Na última terça-feira (7), o presidente ilegítimo Jair Bolsonaro anunciou um corte de 44% do orçamento do Ministério da Defesa, que é o responsável pelo controle das Forças Armadas. O Ministério da Defesa foi a segunda pasta mais atingida pelos cortes de orçamento, ficando atrás apenas do Ministério da Educação.
O corte no orçamento do Ministério da Defesa em meio a enorme crise política do governo Bolsonaro é a expressão das contradições do regime político golpista. Há um conflito intenso entre a chamada “ala ideológica” do governo Bolsonaro e ala dos militares. A “ala ideológica” reúne os elementos do baixo clero do governo, que são representados, em geral, pela figura do astrólogo Olavo de Carvalho e seus adoradores, dentre eles os filhos de Bolsonaro. A ala dos militares, por sua vez, é a ala profissional do governo, a ala burocrática e com planos mais bem definidos, sendo representada, em geral, pelo vice-presidente ilegítimo Hamilton Mourão.
Por mais que a ala militar seja muito mais poderosa que a “ala ideológica”, Bolsonaro tem feito vários acenos para os seguidores de Olavo de Carvalho. O corte no Ministério da Defesa, por exemplo, é um duro ataque aos interesses da burocracia militar. A defesa de uma invasão militar à Venezuela também é outro aceno de Bolsonaro à “ala ideológica”, visto que as Forças Armadas veem com muita cautela essa questão e o alto escalão do Exército é contra por representar a enorme possibilidade de uma grande crise política e estrutural dentro desse aparelho repressivo.
O apoio de Bolsonaro à “ala ideológica” não é à toa. Bolsonaro não era o candidato preferido da burguesia nas eleições de 2018 e só conseguiu se impor como a única alternativa para a direita porque conseguiu conquistar uma base social – direitista, de classe média e pequena em relação à base social lulista, mas ainda assim muito maior e mais sólida do que a que os partidos tradicionais como o PSDB e o MDB possuem. Os acenos à “ala ideológica”, por mais escatológicos e ridículos que possam parecer, é uma necessidade para que o governo Bolsonaro continue sendo apoiado pela base de extrema-direita que o elegeu.
Uma parte significativa da base social do bolsonarismo vem de elementos das camadas inferiores do Exército, que acreditam que Bolsonaro defende seus interesses (até por ser capitão, ou seja, de um escalão menor). Ao mesmo tempo que se identificam com Bolsonaro, os militares de baixa patente repudiam o general Mourão, que é representante direto da burocracia das Forças Armadas.
Por ser uma marionete do imperialismo norte-americano e tentar atender aos interesses dos grandes monopólios internacionais, Bolsonaro tem priorizado seguir adiante com um plano de total liquidação do patrimônio nacional e de corte de gastos, isto é, a política neoliberal ao pé da letra. Esse tipo de política, no entanto, atinge companhias em que os militares têm algum poder, afetando diretamente os interesses da burocracia militar. O corte no orçamento do Ministério da Defesa, por sua vez, afeta sobremaneira os interesses da burocracia do alto escalão das Forças Armadas.
Esse corte também mostra o enorme nível de confusão e demagogia dos bolsonaristas. Afinal, um dos principais acenos que Bolsonaro vem fazendo à sua base é a constante ameaça de invasão à Venezuela. No entanto, na prática, Bolsonaro se distancia cada vez mais de uma invasão efetiva ao país vizinho, visto que o corte de gastos levará a um maior sucateamento das Forças Armadas.