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O homem que caiu na terra

David Bowie e a vanguarda no rock

Neste dia 8 de janeiro comemoramos o dia em que Bowie faria 74 anos. Ele foi um dos mais influentes músicos do rock, com uma obra ao mesmo tempo vanguardista e popular

David Robert Jones nasceu em 8 de janeiro de 1947. Faria 74 anos se ainda vivo. Ficou mundialmente famoso com o nome de David Bowie. Foi um dos mais influentes músicos de rock, cuja marca era o seu intenso desejo de inovar e buscar novas formas de expressão.

Foi um dos poucos artistas que conseguiu combinar um enorme sucesso popular com uma obra múltipla, complexa e por vezes desafiadora. Trabalhou com alguns dos maiores nomes da música, como John Lennon, Queen, Bing Crosby, Lou Reed, Iggy Pop, Tina Turner, Mick Jagger e Pet Shop Boys, além de atuar também em filmes e peças de teatro.

Além de cantor e compositor era guitarrista, pianista e saxofonista. Mas ninguém foi tão habilidoso quanto Bowie em trazer o drama para a música. Suas apresentações ao vivo se tornaram eventos especiais, onde a plateia era transportada para um outro plano. Não é à toa que quando ele estreou como ator no filme “O Homem Que Caiu na Terra” em 1976 ele parecesse tão natural.

Londres

Bowie nasceu no bairro de Brixton em Londres. Mudou-se em 1953 para outro bairro londrino, Bickley e dois anos depois para Sundridge Park. Teve uma infância bastante comum, sendo que aos nove anos de idade foi atraído para a música quando seu pai trouxe para casa uma coleção de singles de artistas americanos como os Platters, Fats Domino, Elvis Presley e Little Richard.

Em meados dos anos 50 a moda na Inglaterra era o skiffle, um estilo musical americano, que era uma mistura de blues, jazz e folk. O skiffle se tornou extremamente popular entre os britânicos pela facilidade de se montar uma banda, usando instrumentos improvisados como tábuas de lavar roupa (washboard), violões e baixos de uma corda feitos com latas de metal. Bowie embarcou entusiasmadamente na ondo do skiffle e começou a tocar o ukelele e também o piano.

Uma das maiores influências do jovem David foi o seu meio-irmão Terry, nove anos mais velho e que mostrou a ele o mundo do rock, do jazz e da literatura beat. Terry apresentou ao irmão a música de John Coltrane e Charles Mingus e outros músicos de jazz. David ficou obcecado com Coltrane, a ponto de obrigar sua mãe a lhe comprar um saxofone Grafton em 1961. Bowie teve aulas com o famoso saxofonista barítono inglês Ronnie Ross.

Mas Terry era uma pessoa depressiva, com problemas mentais, o que forçou a família a interná-lo em uma instituição, um fato que atormentou David por toda sua vida. Terry acabou se suicidando em 1985, uma tragédia que se tornou o foco da canção de Bowie “Jump They Say”.

Em 1962 Bowie teve um sério acidente quando se envolveu em uma briga com o seu amigo George Underwood. Ele levou um soco no seu olho esquerdo que o deixou hospitalizado por quatro meses e ocasionou uma série de cirurgias. A consequência foi um olho permanentemente dilatado, que dá a aparência de ser de cor diferente do seu outro olho, o que se tornou um dos seus traços mais característicos.

Início de carreira

A primeira banda de Bowie foi o Konrads em 1962, quando ele tinha 15 anos. Nessa época ele avisou os pais que não voltaria mais à escola porque estava decidido a seguir uma carreira na música.

A primeira gravação aconteceu em 1964 quando lançou o single “Liza Jane” com a banda Davie Jones And The King Bees, um grupo que trazia, entre outros, seu amigo George Underwood na guitarra. O King Bees era uma banda de blues e rhythm & blues, com um repertório de músicas de Howlin’ Wolf e Willie Dixon, que não era exatamente do gosto de David. Por isso ele deixou a banda para se juntar aos Manish Boys e depois para o Lower Third.

Por esta época ele usava o nome de David Jones (ou Davie Jones), o que o incomodava porque causava confusão com o cantor Davy Jones dos Monkees. Assim ele adotou o nome de Bowie, nome tirado da marca de uma faca muito popular.

