Já criticamos na semana passada a posição dos sindicalistas dos Correios, de todas as correntes políticas (PT, PCdoB, Psol, PSTU e outros), de terem adiado pela quarta vez apenas esse ano a greve da categoria. O último adiamento ocorreu no dia 17, quando deveria ser aprovada a greve do dia 18. A justificativa absurda foi que a greve colocaria em risco a saúde da categoria por conta da pandemia.
Segundo a lógica dos sindicalistas, para os maais de 100 mil trabalhadores da empresa, ficar em casa de greve seria mais arriscado do que ir trabalhar nos Correios.
O governo Bolsonaro, por meio do presidente da ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), General Floriano Peixoto, preocupado com a possibilidade de uma paralisação das atividades da empresa,, correu no STF para pedir que a atividade fosse considerada “essencial”, ou seja, que fosse proibido parar e por consequência proibido fazer greve.
E assim estão os trabalhadores da ECT desde então. A pandemia se agravou, a campanha da própria esquerda do “fique em casa” ganhou corpo, mas nada de os sindicatos mudarem sua posição e chamar a categoria para a greve. Uma greve que seria, não apenas pelos tantos motivos que já teriam para ser feita – privatização, demissões, ataque ao plano de saúde -, mas agora, necessária para preservar a saúde da categoria.
É bom lembrar que em São Carlos, no interior de São Paulo, um trabalhador já morreu com os sintomas do coronavírus.
Mesmo com tudo isso, os sindicalistas se recusam a chamar a categoria para a greve. Alguns apenas “aconselham” o trabalhador a não trabalhar caso não tenha materiais de segurança no setor e de fato, chegam denúncias de que faltam materiais em muitos locais. Os carteiros continuam na rua, os operadores de triagem e transbordo continuam dentro dos galpões manipulando dezenas de milhares de objetos empoeirados.
Para piorar, a empresa baixou uma norma cortando os adicionais dos trabalhadores que tiveram condições de pedir o afastamento. Essa possibilidade foi dada a companheiros acima dos 60 anos, com filhos que deveriam estar na escola e demais grupos de risco.
Mesmo assim, os que tiveram a possibilidade de se proteger são pressionados a continuar trabalhando. Se não, perderão os adicionais recebidos e o vale transporte. Aqueles que recebiam pelo trabalho de final de semana também ficarão com o salário mais baixo.
É assim que funciona a empresa. O trabalhador tem a “opção” de escolher entre trabalhar e correr o risco de ficar doente ou ir para casa e ter o salário rebaixado.
Vários setores da categoria já começaram a se mobilizar apesar da vacilação dos sindicalistas. Há registros de paralisações e protestos no complexo de Cajamar, em São Paulo, no Distrito Federal e na Bahia.
A situação é insustentável e a categoria deve se mobilizar independentemente da decisão dos sindicalistas. Não dá para aceitar que a vida de mais de 100 mil trabalhadores e seus familiares sejam colocadas em risco para satisfazer aquela camada da sociedade que pode desfrutar do “confinamento”.
Com raríssimas exceções pontuais a atividade dos Correios não é serviço essencial e precisa ser paralisada.