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Polêmica

CUT e sindicatos são (serviços) essenciais para a classe trabalhadora

Publicamos aqui nota de dois ex-diretores do Sindicato dos professores do Distrito Federal criticando a diretoria do sindicato e da CUT-DF de entregar suas sedes para Ibaneis

CUT e sindicatos são (serviços) essenciais para a classe trabalhadora

Recebo, pelo whatsapp, uma notícia, “Sinpro-DF oferece sede para receber pacientes da Covid-19”; um artigoCUT-DF: de sindicato a repartição pública de governo de direita”, do Partido da Causa Operária – PCO e; uma nota assinada por Rosilene Corrêa e Rodrigues Rodrigues, dirigentes sindicais, sobre o artigo do PCO, acerca do mesmo assunto.

Obviamente, lendo todos, senti necessidade de colocar no papel algumas considerações – ou de fazer um textão – já que serão enviadas, apenas, para compas.

Embora o artigo do PCO seja tachado de “ardiloso, cruel e egoísta”, concordo, no geral, com o conteúdo, embora discorde, às vezes, dos arroubos retóricos. Para quem tem 70 anos, como eu, pra quem gosta de estudar História, pra quem interpreta dialeticamente a realidade, impossível discordar das afirmações daquele partido, quando analisa a conjuntura e se refere à tentativa das elites de gerenciar o capitalismo, coisa que acontece em todas as suas crises, com chamadas à unidade, mais recentemente, na História do Brasil, com as chamadas aos pactos sociais, os famosos pactos caracu. A elite entra com a cara.

Lembro, por oportuno, que a esquerda, mundialmente, sempre se colocou contra esses pactos. E é nosso o papel histórico fazer oposição ao que virá, ou seja, ao óbvio chamado para integrar uma – seja lá que nome tenha – ‘Frente de Salvação Nacional’, com forças da direita, com golpistas, canto de sereia que, prevejo, meu partido tende a seguir, por causa das manifestações de influentes lideranças partidárias, que pouco ou nada aprenderam com as lições que o golpe contra Dilma e a prisão de Lula trouxeram, entre outras coisas! No horizonte, a esperteza da elite com as propostas de recolonização do País.

Quanto à referida nota, logo no primeiro parágrafo, me deparo com uma afirmação absolutista, segundo a qual, o PCO criticou as entidades Sinpro e CUT. Esse é um esforço notável de distorção: a crítica é feita às suas direções por sua decisão vertical e pontual, se é que o conjunto de diretores/as daquelas entidades participou do debate. Não é preciso ser brilhante pra entender a quem, realmente, a crítica se dirige.

E sabemos que as direções passam e as entidades ficam, quando tais direções não as destroem por completo. Então, não sejamos absolutistas pois, no caso, L’État ce n’est pas moi, ou seja, a CUT e o Sinpro, absolutamente, não se resumem a seus dirigentes, nem poderiam, pois agregam uma diversidade ideológica que inclui, certamente, militantes do PCO.

A menos que as tenham privatizado, sem a gente saber, assim como não se sabia que entidades cutistas podiam fazer PDV – ler sobre o terror que é isso – com os seus trabalhadores; poderiam terceirizar os trabalhadores da entidade; poderiam aparelhá-las de tal forma que chegassem a pensar que são seus donos e a possibilidade do exercício de crítica por parte da categoria que se interessa pelo debate político, ser reduzido a zero.

Na ditadura militar, cunharam a frase “Brasil, ame-o ou deixe-o!”: quem se opunha ao regime militar era acusado de não amar o Brasil e de não defender a pátria. Confundia-se, propositalmente, governo com pátria.

Em seguida, ainda recorrendo aos adjetivos ‘lamentável, decepcionante, grotesco’, a nota diz que o PCO se aliou ao presidente genocida e prefere ‘sacrificar vidas pra salvar interesses próprios”.

