Em entrevista recente, o novo vice-presidente de futebol do Cruzeiro, Pedro Lourenço, afirmou que, não bastasse o rebaixamento inédito, as dívidas do clube no momento são para mais de 700 milhões, além estar devendo 4 meses de salários aos seus jogadores e não ter perspectivas no momento de contratar novos atletas ou manter o atual elenco.
Desde o rebaixamento, a antiga diretoria renunciou ao cargo e, imediatamente, como de costume, iniciou-se a novela mexicana de que o clube está falido e de que não há uma luz no fim do túnel. No entanto, chama a atenção o fato de que um grupo de empresários assumiu o clube com tal discurso, e assim tem se cogitado a hipótese de tornar o Cruzeiro em sociedade anônima. Vale salientar que, nesse ano, narrativa semelhante tem sido utilizada também pelo Botafogo, mesmo não tendo sido rebaixado. Na prática, a crise financeira dos clubes parece sempre ser descoberta pelos próprios dirigentes que a conduziram por anos como algo maior do que o previsto no apagar das luzes e imediatamente abre-se o debate entre declarar falência ou se tornar S/A, como se não houvesse uma terceira opção.
Aos capitalistas é conveniente ocultar essa terceira opção, que no caso é a torcida. A mentalidade destes é que os clubes se tornem, não mais um bem público, mas um bem de um grupo específico que passa a conduzir todo aquele patrimônio construído com suor das massas com mais exclusividade, afinal um clube sem fins lucrativos está mais sujeito a influências e embates do torcedor.
Se os dirigentes passaram anos administrando mal esse patrimônio, por que agora a sugestão levantada por estes mesmos passaria a ter tanta credibilidade? Na verdade até o linguajar é antigo, há no mínimo uns 15 anos que dirigentes de distintos clubes sempre assumem com o discurso de profissionalização da gestão sem explicar o que isso significa. Seus meios, no entanto, agora, contam com apoio e chantagem de golpistas, alegando que os clubes se encontram sob condição de serem socorridos com refinanciamento de suas dívidas apenas em caso de estes aderirem ao projeto de clube empresa. O avanço dos capitalistas deve ser detido desde já, sua tática de desvalorizar os bens do povo brasileiro para posteriormente se apossarem destes já é conhecido em empresas públicas e agora avança até mesmo sobre o futebol.