Dentre as iniciativas que um determinado setor da burguesia busca viabilizar para encontrar uma candidatura competitiva capaz de se opor tanto ao bolsonarismo quanto ao lulismo, uma delas – talvez a mais importante e inclusive definitiva – é a Comissão Parlamentar de Inquérito, a denominada CPI da Covid, em funcionamento há cerca de um mês, sem que nada de concreto ainda tenha acontecido. A não ser algumas audiências com representantes oficiais do governo Bolsonaro, que ali comparecem para desfilar um rosário de mentiras e falsificações, diante de senadores que, impassíveis, muito pouco fazem para rechaçar as inverdades dos funcionários bolsonaristas.
No entanto, o tempo urge, e os setores burgueses que a princípio não têm como intenção hipotecar apoio a um segundo mandato para o ex-capitão do Exército, parecem não desejar ir muito longe na espera pelo surgimento de uma terceira via. A CPI foi instalada com esse propósito, mas pelo andar da carruagem, há poucos indícios de que cumprirá o objetivo maior para a qual foi criada.
Embora não seja possível identificar com exatidão o momento em que a burguesia sairá a campo para definir sua via eleitoral, depois de malogradas as iniciativas atualmente em curso – como a própria CPI -, um fato está fora de cogitação, qual seja o apoio da burguesia à candidatura do ex-presidente Lula, em oposição ao bolsonarismo criminoso e genocida.
Muitos setores da esquerda nacional, dentro e fora do PT, alimentam a vã ilusão – absurda e despropositada – de que, chegada a hora, o bolsonarismo será abandonado pela burguesia, se engatando ao vagão petista. Trata-se, no entanto, de uma avaliação completamente alheia à realidade. Não só Bolsonaro não está ferido de morte, derrotado, como muitos querem fazer crer, como há ainda toda uma situação à frente que permite a recuperação da sua popularidade, hoje em alguma medida abalada pela entrada em cena do ex-presidente Lula, somada aos desmandos do presidente fascista em relação à condução da pandemia, do desemprego, da fome e da miséria que toma conta do País. Este cenário, momentaneamente desfavorável ao presidente, é reversível a médio prazo, fazendo com que Bolsonaro volte a se credenciar como candidato competitivo em 2022.
Bolsonaro, neste sentido, ainda é o plano B da burguesia, na medida em que não se esgotaram todas as possibilidades de fazer surgir a chamada terceira via, que é a aposta primeira de setores da direita brasileira descontentes com os rumos desastrosos do bolsonarismo. No entanto, esgotadas todas – ou nem mesmo todas – as possibilidades de uma terceira via, não pode haver dúvida, particularmente por parte da esquerda, de que a burguesia optará por Bolsonaro, na medida em que esta já manifestou sua aversão, sua rejeição à candidatura Lula.
Desta forma, a política de aproximação com setores da direita e da própria burguesia (PSDB, MDB, PSD e outros) é um beco sem saída para a esquerda, em particular para a candidatura do ex-presidente Lula. Neste momento parte da esquerda vem acenando para esses mesmos setores, na expectativa de um apoio, que certamente não virá. Na hora decisiva – e isso a experiência histórica demonstra – a burguesia agirá como classe social, cujos interesses são antagônicos ao dos trabalhadores e das massas populares.