O técnico Cristóvão Borges sofre mais um revés em sua carreira, que em outras épocas já viu às voltas com perseguições racistas no futebol. Agora acabou de ser demitido do clube pelo qual atuava, o Atlético Goianiense, com a segunda melhor campanha do campeonato goiano, com 4 vitórias, 2 empates e apenas uma derrota, 14 pontos somados, com 15 gols a favor e apenas 2 gols contra. Está campanha coloca o clube, observando se todos os campeonatos estaduais com a quarta melhor campanha do país, neste início de ano, atrás de Santo André, Palmeiras, Jaraguá (GO) e a frente inclusive do Flamengo.
A demissão do excelente técnico Cristóvão Borges foi ordenada pelo presidente do clube Adson Batista que expôs, que errou na contratação de Cristóvão Borges e alegou que precisa de um time reativo para a disputa do campeonato brasileiro para o qual o clube está classificado em 2020, ou seja um time que se defenda mais do que ataque. Observando se os dados se vê que em 7 jogos a equipe do treinador levou apenas dois gols, uma das melhores do país no quesito defensivo.
Na história do futebol brasileiro os técnicos negros sempre estiveram à margem da elite do futebol nacional. Apesar de sermos os únicos penta campeões mundiais, sendo que, as cinco formações da seleção brasileira que venceram a Copa do Mundo, estavam abarrotadas de jogadores negros, inclusive destes, apenas o ex-meia Didi construiu carreira notável como treinador.
Vários exemplos surgem, quando o assunto é o racismo no futebol. Um deles é o de 2009 quando o ex-volante Andrade, da equipe rubro negra dos sonhos da década de 80, sagrou-se o primeiro técnico negro campeão brasileiro. Como em outras quatro ocasiões, ele havia assumido provisoriamente o Flamengo, no meio do campeonato. Foi efetivado e levou o rubro-negro ao hexa, mas acabou mandado embora cinco meses depois, com 70% de aproveitamento.
Outro caso é o de Lula Pereira, que hoje em dia se recupera de um AVC, com breves passagens por Brasiliense, Paysandu e Boavista, ele, que já afirmou ter sido discriminado no ramo, chegando a ficar desempregado por quase 4 anos, entre 2012 e 2015.
Voltando a Cristóvão Borges, o treinador em 2011 foi efetivado no comando do Vasco d Gama onde passou de auxiliar a técnico devido ao AVC sofrido na ocasião por Ricardo Gomes. Antes de ser efetivado, no começo do ano passado, ele guiou o Vasco ao vice-campeonato brasileiro e, já em 2012, às quartas de final da Libertadores. Cobrado pela torcida, não resistiu à queda de produção do time e deixou São Januário em setembro. “Quando o Cristóvão saiu do Vasco, eu disse que ele dificilmente conseguiria emprego em outro grande clube brasileiro”, conta Cláudio Adão, ex-técnico de Volta Redonda e CSA-AL.
Cristóvão também sofreu perseguições racistas no Flamengo, em 2015. Na época afirmou que há conotação racista nas críticas da torcida rubro-negra ao seu trabalho. “Começam com as críticas, que viram insistentes, contínuas e diárias, uma perseguição, e, no conteúdo de algumas dessas críticas, existem componentes racistas. Por exemplo, foi citado que o Flamengo, na hora de escolher o treinador, deixou de escolher o Oswaldo de Oliveira para escolher o Mourinho do Pelourinho”, contou o treinador.
Outro caso é o do próprio Cláudio Adão que virou instrutor de atores que encenam jogadores de futebol na TV e no cinema, apesar de não ter abandonado o desejo de dirigir um clube profissional. “Infelizmente, o negro é tratado como analfabeto no futebol”, disse em recente entrevista.
Apesar das desculpas dadas pelo presidente do Clube Atlético Goianiense, esta é mais uma triste história do racismo no meio da maior paixão nacional. É necessário que jogadores e treinadores se organizem em sindicatos próprios da categoria e façam valer seus interesses, através de campanhas e mobilizações que denunciem e organizem a luta contra o racismo no futebol.