Com acusação tão grave, é de se perguntar em que parte do artigo o alinhamento e a concordância com o governo genocida estão explicitados; é o caso de se perguntar, ainda, que interesses próprios seriam esses, pois insinuação nunca foi uma forma leal de se acusar.

É justo fazer parecer que militantes de esquerda, aliados, são sociopatas que se negam a salvar vidas, por considerarem equivocada a cessão daquilo que é sua trincheira de luta? Então, o PCO é inimigo, mas Ibaneis é amigo?  Isso não está totalmente dito, mas não pode ser inferido?

Se essa energia toda pra se defenderem tivesse sido dedicada ao esclarecimento e à conscientização da classe trabalhadora brasileira, teríamos chegado ao ponto a que chegamos?

Na jornada de lutas contra o impeachment de Dilma, contra a prisão de Lula, contra as reformas trabalhista e previdenciária, contra a venda do patrimônio coletivo do Brasil, aprendemos a respeitar o PCO como o partido de esquerda mais enfático, mais ágil e mais veemente na defesa pública da democracia, da soberania nacional, dos direitos da classe trabalhadora, da legitimidade da presidenta Dilma, da liberdade de Lula e de nosso patrimônio. Então, não estamos tratando de inimigo. Se lhes acusam o estilo panfletário, melhor esse do que nenhum. Não vimos, nas manifestações, terceirizados carregarem faixas ou bandeiras do partido.

Com líderes como Zé Dirceu emudecidos pelo cárcere, as análises de Rui Pimenta, presidente do PCO, inúmeras vezes, apontaram o caminho que, a nós militantes da esquerda – partidária e sindical – tantas vezes faltou e falta,  devido à cegueira e  ou à debilidade ideológica de suas direções.

Vivemos em um país em que as pessoas dizem coisas das outras, destroem reputações e vidas impune e injustamente. Infelizmente, boa parte da sociedade aceita isso com alguma naturalidade. Eu não aceito! E não é apenas porque eu e oito companheiras/os fomos vítimas fatais desse método; é questão de princípio. As considerações sobre o PCO seguem esse caminho e eu mesma me exponho a risco semelhante ao escrever esse texto.

Dito isso, considero também razoável qualquer pessoa criticar a falta de discussão sobre o tema, ou seja, a verticalidade da decisão, já que a sociedade dispõe de inúmeros órgãos de governos, como o Centro Administrativo, hotéis, hospitais, etc.

Do ponto de vista científico, ou apenas médico-hospitalar, qual seria a efetividade da cessão de sedes de entidades sindicais para o combate à doença e para seu tratamento, já que ali não poderiam ser instaladas UTIs? Ou poderiam?

Como isso seria, de fato, solidariedade? Como isso poderia, de fato, salvar vidas? Em que medida isso se poderia concretizar cedendo prédios ao governo, para ele decidir o que fazer, como se as estruturas sindicais fossem subsedes dele, o governo?

E a proposta de abrigar os sem tetos, os moradores em situação de rua, enquanto dure a pandemia, como fez Messi com seus hotéis na Argentina?

Direções das entidades não podem se embrenhar pelos caminhos nebulosos de solidariedade discutível, à moda do fascismo flácido de pastores vendilhões do templo pois, quem de nós pode afirmar, com certeza, que as trabalhadoras e os trabalhadores não precisarão de suas trincheiras durante essa crise?

Não quero ‘pagar’ de dona da verdade, pois não sou dona nem de minha reputação vilipendiada, mas tendo a CUT e seus sindicatos, independentemente de suas direções, serem (serviços) essenciais para a classe trabalhadora, ouso sugerir ações como:

– manter contato com a base, já que se têm os meios para tanto – banco de dados, canal de TV, internet – para promover agitação, com mensagens curtas, incisivas, em vez de despejar decisões em um público passivo;

– passar orientações sobre comportamento social para evitar a doença;

– mostrar a importância do SUS, da saúde pública no geral “Salvar o SUS para nos salvar!”; – da educação pública; da preservação da soberania nacional; da solidariedade entre os trabalhadores/as e os povos;

