A crise no governo britânico se aprofunda a cada dia que falta para o término do prazo máximo para a saída do Reino Unido da União Europeia, em 31 de outubro.
De acordo com a edição da última quarta-feira (09) do jornal norte-americano The New York Times, cinco secretários de Estado estão ameaçando deixar o governo do primeiro-ministro Boris Johnson caso o país saia do bloco continental sem nenhum acordo. São eles: Nicky Morgan (secretário de Cultura), Julian Smith (ministro para a Irlanda do Norte), Robert Buckland (secretário de Justiça), Matt Hancock (secretário da Saúde) e Geoffrey Cox (procurador-geral). Eles teriam aconselhado Johnson a respeito do grave risco em relação à Irlanda do Norte.
A metade norte da ilha da Irlanda é submetida ao domínio do imperialismo britânico e, caso o Reino Unido saia da União Europeia, Londres teme que esse domínio tenha seus dias contados porque os norte-irlandeses poderiam aumentar os clamores por independência para poderem voltar à UE. Isso enfraqueceria de maneira absurda o já decadente imperialismo britânico, perdendo mais uma colônia. Essa independência, logicamente, serviria de inspiração para as outras nações oprimidas por Londres, como o País de Gales e a Escócia (cujo povo já demonstrou em anos anteriores).
Além dos secretários e do procurador-geral, deputados do governante Partido Conservador (o mesmo de Johnson) pretenderiam renunciar a seus cargos caso ocorre um Brexit sem acordo.
Essa crise expressa a clara divisão dentro do governo britânico e do Partido Conservador. Logo quando Johnson foi eleito premiê, em julho deste ano, diversos políticos do partido ameaçaram deixar a agremiação devido à sua postura radical em relação ao Brexit.
Mas também expressa uma divisão dentro da própria burguesia britânica. Setores que tiveram seus negócios prejudicados com a concorrência com as companhias europeias a partir da abertura comercial para a UE – e, especialmente, desde a crise de 2008 – não querem mais essa concorrência desleal, e buscam salvar seus lucros por meio de uma política mais protecionista do governo de Johnson, que eles apoiam.
Do outro lado, a grande burguesia britânica – particularmente, os banqueiros da City de Londres – e europeia e mundial defendem a permanência da Grã-Bretanha na União Europeia, para que continue aberto o mercado britânico aos grandes monopólios internacionais. E utilizam todo o seu poder para controlar políticos opositores e governistas, até mesmo os do próprio gabinete do primeiro-ministro.
Essa é a maior crise no país ao menos desde a Segunda Guerra Mundial e a perda de inúmeras colônias por parte do imperialismo britânico. Ela é um dos reflexos mais importantes da crise geral do capitalismo, aberta principalmente desde a crise econômica de 2008, e que mostra que o capitalismo não encontra saída alguma.