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As fragilidades do capitalismo

Crise no petróleo e dólar a 5,30 indicam drama longe de terminar

A crise capitalista será longa e cheia de altos e baixos

O dólar fechou na segunda-feira (20/4/20) no mercado de câmbio com o segundo maior valor depois do Plano Real. Um dólar, no câmbio comercial, custa agora R$ 5,309 reais. Isso mantém constante a tendência de queda da moeda brasileira frente ao dólar.

Se a economia internacional estivesse estável, uma desvalorização da moeda nacional significaria maiores vantagens aos exportadores e maiores desvantagens aos importadores. Os produtos nacionais estariam mais baratos para o exterior, isso facilitaria a venda de mais produtos e os capitalistas exportadores ganhariam mais em moeda nacional por cada mercadoria exportada. Por outro lado, isso significaria que os importadores teriam que pagar mais pelos produtos importados, dificultando a vida dos consumidores de produtos importados e dos empresários que estivessem comprando máquinas e componentes estrangeiros. Mas favoreceria a produção nacional de mercadorias. Isso no passado se chamou política de substituição de importações, iniciado no governo Vargas, na década de 1930, e que chegou de forma não persistente até a década de 1950, também ocorreu em alguns momentos da ditadura de 1964.

Mas como estamos vivendo um processo de crise mundial do capitalismo, essa regra geral não funciona do mesmo jeito. Hoje o Brasil é basicamente um grande exportador de matérias primas. O que o país tem mais a oferecer aos outros mercados são aos produtos do agronegócio, exportamos água e a saúde de nosso ambiente, os produtos extrativistas, como madeira, um pouco de petróleo e muito de minérios. Mas com o comércio internacional praticamente paralisado, mesmo com preços mais baixos, o país pode não conseguir aumentar a exportação.

Entre 2015 e 2018, 25.376 empresas industriais faliram. Só no primeiro semestre do ano passado em São Paulo, mais de 2.500 empresas industriais fecharam. Isso significa, de maneira clara, que não é provável que se aproveite a alta do dólar para produzir internamente aquilo que antes se importava, pois os produtores não existem mais. Como é muito provável que tenhamos uma forte queda no poder aquisitivo interno, o consumo baixo não estimulará a abertura de indústrias. O dólar alto não será estímulo para uma substituição das importações.

A crise tende a ser muito mais longa do que os economistas burgueses e o governo neoliberal apregoa. A crise capitalista mundial desorganiza o mercado, tanto no lado da produção, quando no lado do consumo. A produção será retomada de forma desigual e não continuada, a se manter o processo atual da pandemia do novo coronavírus. Como grande parte da produção mundial é distribuída em vários países, isso significa que não será fácil retomar os níveis anteriores de produção, que já estavam em queda em vários países.

Além disso, dentro da crise maior, há outras crises também muito graves para a economia capitalista como um todo. Um exemplo é a crise do petróleo. No início do ano o barril de petróleo estava sendo contado a US$ 68.75 e não mostrava sinais de recuperar seus preços anteriores. Em julho de 2008 o barril chegou a ser cotado a US$ 143.68, a crise daquele ano fez os preços desabarem a US$ 37.04 em dezembro e até 2014 os preços foram lentamente crescendo até chegarem a US$ 101.21 em setembro de 2014, quando desabaram novamente chegando a US$ 29.64 em fevereiro de 2016, depois disso houve um novo período de recuperação do preços que chegaram a US$ 80 e se mantiveram na faixa acima de US$ 60 até o início deste ano.

Países produtores como o Brasil e principalmente a Venezuela foram muito prejudicados com essa instabilidade de preços, o que repercutiu diretamente na política interna e nas condições de vida da população, principalmente no caso venezuelano.

