A necessidade desesperada de isolamento social adotada pelos estados tem prejudicado duramente o esporte, e o futebol não ficou fora disso. A falta de recursos e a política dos governos federal e estaduais estão entregando a população à sorte.
Para além dos obstáculos enfrentados pelos jogadores profissionais como suspensão de contratos, diminuição e atraso salariais, danos e retrocessos dos preparos físico e técnico, é preciso denunciar a situação dos jogadores das categorias de base dos clubes. Estes, não apenas enfrentarem todos esses problemas por que passam os profissionais, mas muitos estão à beira de perder suas carreiras.
A formação de jogadores no Brasil, no geral, ainda é um mercado cheio de vícios, poucas oportunidades, falta de estrutura e descaso com os atletas. Um dos últimos casos que provam isso é o incêndio ocorrido há cerca de 2 anos no CT de base do Flamengo, o time mais rico do país atualmente. Até os dias de hoje há processos e brigas judiciais entre os pais das vítimas do incêndio e o clube, que não honrou ainda com as indenizações determinadas pela justiça. Empresários cercam o Flamengo, colocando princípios capitalistas na gestão de um dos clubes mais populares do país.
A pandemia suspendeu todas as atividades das categorias de base do futebol brasileiro. Isso inclui não só a suspensão dos treinos e atividades de formação, mas também o cancelamento de um calendário de até 60 jogos no ano. Os acontecimentos ocasionaram uma série de outros problemas urgentes a serem tratados.
Um dos problemas é a preocupação de jogadores que estão na última fase de formação, que termina com 20 anos, no sub-20. O futebol parou, mas o tempo continua correndo e os jovens jogadores têm cada vez menos tempo para mostrar que merecem uma chance no profissional. Isso significa a perda do sonho de ser jogador de vários meninos e meninas que poderiam vir a ser novos craques brasileiros.
Outro aspecto importante da questão é que os clubes estão mandando os jovens para suas famílias, alegando não ter condições de sustenta-los no clube. Isso, à princípio, é uma contradição, visto que os clubes pagam altos salários aos jogadores, além de terem o compromisso de arcar com os atletas que não estão ali só como promessas do futebol, mas como funcionários do clube. A situação vai ficando mais precária entre os clubes de menor expressão. Maioria esmagadora não recebe salário e a volta para casa já é um problema para muitas famílias, necessitadas com a crise sanitária causada pela pandemia.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tem ignorado toda a situação fingindo que o problema desses jovens jogadores não é de sua responsabilidade. A CBF é uma instituição intimamente ligada à venda dos clubes para os empresas que querem ser donas do nosso futebol.
Com justificativa de modernização, a confederação ignora os reais problemas do futebol brasileiro: ignora a necessidade de regulamentação trabalhista de jovens atletas, expulsão das torcidas organizadas (que são a alegria dos estádios), elevação dos preços do ingressos, criação de um calendário de jogos prejudicial para os jogadores, jogos que acabam de madrugada (horários horríveis para os trabalhadores irem aos estádios com suas famílias). Ou até alocar um jogo da rodada numa segunda-feira, só para que a Globo faça o ‘Bem amigos’, programa detestável com Galvão Bueno, um golpista de carteirinha.
Não é de hoje que jogadores das categorias de base enfrentam dificuldades absurdas para serem profissionais. Será que o VAR é prioridade para o futebol quando temos adolescentes passando por situações precárias de moradia para realizarem um sonho que muitas vezes não se concretiza? Quantos craques você conhece que só precisariam de uma chance? Se somos pentacampeões do mundo nessa situação, imagina se cuidássemos dos nossos craques…
É preciso denunciar a CBF que, diante da situação, faz um serviço de capacho dos grandes empresários da direita. Ou seja, estão pouco se lixando para a situação das categorias de base do futebol brasileiro.