O primeiro disco solo de David foi “Do Anything You Say”, um single lançado em abril de 1966. O primeiro LP veio em 1967, chamado “David Bowie”, um produto típico da época, uma mistura de pop, psicodelia, music hall e folk, que tinha trazia apenas indicações do que o artista faria no futuro.

A falta de sucesso do disco levou Bowie a também desenvolver seu talento em outras áreas. Depois de um período vivendo em um mosteiro budista na Escócia, teve aulas com o mímico Lindsay Kemp, que o apresentou ao teatro de vanguarda e várias técnicas teatrais, habilidades que serviriam para, no futuro, desenvolver personagens importantes, como Ziggy Stardust e Thin White Duke.

Sucesso

O segundo LP foi lançado em 1969, também chamado “David Bowie”, mas mais tarde relançado com o nome de “Space Oddity” ou “Man Of Words/Man Of Music”. A música “Space Oddity” foi o primeiro grande sucesso do cantor, uma canção inspirada pela corrida espacial e pelo filme de Stanley Kubrick, “2001: Uma Odisséia no Espaço”. O lançamento do single coincidiu com a descida dos astronautas americanos na lua.

Em seguida lançou mais dois álbuns, “The Man Who Sold The World” (1970) e “Hunky Dory” (1971), excelentes trabalhos que mostrariam a nova direção de sua música, muito mais próxima do hard rock, algo que se consolidaria com o disco seguinte, “Ziggy Stardust And The Spiders From Mars” de 1972, onde é acompanhado pela sua banda The Spiders From Mars, com o virtuoso guitarrista Mick Ronson.

Ziggy Stardust foi o primeiro grande personagem de Bowie, uma estrela do rock fictícia, andrógina, bissexual, que é mandada para a Terra como um salvador de um iminente desastre apocalíptico. O disco fez de Bowie um dos artistas mais populares do Reino Unido, um dos principais nomes do estilo que ficou conhecido como glam rock, que incluía grupos como o Sweet e Slade e cantores como Suzi Quatro e Gary Glitter. Vale lembrar que a homossexualidade na Inglaterra só foi legalizada em 1967, então o assunto ainda era um grande tabu para a população. Neste sentido Bowie teve um importante papel na desmistificação do preconceito sexual.

Bowie levou Ziggy Stardust muito a sério, em momentos quase se confundindo com o personagem. Segundo o próprio, “minha personalidade foi afetada, tornou-se algo perigoso, comecei a ter dúvidas sobre minha própria sanidade mental”. Os shows desta época eram altamente teatrais e dramáticos. Bowie resolveu dar um fim a Ziggy em 3 julho de 1973, quando fez o último show desta fase no Hammersmith Odeon.

Em 1974 mudou-se para Los Angeles, onde gravou o disco “Diamond Dogs”, um trabalho inspirado pelo livro “1984” de George Orwell, além de influências dos escritos de William S. Burroughs. Um fato pouco lembrado é que Bowie é o único guitarrista do disco, o que mostra que é um instrumentista muito capaz. Uma das provas é o riff inspirado de “Rebel Rebel”, um dos grandes hits do cantor.

O ano de 1975 trouxe uma mudança drástica no estilo de Bowie. O LP daquele ano, “Young Americans”, era um disco totalmente dedicado ao soul e ao R&B, gravado com músicos negros na Filadélfia. O grande destaque é a música “Fame”, co-composta por Bowie, seu guitarrista Carlos Alomar e John Lennon.

Polêmica

No ano seguinte Bowie lança o álbum “Station To Station”, acompanhado por uma nova persona, o Thin White Duke (o magro duque branco), visualmente uma extensão do personagem que ele interpretou no filme “O Homem Que Caiu Na Terra”. Só que o Thin White Duke era uma mistura de inúmeras ideologias totalitárias, atitudes aristocráticas e era, segundo o próprio Bowie, “um tipo ariano, fascista, um pretenso romântico totalmente desprovido de emoções”.

