia seguinte, os dois estão abraçados e o esquerdista, derrotado, deseja boa sorte ao direitista.
Nas eleições municipais, era preciso votar em Boulos contra o PSDB em São Paulo, mas no Rio de Janeiro era preciso votar no PSDB carioca (o DEM) para vencer o fascismo (Crivella, do PP). Entretanto, em São Luís era preciso votar no PP contra outro fascista. Na Câmara, é necessário votar em Baleia contra o bolsonarismo, mas no Senado vota-se no candidato de Bolsonaro.
A esquerda não tem princípios. Mas o PCO sim.
Quando defendemos a liberdade de expressão, não a defendemos de maneira abstrata. Vamos até as últimas consequências para que esse direito seja garantido a todos. Afinal, se um direito é negado a uma parcela da população, ele deixa de ser direito para se tornar um privilégio. Ora, a natureza da esquerda não é justamente lutar contra os privilégios, contra a desigualdade?
A luta da esquerda, portanto, é uma luta contra a opressão. E quem são justamente os maiores opressores do gênero humano? Os capitalistas. Os que censuram Trump e a extrema-direita, e que sempre censuram a esquerda e a população em geral, são os capitalistas. Os controladores do Estado são os capitalistas.
Se legitimamos o poder dos capitalistas de controlarem estritamente o que pode e o que não pode ser dito, isso significa que qualquer tipo de liberdade e de direito democrático já não tem mais validade. Tanto é assim que a primeira emenda da Constituição dos EUA é exatamente o direito à liberdade de expressão e manifestação.
Retirar o direito à liberdade de expressão, censurando os que pensam de uma maneira diferente, é dar todo o poder ao Estado.
A censura dos monopólios imperialistas que controlam o Estado está sendo acompanhada de leis que restringem a liberdade de expressão. Assim como um direito serve para todos, as leis também servem para todos, na teoria. Essas leis servirão, como servem todas as leis, para reprimir todos os cidadãos, todos os que já são naturalmente oprimidos pelo Estado.
O que estamos vendo é um precedente extremamente perigoso. Quem controla o que é verdade e o que é mentira? O que é amor e o que é ódio? O Estado, de maneira arbitrária. Assim, não se pode mais contestar a autoridade do Estado. Não se pode mais contestar a opressão.
Um exemplo claro foi o que ocorreu na Tailândia. Na terça-feira (09), o judiciário do país condenou a 43 anos de prisão uma mulher que teria publicado comentários críticos à monarquia no Facebook e no Youtube.
De fato, a esquerda pequeno-burguesa não percebe, mas, ao perdermos direitos democráticos básicos como a liberdade de expressão, estamos retrocedendo até a época do absolutismo e do obscurantismo.