-denunciar o comportamento genocida do governo nacional;

– aplaudir os governadores e prefeitos que enfrentam a escassez de recursos e protegem a população apesar da irresponsabilidade criminosa do governo central;

-mostrar o comportamento de proteção ao seu povo, adotado por outros governos nacionais;

-desvendar a farsa das fake news diuturnas pra levar o povo ao suicídio;

-mostrar, no mundo, que países estão sendo solidários e quais países continuam investindo em armamentos, em ataques a outros, enquanto o próprio povo morre à míngua;

– informar que Bolsonaro queria dar R$ 200,00 por mês aos carentes, enquanto deu 1 trilhão aos banqueiros, para emprestar esse dinheiro a juros que, em qualquer escala, em momento de crise, serão muito altos;

-dizer que foi o PT- o demonizado PT- que, a duras penas, conseguiu aprovar a proposta de aumentar para R$ 600,00, aliando-se aos demais partidos de esquerda, porque o Congresso Nacional representa os interesses de 1% da população, entre tantos outros temas.

Conversa e esclarecimento não faltariam nesse momento e para isso é preciso a autonomia, a ousadia e a luta propugnada pelos dirigentes na nota que assinam, sendo que a cessão das entidades da maneira proposta e o modo como rebatem a crítica do PCO caminham no sentido contrário.

O momento é profundamente pedagógico para mostrar, didaticamente, o mal que o voto no inimigo pode causar a todas as pessoas; é hora de cobrar responsabilidades, pois é hora de aprender, ainda que do modo mais sofrido, as consequências do voto nos partidos da elite! E é preciso saber fazer isso sem ódio, com paciência e, duramente, sem perder a ternura.

E se isso está sendo feito, desde sempre – como diz a nota autolaudatória – por que uma categoria como as dos professores no DF, que nunca foi de vanguarda – é verdade – mas jamais teve tão alto grau de individualismo e de alienação sobre sua própria condição, votando – 80% – pela militarização das escolas; votando, em massa, num desconhecido que investiu milhões para comandar o GDF; votando numa pessoa que nunca escondeu sua condição de nazifascista com tudo o que isso implica?

Poucas categorias até o momento sabem, realmente, o significado de tais reformas em suas vidas e as de suas famílias. A visita aos locais de trabalho, a forma mais eficiente pra fazer o debate da conjuntura e a disputa da narrativa, não foi o método privilegiado pelas direções sindicais atuais ou recentemente eleitas, pra auscultar as categorias e saber de seus anseios, de suas dúvidas, de sua intepretação da conjuntura. E isso é fato. A ausência da massa de trabalhadores e trabalhadoras nas ruas em protesto contra as reformas é autoexplicativa e se basta.

Ah, a categoria (dos professores/as) mudou muito! Claro, por que não mudaria se o mundo mudou? Em que medida as direções sindicais mudaram também para continuar falando efetivamente a alguém que continua, sim, classe trabalhadora que, por sinal não poderia, a exemplo dos informais, viver sem o dinheiro do salário?

E, por fim, vejam na Internet a citada “Plataforma Emergencial para Enfrentamento da Pandemia de Coronavírus e da Crise Brasileira”, lançada em 31 de março p.p. pela CUT e mais 40 entidades sindicais.  Li, atentamente, o texto e ali não vi essa proposta de cessão das entidades no modelo defendido.  Se eu estiver, errada, desculpas antecipadas. Mas até lá, vejo as outras entidades servirem pra coonestar proposta que não foi discutida naquela oportunidade.

Por fim, citar Saramago num texto revelador de cegueira é oportuno.

Lúcia Ivanov – co-fundadora do Sinpro/DF, da CNTE, da CUT nacional e do DF, do DNTE/CUT, pária do movimento sindical, pois expulsa da direção do Sindicato dos Professores no DF, sem acusação formal e sem direito a defesa, juntamente com mais 8 militantes da área de educação. 

Walter Peninha – Médico, perito, aposentado, ex-diretor do Sinpro-DF

 

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