Em uma entrevista Bowie fez comentários apoiando o fascismo, mas logo se retratou, dizendo ser colocações feitas pelo seu alter ego Thin White Duke e colocando a culpa em seu abuso de anfetaminas e cocaína. E tão rápido quanto apareceu, o personagem do Thin White Duke foi aposentado.

Para se recuperar dos problemas causados pelo vício Bowie resolveu se mudar para Berlim, onde grava a sua famosa Trilogia de Berlim, três álbuns que são o ápice do seu vigor criativo, “Low” (1977), “Heroes” (1977) e “Lodger” (1979). Nesses discos Bowie tem a colaboração do produtor Brian Eno e de músicos excepcionais como Robert Fripp, guitarrista do King Crimson. São discos onde Bowie mostra sua fascinação com o rock alemão, conhecido como krautrock, de grupos como Kraftwerk, Can e Neu!, além de estar sintonizado com as novas tendências musicais como a new wave e a world music. Em “Lodger” o experimentalismo de Bowie e Eno chega a um ápice, com o uso de várias técnicas inéditas como usar um jogo de cartas para tomada de decisões, como a escolha de acordes em uma música.

Let’s Dance

Depois do lançamento de “Scary Monsters And Super Creeps” em 1980, Bowie se dedicou a um projeto teatral, a produção “O Homem Elefante”, onde recebeu aclamação do público e crítica. Continuou fazendo filmes como “Fome De Viver” (1983), “Labirinto, A Magia do Tempo” (1986), “Furyo: Em Nome da Honra” (1983), “A Última Tentação de Cristo” (1988), “Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer” (1992) e “Basquiat” (1996).

Em 1983 Bowie alcançou o seu auge de popularidade com o lançamento de seu disco “Let’s Dance”, co-produzido com o guitarrista do Chic, Nile Rodgers. Além da faixa título, o disco trouxe outros sucessos como “China Girl” e “Modern Love”. Nos anos 80 fez muitos shows e lançou os álbuns “Tonight” (1984) e “Never Let Me Down” (1987). Este período é visto como um auge de popularidade, mas de pouca ousadia criativa.

Buscando um meio para reativar seus instintos criativos, Bowie formou um grupo, o Tin Machine, em 1989. Nessa banda ele se considerava apenas um dos integrantes, parte do quarteto que incluía Reeves Gabrels (guitarra), Tony Sales (baixo) e Hunt Sales (bateria). O Tin Machine lançou dois álbuns, “Tin Machine” (1989) e “Tin Machine II” (1991), prenunciando a sonoridade pesada que faria sucesso nos anos seguintes com a chegada do movimento conhecido como grunge.

Período eletrônico

Com energias renovadas após o período do Tin Machine Bowie voltou a se conectar com as correntes mais avançadas do rock de então, se aproximando do chamado rock industrial, de bandas como o Nine Inch Nails, do pop eletrônico do Pet Shop Boys, do jungle e do drum’n’bass. Nesse período lança os discos “Black Tie White Noise” (1993), “Outside” (1995), “Earthling” (1997) e “Hours” (1999).

O álbum “Heathen” de 2002 é uma nova mudança, uma volta para sonoridades mais naturais e menos eletrônicas. Depois do lançamento de “Reality” em 2003 Bowie parte para sua última série de shows, a Reality Tour, onde é visto por mais de 700 mil pessoas.

Após um ataque cardíaco em 25 de junho de 2004, Bowie reduziu sua atividade musical e só lançou um novo disco em 2013, “The Next Day”. Seu último disco foi “Blackstar”, lançado em 8 de janeiro de 2016, o dia do seu aniversário de 69 anos.

“Blackstar” foi o seu testamento, um trabalho onde estão canções que incorporam elementos de rock, jazz, free jazz, rock industrial, folk e hip hop, certamente o seu disco mais experimental em muito tempo.

Bowie morreu de câncer no fígado, apenas dois dias depois, no dia 10 de janeiro, de um câncer que havia sido diagnosticado 18 meses antes. Durante todo esse tempo ele manteve sua doença em segredo até mesmo para seus amigos e mesmo dos músicos com quem trabalhou em seu último disco. Sua morte foi um acontecimento dramático, uma saída de cena digna de um grande ator, de um grande músico, um grande artista.

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