Com a crise econômica já dando mostras de ser mundial, em 2019, e com o aparecimento do coronavírus COVID-19 as importações de petróleo caíram e no começo de março a Arábia Saudita, maior produtora mundial e controladora da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP), tentou um acordo com a Rússia, que não faz parte da OPEP, para deduzirem a produção para não sofrerem com uma queda de preços que seria inevitável tendo em vista que a demanda estava caindo e continuaria diminuindo. A Rússia não concordou, a Arábia Saudita tentou um lance arriscado, aumentando sua produção, criando uma oferta gigantesca, a Rússia bancou o blefe saudita e o preço do petróleo desabou a menos de US$ 20. Isso desencadeou uma crise mundial das bolsas de valores, despencando os preços de todas as companhias petrolíferas e, de forma sistêmica, de grandes empresas em vários setores.

Na guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita, quem mais perdeu foram os Estados Unidos da América do Norte (EUA). A partir da crise do petróleo de 2008, empresas norte-americanas passaram a investir pesado na extração de petróleo do xisto. Uma extração que afeta enormemente o meio-ambiente (pois contamina a água do subsolo) e é mais cara. Mas o aumento dos preços e o estímulo do governo fez com que chegasse até a produzir mais que a Arábia Saudita. A queda dos preços agora inviabiliza a produção norte-americana e ameaça de falência as empresas que exploram o petróleo do xisto.

A queda dos preços em março já encontrou o mundo com uma super oferta de petróleo, mas o governo norte-americano aproveitou a oportunidade para comprar mais petróleo ainda. Donald Trump chegou a afirmar que os EUA seriam autossuficientes por muitos anos e mandou lotar as reservas estratégicas de petróleo aproveitando o preço baixo.

Essa situação gerou um colapso do mercado mundial nesta segunda-feira (20). A Bolsa de Mercadorias de Nova Iorque (NYMEX) e a Bolsa Intercontinental (ICE), que comercializam quase todos os contratos de petróleo do mundo, produziu um fato inédito. Os compradores começaram a pagar para que o petróleo não fosse entregue ou para entregar o óleo para outros. Isso fez com que o preço dos contratos futuros de maio caíssem de US$ 17.73 a -US$ 37,63 (Valor, 21/4/2020). Isso aconteceu porque os donos desses contratos começaram uma corrida para vender seus contratos e títulos porque ninguém queria ou poderia receber o produto físico que esses contratos representam. “Tem gente dizendo: ‘Leva o meu petróleo, que eu não tenho o que fazer com ele, literalmente’”, explicou David Zylbersztajn, professor da PUC-Rio e ex-diretor geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) (Veja, 20/4/2020).

As refinarias americanas estão processando muito menos petróleo e os estoques de óleo estão abarrotados. “Grandes comercializadoras de petróleo já contrataram navios apenas para ancorá-los e enchê-los do combustível. Um recorde de 160 milhões de barris está estocado em navios-tanque no mundo” (Veja, 20/4/2020).

Especialistas acreditam que o mercado continuará assim, instável e sujeito a situações inéditas, por algum tempo. É o que se espera tanto para esse setor, como para todo o resto da economia capitalista. Essa situação insólita não representa uma característica do petróleo, é uma fotografia do capitalismo fragilizado em enfrentando aquela que poderá ser a sua maior crise histórica.

Para o Brasil, essa situação não significa combustíveis mais baratos e preços em queda. Antes de tudo, significa maior fragilidade da Petrobras e redução da produção de petróleo bruto. Por consequência, menor arrecadação de tributos e de royalties. Os estados e municípios que vivem ou têm alguma dependência desse recurso sofrerão ainda mais. Com a economia nacional fraca e também em crise, esse pode ser o elemento desencadeador de outras crises locais ou até nacional.

O que estamos vendo, dia-a-dia, é o desenrolar da crise capitalista e o desmentido pelos fatos de toda a ladainha de que a crise é só do coronavírus ou que ela é passageira. Os fatos estão mostrando que o país não vai se recuperar facilmente dessa crise e que é fundamental que os trabalhadores estejam preparados e organizados a enfrentar uma forte ação dos capitalistas contra seus direitos e seus salários. Eles vão querer tirar tudo o que puderem dos trabalhadores para compensarem a redução de lucros.

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